Há cerca de um ano, o caminhoneiro Paulo Francisco Kervalt Nunes, 48 anos, decidiu largar a boleia e, ao lado da esposa e do filho, se mudar de Caxias do Sul, onde morava, para São Vendelino. A ideia era abrir um restaurante às margens da ERS-122, próximo ao entroncamento da rodovia com a ERS-446, no pé da Serra. O estabelecimento virou realidade, mas há cerca de dois meses as refeições deixaram de ser o único ramo de atuação da família.
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Situado em um trecho com diversas crateras, o restaurante passou a receber motoristas cujos carros tiveram pneu furado ou mesmo pedidos de ajuda para o conserto de carros parados na rodovia. Os auxílios acabaram virando negócio: Nunes decidiu abrir uma borracharia no porão do imóvel onde funciona o restaurante.
— Acabamos percebendo que daria para começar a trabalhar rápido, até para ajudar as pessoas. E como o restaurante está meio devagar, tentamos conciliar uma coisa com a outra — revela.
Trocar pneus não chega a ser novidade para Nunes. A família dele mantém uma borracharia em São Francisco de Paula, cidade onde o caminhoneiro nasceu. Justamente por isso, ele já tinha todas as ferramentas necessárias para dar início ao trabalho. E nos dois meses em que a borracharia está em funcionamento, a média diária de pneus trocados chega a 15, com maior procura à noite. E o negócio só não foi ampliado porque Nunes não obteve autorização para construir um galpão ao lado do restaurante.
Mais buracos, menos clientes
Enquanto os buracos das estradas trazem oportunidade para alguns, há também quem amargue prejuízos. É o caso de Jacó Juarez Gauger, 54 anos. O restaurante que mantém às margens da ERS-446, na área urbana de São Vendelino, viu o movimento despencar nas noites de sábado, quando serve rodízio de bifes e filés. A explicação dos clientes, cuja maioria é de cidades da Serra, é que eles não vão colocar os carros nas estradas enquanto as crateras dominarem.
— O normal no sábado à noite é servir 100, 120 até 130 pessoas. Nos últimos três fins de semana não recebemos 80 pessoas. A gente nem faz o cálculo do prejuízo para não se estressar — relata.
Para reduzir as perdas, no último sábado (1), Gauger dispensou três garçons que prestam serviços aos fins de semana para o restaurante. Em dias de movimento normal, trabalham no estabelecimento de oito a 10 pessoas, sendo quatro da família do empresário.
Embora nos horários de almoço o impacto não tenha sido tão grande, Gauger diz que vai manter o atendimento noturno aos sábados para a clientela do Vale do Caí. Enquanto isso, aguarda por uma melhoria na estrada que possa levar os moradores da Serra de volta ao restaurante.
— Já teve impacto em outros momentos, mas nunca tão grande. E quando a estrada melhora o pessoal volta. Em 10 anos nunca tivemos uma queda no fim de semana como nesses três últimos, mas em 10 anos as estradas também nunca estiveram tão ruins — observa o empresário.