Muitos preferem desviar, mas a Rua Borges de Medeiros ainda é uma das principais vias que ligam o Centro de Caxias do Sul a bairros com o Primeiro de Maio, Madureira e Jardim América. A movimentação de usuários de drogas, predominantemente à noite, mas também sob a luz do dia, assusta pedestres e motoristas que trafegam no trecho próximo ao Parque Municipal Mato Sartori.
A situação concentra-se na inclinação de aproximadamente 150 metros, de mão dupla, da Rua Heitor Curra — onde começa a Borges — até o entroncamento com a Rua São José. Além do medo de assaltos, os moradores próximos e pessoas que passam pelo local convivem com a sujeira gerada pelo descarte de embalagens e roupas.
— De uns cinco anos pra cá eles tomaram conta. A situação é precária mesmo, tem tudo que é tipo de gente e são sempre os mesmos. Eles vendem e usam drogas, de noite chega a juntar mais de 50 — relata Otacílio Nicolau de Oliveira.
Aos 70 anos, o aposentado conta que foi um dos fundadores do bairro Primeiro de Maio e que frequentemente passa a pé pelo trecho da Borges para ir à padaria ou acessar outros locais do centro.
Enquanto conversava com a reportagem, três motocicletas da Brigada Militar foram até o trecho e os policiais chegaram a abordar alguns homens que estavam no local. O morador informou que ações da polícia são comuns no local, porém não resolvem efetivamente o problema.
— É perigoso, esses dias estavam atacando mulheres e idosos para roubar. Além disso, eles trazem lixo e largam tudo pela calçada, não adianta os moradores capricharem na entrada dos bairros — lamenta.
O medo de passar pelo trecho é evidente, muitos carros que passam pelo local acabam optando por desviar pela Rua São José para a Marquês do Herval. A pé, o desvio fica menos prático, o que faz com que Giovana Moraes Silva, 23, acabe passando pelo trecho crítico para sair ou voltar para sua casa no bairro Primeiro de Maio.
— Alguns já conhecem e não nos atacam, mas eu fico com medo — afirma a doméstica.
Empresas da redondeza também sentem os reflexos da consolidação do ponto como um espaço de consumo e venda de drogas.
— Quando precisamos passar para buscar ou levar cachorros, sempre vai mais alguém junto porque é muito inseguro — relata Érica Paloschi, 17 anos, funcionária de um pet shop da Borges que fica a menos de 100 metros do trecho.
Ela conta que é comum usuários pedirem esmola na loja e que também já foram registrados pequenos furtos, o que fez com que a loja, instalada há cerca de dez anos na região, reforçasse a segurança nos últimos dois meses.
O QUE DIZ A PREFEITURA
Por meio de nota, a Prefeitura de Caxias do Sul afirmou que está providenciando uma notificação ao proprietário do terreno particular localizado no trecho, alegando que, neste caso, a Codeca não é responsável pela limpeza do passeio público, mas sim o proprietário.
Pela assessoria de comunicação, o Serviço Especializado de Abordagem Social (SEAS), da Fundação de Assistência Social (FAS), informou que monitora o local e realiza atendimentos às pessoas em situação de rua quando a equipe é bem-vinda. "Como há grande rotatividade de pessoas no local, muitas delas utilizam o espaço para consumo de drogas, ou seja, nem todos são pessoas em situação de rua. O trabalho do SEAS consiste em uma atuação socioeducativa no espaço da rua a partir do desejo do usuário do serviço", destacou.