Moradores de Caxias do Sul foram os que mais aplicaram dinheiro na InDeal, empresa com sede em Novo Hamburgo e investigada pela Polícia Federal (PF) e Receita Federal por suspeita de fraude em supostos investimentos de criptomoedas.
Segundo a PF, a cidade serrana lidera o ranking estadual em valores injetados num fundo que prometia rendimentos de 9% a 15% ao mês. Contudo, a aplicação em criptomoedas não ocorria e o dinheiro estaria sendo usado para sustentar uma pirâmide financeira, segundo a investigação. A empresa não tem autorização do Banco Central para fazer esse tipo de transação.
Das 288 cidades gaúchas com investidores da InDeal, Caxias aparece com R$ 128 milhões aplicados na conta da empresa, seguida por Porto Alegre, com R$ 77 milhões e, Novo Hamburgo, com R$ 61 milhões. O dinheiro está retido por ordem da Justiça. Ou seja, os clientes não podem fazer o resgate dos valores até nova determinação.
De acordo com levantamentos da Receita, uma das contas da InDeal teria recebido créditos de mais de R$ 700 milhões entre agosto de 2018 e fevereiro deste ano. Os números são maiores atualmente, segundo Celso Tres, procurador da República em Novo Hamburgo.
— Os créditos movimentados já passavam de R$ 800 milhões. Caxias é a cidade que responde pela maior parte desse valor. Somente uma pessoa da cidade investiu R$ 10 milhões — ressalta Tres.
Apesar da grande participação de caxienses nos investimentos, Caxias do Sul não foi alvo da operação realizada nesta terça-feira, quando foram cumpridos 10 mandados de prisão preventiva e 25 de busca e apreensão em cinco cidades gaúchas, além de Santa Catarina e São Paulo. Segundo Tres, o objetivo principal é investigar os sócios da empresa.
— Caxias pode ter sido a cidade com mais investimentos, mas não tem muitos elementos de investigação no momento — explica o procurador.
A ação, porém, teve reflexos imediatos não só na cidade como em diversos municípios da Serra, pois a InDeal mantém três escritórios de representantes na região para captar clientes para o fundo — duas unidades atendem no bairro Exposição e outra no loteamento Sanvitto. Muita gente procurou os representantes nesta manhã para tirar dúvidas. A empresa não divulga quantos clientes tem em Caxias.
Celso Tres diz que os valores das contas da empresa estão bloqueados assim como os bens adquiridos pelos donos. Na prática, os clientes não estão tendo acesso ao dinheiro investido. O procurador afirma que algumas pessoas realmente tiveram rendimentos, mas há pessoas que já apontaram que sofreram prejuízo.
As suspeitas envolvendo a InDeal vieram à tona no início deste ano. O inquérito foi instaurado em janeiro para investigar a atuação da empresa, que captava recursos de terceiros para investimento no mercado de criptomoedas. Conforme a PF, a InDeal assumia o compromisso de pagar rendimentos mensais de pelo menos 15%, percentual que diminuiu para 9% recentemente. Contudo, os sócios da empresa tiveram acréscimo de patrimônio pessoal rapidamente. Conforme as investigações, os diretores usavam o dinheiro dos investidores para comprar carros de luxo, imóveis, fazenda e outros bens.
Segundo Tres, com as denúncias no início do ano, diversos clientes fizeram movimentação para resgatar valores e receberam os rendimentos prometidos, mas o desligamento não abalou o negócio
— Isso deu credibilidade para a empresa, mas a grande maioria permaneceu com o dinheiro investido. Quem resgatou grandes valores anteriormente talvez seja alvo de uma ação civil — alerta o procurador.