Vamos supor que você é um homem de classe média. Casado há 6 meses, se muda para um novo apartamento. Certa noite, depois de sua mulher voltar do trabalho, você a abraça, acaricia as mãos dela e percebe: onde está a aliança que era pra estar aqui?
Sua mulher, meio constrangida, conta que um pneu do carro furou no caminho e, durante o procedimento da troca (ela se recusou a incomodá-lo com essa demanda), os dedos ficaram sujos de óleo, a aliança escorregou dedo afora, picou duas vezes sobre o asfalto e rumou para o interior de um bueiro. Você se lembra de ter lido essa história numa crônica do Verissimo, mas não diz nada. Você a ama, estão praticamente ainda na lua de mel, e a confiança não será arranhada por uma chatice dessas.
Chatice mesmo é quando, na manhã seguinte, durante suas abluções no banheiro, você percebe uma grande mancha de umidade marrom no forro de gesso. Há um vazamento vindo de cima. Você sobe, toca a campainha do apartamento do vizinho e explica a situação. Mostra a mancha no forro. Vocês concordam: é preciso chamar um encanador, e quando ele chega diz que precisa quebrar o forro do seu banheiro para verificar o encanamento.
Ali está o problema. Na saída da privada do vizinho. O encanador retira o joelho de PVC danificado. Surpresa: dentro do balde que recebe os resquícios de água e excrementos, a inconfundível aliança da sua mulher.
Por qual lógica hidrostática esse símbolo do amor entre vocês, engolido por um bueiro há quilômetros dali, surgiria na privada do vizinho?
A verdade vem à tona. Sua mulher frequentava o banheiro do cara e, num descuido passional, antes de um banho conjunto, colocou a aliança sobre o tampo da pia, mas um amasso inadvertido fez a argolinha cair na privada.
Isso prova que vazamentos em privadas podem revelar verdades desagradáveis. Vazamentos em conversas privadas também.
E que sempre haverá quem bote a culpa no encanador.