A violência sofrida por professores e funcionários de escolas da rede estadual de Caxias do Sul e municípios vizinhos persiste neste ano, mas com redução no número de ocorrências. É o que aponta levantamento feito pela 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE). Se em 2018 haviam sido registrados 10 casos de violência física no conjunto de 120 escolas em 14 municípios da área da CRE até esta altura do ano, em 2019 foram dois. Já dos casos de violência verbal — que não são somente casos de indisciplina, mas situações que envolvem ofensas com palavras de baixo calão — foram feitos 113 registros até o início de maio de 2018, contra apenas 12 ocorrências em 2019.
Esses dados são os registrados no programa de Comissões Internas de Prevenção de Acidentes e Violência Escolar (Cipave). Marivane Carvalho, coordenadora da Cipave na 4ª CRE, atribui o resultado a ações preventivas realizadas nos últimos anos.
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Ela avalia que a violência no ambiente escolar traduz um contexto mais amplo em que a escola está inserida. Marivane explica que cada instituição de ensino pode desenvolver atividades de prevenção de acordo com a sua realidade, e contar com parceiros. Dentre esses, estão a Brigada Militar, Guarda Municipal, Escola Pública de Trânsito, Justiça Restaurativa, Câmara de Vereadores e organizações não-governamentais — como, por exemplo, o Centro de Valorização da Vida e o Instituto de Psicologia, Luto, Separação e Perdas (Luspe), que trabalha na prevenção de situações como auto-mutilação.
— O médico não vai dar um remédio sem fazer um diagnóstico. Então, primeiro, se olha a escola para ver qual a necessidade da escola. Então, a escola monta um projeto de acordo com a necessidade dela. E, a partir daí, ela pode contar com parceiros. As atividades podem envolver palestras, atividades de campo, um diálogo em círculos, enfim. São variadas as possibilidades de se trabalhar a prevenção — comenta.
Sem citar o nome da escola, a coordenadora do Cipave na CRE afirma que foi possível reduzir 85% dos frequentes casos de indisciplina em uma escola da rede estadual com o trabalho de prevenção, que contou com círculos de paz e palestras preventivas sobre respeito e valores.
— A escola, quando investe nisso, tem um resultado muito positivo. Mas mudança de hábito e cultura não acontece da noite para o dia. É preciso estar focado. Mas existe redução sim. Em um ano, é possível perceber isso — sustenta.
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O ano de 2018 terminou com 20 casos de violência física e 246 de violência verbal. Em situações mais graves, o professor ou funcionário da escola é orientado a registrar boletim de ocorrência, e há casos que eventualmente necessitam de um trabalho na rede de assistência social.
Segundo Marivane, não há psicólogo na 4ª CRE para atender os professores ou funcionários vítimas, mas uma das abordagens utilizadas pela Coordenadoria são os círculos de paz.
— Nós vamos atender esses casos in loco. Então, geralmente se faz a abordagem da Justiça Restaurativa; nós vamos conversar com as pessoas envolvidas e vamos poder fazer o encaminhamento para círculos, talvez. A maioria dos casos é resolvida pela própria escola, que consegue gerenciar a situação conversando com o aluno, família e professores. Nos casos que chegam na Coordenadoria, que são em quantidade mínima, é que vamos ter esse procedimento — relata.
Outro problema com o qual as escolas estaduais se deparam é o tráfico de drogas, que Marivane afirma que continua a ter registros em 2019. Já em relação a armas na escola, não há nenhum episódio com arma de fogo, mas sim alguns registros de estudantes com facas.
Nenhuma das situações com arma na escola na área da 4ª CRE, no entanto, teve relação com o ataque em Suzano. Conforme a coordenadora da Cipave, o que houve foram boatos, que causaram angústia em comunidades escolares.
A orientação, nestes casos, é não espalhar os boatos, mas comunicar alguma informação ou postagem que esteja sendo compartilhada diretamente ao diretor ou diretora, para as providências necessárias.
— Essa situação não pode ser encarada como brincadeira. Não é uma brincadeira que se faça, colocar na rede. Mas a Polícia Civil está sempre alerta e tem atendido bem todos os casos, rapidamente. Não aconteceram muitos casos, foram poucos. Mas gera um transtorno muito grande. Até entender que a situação está sob controle, gera medo de ir à escola ou de levar o filho à escola — observa Marivane.