Estudo feito pela 5ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS), com sede em Caxias do Sul, aponta que existem menos leitos que o necessário nos hospitais que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) na Serra. Usando como referência o mês de dezembro de 2018, a diferença entre a quantidade disponível e a necessária, calculada com base em portaria federal, é de 336 vagas a menos. Os 49 municípios abrangidos pelo órgão estadual têm cerca de 1,4 milhão de moradores. Chama atenção especificamente o dado relativo ao atendimento de crianças: enquanto a região tem 65 leitos clínicos pediátricos, o ideal seriam 152. Nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTI) para os pacientes infantis, são 16 vagas enquanto seria preciso 24.
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O levantamento é parte do Plano de Ação da 5ª CRS entregue para avaliação do Ministério da Saúde. A titular da coordenadoria, Solange Sonda, explica que pode haver adequações nestes dados a pedido do governo federal. No entanto, conforme o setor de planejamento da regional, a falta de vagas foi calculada a partir de recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS).
No Hospital Geral de Caxias do Sul, principal referência para atendimento de crianças na região, os meses frios usualmente têm lotação maior na internação.
— A pediatria é muito sazonal. Se olharmos os meses de inverno, que começam em maio, junho até setembro, a ocupação é bem cheia. Quando entra o verão, essa ocupação cai bastante. Eu fico mais preocupado com a UTI Pediátrica. Leito hospitalar falta, mas a gente consegue administrar. A UTI que é o problema, é o paciente grave que precisa de suporte à vida — avalia do diretor do HG, Sandro Junqueira.
Dos nove leitos atuais na UTI Pediátrica, o gestor explica que de dois a três costumam ficar ocupados pelos chamados "pacientes moradores". São crianças com uma situação de saúde tão delicada que não conseguem deixar a unidade, o que reduz ainda mais a disponibilidade de vagas na região. Fora os leitos de UTI Pediátrica do HG, outros sete estão disponíveis para o SUS no Hospital Tacchini, de Bento Gonçalves. A instituição tem nove vagas para tratamento intensivo no total, incluindo a rede privada, com ocupação média de 70%.
Obra parada
A geração de novas vagas para este público na região poderia ocorrer com a ampliação do HG. A obra geraria 118 novos leitos no total, mas não tem perspectiva para ser retomada. Com investimento de R$ 9 milhões já feito, faltam outros R$ 10 milhões para finalizar o prédio. Até agora, 60% da construção está pronta. Faltam, por exemplo, janelas, portas e pintura. A compra de equipamentos está estimada em R$ 19 milhões. Conforme Junqueira, este não chega a ser o maior problema, porque o Ministério da Saúde já acenou com a possibilidade de destinação de recursos. Por outro lado, o governo federal informou ao hospital que não pode ajudar na construção. O investimento dependeria do Estado e do município.
A posição da prefeitura é que o HG precisa apresentar um plano de custeio do serviço. Em entrevista por e-mail, o secretário da Saúde, Júlio César Freitas da Rosa, e a diretora do Departamento de Avaliação, Controle, Regulação e Auditoria, Marguit Meneguzzi, apontam que é preciso ajustar a questão entre os 49 municípios que utilizam a instituição. Defendem ainda que os recursos para a obra sejam pleiteados preferencialmente junto aos governos estadual e federal.
— O plano de custeio com comprometimento de toda região é fundamental. De nada adianta concluir a obra e ter um "elefante branco" de portas fechadas por incapacidade de custeio dos municípios beneficiados.
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A situação complicada das finanças do Estado também deixa pouca perspectiva de obter os recursos por esta via. Conforme Solange Sonda, não planos para investimentos no HG neste momento.
Desistência de UCI Neonatal em Farroupilha
Além da ampliação do Geral, uma obra que chegou a ser inaugurada após reformas em Farroupilha poderia ajudar a amenizar a falta de leitos para crianças com casos graves de saúde. A sala que abrigaria 10 leitos da Unidade de Cuidados Intermediários (UCI) Neonatal no Hospital São Carlos chegou a ser apresentada à comunidade em 2016, mas nunca entrou em operação. No ano passado, a direção decidiu que o investimento não é viável.
Equipamentos comprados para a UCI foram redirecionados para outras áreas e a sala onde ficariam os 10 leitos é utilizada para abrigar aparelhos hospitalares que precisam ser testados. A instituição pretende destinar para outro serviço em saúde, mas ainda não há definição de qual será.
A superintendente Janete Toigo diz que a prioridade é equilibrar a situação financeira do hospital, que enfrenta uma grave crise há anos. Na avaliação dela, não há demanda na cidade pelo serviço que custaria R$ 670 mil por mês apenas para o pagamento de funcionários.
— Para nós, não tem demanda. Quando tem esses casos (de UCI Neonatal), é que nem uma gestante de alto risco, a nossa referência é o Hospital Geral. Então, a gente tem que tratar aquilo que é nossa referência aqui — afirma a gestora.
Hoje, a região conta com leitos de UTI Neonatal em Bento Gonçalves e em Caxias do Sul.