De um dia pro outro, repercussão internacional e milhares de seguidores a mais. O reconhecimento poderia ter se dado pela carreira profissional de sucesso, ou mesmo pelos ensaios fotográficos como modelo, mas foi pela divulgação de vídeos íntimos sem autorização que a caxiense Nadia Freitas Cavallin, 37, vem sendo conhecida por muitas pessoas. Um "dossiê" com três vídeos dela em ato sexual, acompanhados por seu nome, sua conta de Instagram, fotos e até seu número de telefone, está circulando em grupos de WhatsApp. Desde que soube, na tarde de quarta-feira (24), ela deu início a uma série de providências para buscar a punição dos responsáveis, incluindo as pessoas que estão compartilhando em grupos. Pegando o gancho da exposição, Nadia garante que pretende levantar a bandeira do incentivo à denúncia em casos como o dela.
— Em um primeiro momento tive intenção de fechar minhas contas em redes sociais. Eu tenho duas opções: me esconder ou levantar essa bandeira e dar a cara a tapa_ afirma a vítima.
A postura de Nadia, sobretudo com relatos da situação em suas próprias redes sociais, tem o intuito de motivar outras pessoas que passam por isso a buscarem a responsabilização de quem repassa esse tipo de material com o intuito de expor alguém.
— Quero mostrar que não tem que ter vergonha disso, sexo todo mundo faz, vergonha tem que ter quem promove esse tipo de exposição.
Consultora de investimentos, Nadia vive atualmente entre Caxias do Sul e Balneário Camboriú (SC), onde está iniciando novos negócios na área de finanças. Ela também atua como modelo em uma agência e diz que fotos de um ensaio sensual realizado recentemente podem ter sido o estopim para a divulgação dos vídeos, gravados por ela há mais de seis meses.
— Eu cheguei a passar os vídeos adiante para uma ou duas pessoas, mas alguém quis avacalhar e montou esse kit para me expor dessa forma— comenta.
Nadia afirma ainda que entende a responsabilidade que teve no ato de gravar os conteúdos, porém reforça que o compartilhamento de um material íntimo é crime e pode gerar uma série de transtornos na vida das vítimas, chegando ao ponto do suicídio, como alguns casos já repercutidos regionalmente.
— Eu fico triste que essa sociedade machista, patriarcal, ainda nos coloca como vagabundas nesse tipo de situação. Eu prefiro enxergar o copo meio cheio e reforçar que expor é crime. Cada vez que uma menina se esconde e deixa a situação passar ela dá mais força pra que isso continue acontecendo— avalia Nadia, que pretende criar um canal no YouTube para abordar a temática.
Denúncia formalizada
Enquanto registrava ocorrência na Delegacia de Polícia, na tarde de sexta-feira (26), dentro de aproximadamente 45 minutos, Nadia recebeu mais de 30 ligações em seu telefone celular, provenientes de cinco diferentes estados brasileiros e três diferentes países. O número de seguidores no Instagram, que saltou de 1,5 mil para mais de 18,5 mil, também dá uma ideia da repercussão que o caso vem tomando e do nível de exposição ao qual ela está sendo submetida. De acordo com o advogado de defesa, Luís Felipe Burtet, a estimativa com base no retorno (por ligações e seguidores) é que mais de 100 mil pessoas já tenham recebido o material.
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Burtet diz que esperou pela formalização da denúncia junto à DP para que fosse coletado o máximo possível de provas a serem juntadas no inquérito. Com auxílio de amigos e seguidores do Instagram, Nadia conseguiu prints (que reproduzem a imagem da tela do celular) que servirão como prova contra pessoas que compartilharam o conteúdo em grupos de WhatsApp.
— A partir da denúncia, a polícia poderá investigar e buscar mais informações para descobrir de onde partiu o conteúdo. Ainda assim, de acordo com a lei, a transmissão de conteúdo é crime e a pessoa responde da mesma forma, podendo ser penalizada com um a cinco anos de cadeia, inafiançável em caso de flagrante, por exemplo— destaca.
O advogado reforça a gravidade do crime que está previsto desde 2018 na Lei 13.718, especificamente no artigo 218 C, do Código Penal.
—As pessoas não têm noção da gravidade do ato de compartilhar, são situações diárias e tratam-se de crimes mais graves ou equivalentes a um furto, por exemplo, que tem pena de um a quatro anos. Essa prática de compartilhar fotos e vídeos de conteúdo pornográfico pode chegar a mais de oito anos de prisão quando a pessoa tem ou teve algum tipo de relacionamento com a vítima.
A denúncia foi feita com uma indicação de suspeita do possível autor pela distribuição inicial do material, que acabou tendo a própria foto revelada em um dos prints feitos da conta do Instagram de Nadia.