Caxias do Sul, a cidade do trabalho que persiste em jornadas de três turnos para dar conta de produzir 24h, amanheceu pacata na manhã de desta quarta-feira (1º de maio). As ruas vazias, os poucos carros a transitar e um tímido movimento no comércio justifica-se por conta do feriado que mais impacta a economia, o Dia do Trabalho.
É o feriado com maior adesão de todos os setores, indústria, serviços e comércio e tem sua origem em sucessivas greves na cidade de Chicago, nos Estados Unidos, iniciada em 1º de maio de 1886. No Brasil, é feriado nacional desde 1925, através do canetaço do presidente Artur Bernardes.
Engana-se, no entanto, quem achou que nada funcionou em Caxias durante o feriado. Além dos serviços de utilidade pública, bem como polícia, hospitais e bombeiros, muitos comerciantes e trabalhadores autônomos resolveram aproveitar o feriado para faturar. Ou de que outro jeito se poderia pintar a fachada de uma grande loja de departamentos, como a Deltasul. Desde cedinho da manhã, uma equipe de pintura fazia o serviço de revitalização na fachada da loja, na rua Sinimbu, através de um elevador móvel hidráulico.
— Se não aproveitarmos o feriado não tem como pintar — justifica o pedreiro Leandro Paz de Medina, 26, que também estava colocando grades na vitrine.
Ainda pela manhã, quem se beneficiou de abrir as portas no Dia do Trabalho, foi o comerciante Luciano Rizadori, que mantém com a família a fruteira localizada na Avenida Júlio de Castilhos há mais de 30 anos.
— Nem todos os nossos clientes esperavam que fôssemos abrir, até porque nos últimos anos fechamos no Dia do Trabalho. Mas sabe que eu tive um bom movimento mais cedo? Agora a tarde caiu um pouco — resigna-se Rizadori, 47.
Na metade da tarde de ontem, o movimento no centro aumentou, principalmente nas ruas adjacentes à Praça Dante Alighieri. Um dos muitos a comemorar o movimento era o guri do churros, na banca Big Bom, na esquina das rua Visconde de Pelotas com a avenida Júlio.
— Nos domingos e feriados, o movimento aumenta sempre por volta das 15h — ensina Samuel Rosa, 26, cuja banca de churros e crepes a família mantém desde que ele nasceu.
Rosa vai se formar em Economia em 2020, na Unisul, em Santa Catarina, e aproveitou o feriado e o término de um trabalho de assessoria para ganhar um troco a mais em Caxias, a terra do trabalho.
Com a mesma motivação de Samuel Rosa, estava o vendedor de rosas, Vanderlei Tiago de Oliveira. Há cinco anos atuando no ramo das flores, revela que desde os seis anos já vendia pipoca e algodão doce, ajudando os pais em feiras e parques.
— É difícil achar alguém que já saia de casa com interesse em comprar uma rosa. Então aí que aparece o meu trabalho. E eu tenho de estar muito bem internamente, porque falo de amor e sentimento para as pessoas — argumenta Oliveira, 32.
Com sorriso no rosto e cumprimentando os casais que passavam por ele, Oliveira dá uma importante lição nesse Dia do Trabalho:
— Todo dia é um bom dia. Tudo depende da gente. Quem tem vontade e trabalha, ganha dinheiro todos os dias.
Quem sabe dessa lição é o povo da Farmácia Central, uma das mais tradicionais de Caxias. Há 36 anos no mercado, a empresa segue a todo vapor em três turnos, incluindo o plantão entre às 23h30min às 7h.
— Só tem um feriado que não abrimos, que é o dia 1º de janeiro — explica Joisce Comin, 45, balconista da farmácia há 31 anos.
Na contramão de muitos que se arrepiam só de pensar em trabalhar em feriados, Joisce pondera.
— Eu já me acostumei e se eu não viesse trabalhar até acharia estranho.
E assim foi mais um dia na cidade do trabalho, em que feriado é só mais um dia como qualquer outro. Ou, parafraseando em tom de paródia o poeta Fernando Pessoa, que escreveu "navegar é preciso", fosse ele um poeta caxiense do trabalho, teria cunhado "lucrar é preciso".
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