Uma audiência pública na tarde desta terça-feira está propondo uma discussão sobre a qualidade da água que os caxienses estão bebendo. O encontro foi uma provocação da vereadora Gladis Frizzo (MDB) à Comissão de Saúde e Meio Ambiente do Legislativo e tem foco na quantidade de agrotóxicos que são ingeridos por meio da água que chega às torneiras e que efeitos eles podem ter no organismo das pessoas que a consomem.
– Que água é esta que estamos bebendo? Temos avaliações diferentes de órgãos diferentes que convidamos para a audiência para esclarecer isso e queremos ouvir a população – disse a parlamentar.
Um mapa elaborado a partir de investigação da Repórter Brasil, Public Eye e Agência Pública apontou 27 agrotóxicos presentes em amostras da água que abastece Caxias testadas entre 9 de abril de 2014 e 30 de outubro de 2017. Deste total, segundo a reportagem publicada em abril deste ano, 11 são associados a doenças crônicas como câncer, defeitos congênitos e distúrbios endócrinos. Ainda conforme a reportagem, os dados utilizados são do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua) do Ministério da Saúde e obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação em abril de 2018.
O material divulgado traz, além do número de agrotóxicos na água por cidade, a concentração dessas substâncias, que é medida em microgramas por litro. Nenhum dos agrotóxicos encontrados no período analisado foi detectado acima dos limites brasileiros.
O Serviço Municipal de Água e Esgoto (Samae) faz a captação, tratamento e distribuição da água para cerca de 495 mil moradores de Caxias, de um total de 504 mil habitantes, considerando áreas urbana e rural. Segundo o gerente de tratamento de água do Samae, engenheiro ambiental Tiago Marcon, as análises são feitas na água que já passou pelo tratamento e será distribuída à população. Esse trabalho é feito por laboratório contratado que, em função de adequação em procedimentos, chegou a reavaliar os laudos no período e emitiu uma nota atestando que os agrotóxicos foram considerados como não detectados.
Ainda conforme Marcon, o nível de preservação das bacias de captação é fator determinante no método de tratamento utilizado pelo Samae, que é de uso de carvão ativado. O carvão possibilita a purificação da água, nesse caso, pela absorção dos agrotóxicos, que ficam no lodo, liberando apenas a água potável.
Foram convidados para a audiência pública, que ocorre às 18h, no plenári0, além do Samae, representantes das secretarias municipais de Meio Ambiente (Semma), da Saúde e da Agricultura e de órgãos estaduais, como a 5ª Coordenadoria Regional de Saúde. Também foram convidados Conselho Regional de Medicina, Sindicato Rural e dos Trabalhadores Rurais do município, Instituto de Saneamento Ambiental, Emater regional e municipal, Vigiágua e comitês Taquari Antas e de gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Rio Cai, entre outras instituições. Dois representantes do Vigiágua farão explanação, que terá como debatedora, a professora da Universidade de Caxias do Sul, Vania Elisabete Schneider.
Entre agrotóxicos apontados estão alguns proibidos há anos
De acordo com o engenheiro agrônomo João Villa, do escritório regional da Emater, mais da metade (14) dos 27 agrotóxicos apontados pela pesquisa estão em desuso por terem sido proibidos há anos. Um deles, o Aldrin, foi utilizado entre as décadas de 1950 e 1970 e, depois, banido.
– Eles são tão persistentes que foram usados, um por exemplo, lá na década de 70 (1970) e ainda tem contaminação, mas é daquela época – explica Villa, referindo ao produto que ficou no solo e levado aos cursos d'água pela chuva.
Os outros 12 que aparecem na lista são herbicidas, fungicidas e inseticidas, usados, de forma geral, em culturas como grãos, frutas e hortaliças (leia mais no quadro). Um deles não tem registro para uso agrícola, o Lindano. O controle existente ocorre no tipo e na quantidade de produto que pode ser adquirido pelo agricultor, que para comprar precisa de um receituário de agrônomo. Na venda, a fiscalização recai sobre os produtos permitidos para comercialização pelos estabelecimentos. Em ambos os casos cabe à Secretaria de Agricultura fiscalizar. O que não impede a importação ilegal e uso de produtos proibidos. Na propriedade, o uso é de responsabilidade do agricultor. A Emater orienta sobre a aplicação e o manejo e conservação do solo e água, os produtores que tiverem interesse. Na etapa de consumo, Anvisa e Ceasa fazem as análises e medições de agrotóxicos nos produtos finais.
– Tem o limite mínimo de cada um que é considerado seguro, mas não tem estudos sobre a junção de todos esses, o que acontece. Também não sabemos se foram encontrados vários em uma mesma amostra... cada um um tem um efeito diferente. Vários são cancerígenos – pondera o engenheiro agrônomo.