Se existe uma coisa que não entendo nos dias de hoje, é o estigma que há em fazer as coisas sozinho. Não sei se é consequência da "febre social" que vivemos — aquela mesma que nos obriga a estarmos permanentemente conectados e em contato com os outros, seja pessoalmente, seja pelas redes sociais —, mas fazer as coisas desacompanhado tornou-se quase um motivo de vergonha.
Vamos ao shopping, ao cinema, à festa, às compras sozinhos, e pronto: cria-se um espetáculo de olhares especuladores, de semblantes apenados por conta da nossa situação. Sentem pena, como se o (f)ato de estarmos tirando um tempo para nosso próprio bem-estar fosse algo simplório, irrisório, embaraçoso.
Arrisco-me a dizer que a nossa geração não sabe ficar sozinha em nenhum dos sentidos da palavra. E vou além: digo que muitos dos fracassos em relacionamentos se devem a isto, à nossa necessidade de provar, contínua e incansavelmente, que nós temos pessoas. Não é difícil cair na armadilha do medo do que podem pensar. Quando nos damos por conta, nós próprios trocamos olhares com outros "lobos solitários" em lugares supostamente sociais, e nos perguntamos o que eles fazem ali, assim, desacompanhados, e por que não têm alguém.
Não que devamos nos culpar completamente por este comportamento; numa era de estares acompanhados, não ter receio de mostrar os momentos a sós no olho público é um desafio, e não julgar quem tem a capacidade de fazê-lo é uma real prova de ter compreendido como o ser humano funciona.
Nascemos sozinhos. Morremos sozinhos. Qual o problema de desfrutarmos de alguns momentos sozinhos no caminho? E outra: levamos os outros passearem com tanta frequência, mas esquecemos de levar a nós mesmos.
Então fica o meu conselho: leve-se passear — não importa o que podem pensar!
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