Dizem que "brasileiro adora uma fila" mas, muitas vezes, elas são necessárias para a garantia do acesso a determinados serviços, principalmente quando estes têm um número limitado de senhas distribuídas.
Em Caxias do Sul não é diferente. Alguns lugares registram filas maiores e recorrentes, que se forma ainda antes da espera formalizada com a distribuição das fichas. Fomos em três destes locais para descobrir porque elas são tão grandes e o que pode ser feito para minimizar o tempo e o incômodo da espera.
Atendimento no CES
A primeira fila que acompanhamos foi a do Centro Especializado de Saúde (CES), que fica na Rua Sinimbu, 2231, no Centro, próximo à Praça da Bandeira. O movimento começa às 5h, ao longo do dia, mais de 800 pessoas passam pelo local pra acessar serviços de consulta médica especializada, da rede pública de saúde. No CES também funcionam ambulatórios e alguns outros serviços municipais, incluindo as farmácias Básica, Especializada e do Componente Estratégico.
O atendimento da Farmácia Básica é um dos primeiros a abrir — às 7h. Para garantir uma senha, os usuários chegam pelo menos duas horas antes.
— Uma vez cheguei às 7h e peguei a ficha de número 60, dentro do atendimento preferencial — relata Orlanda Santos Schwantes, 64 anos, que na última quarta-feira, madrugou e conseguiu a segunda colocação na fila.
A moradora do bairro Cruzeiro diz que começou a ir mais cedo para garantir a retirada dos medicamentos contínuos para tireoide e artrite.
Na frente dela, a dona de casa Claudia Costa Soares, 50, também aguardava o início da distribuição de senhas da farmácia pública.
— A fila é demorada, se a gente não vem cedo, acaba saindo muito tarde. Cansei de pegar filas que faziam caracol aqui na frente — relata a usuária, que retira mensalmente medicamentos para ela e para o filho que é portador de necessidades especiais.
Moradora do Campos da Serra, ela sai cedo de casa pois leva cerca de 1h para chegar ao centro da cidade, pegando dois ônibus.
Para cada retirada, ela precisa do atestado médico atualizado, o que significa outra fila, no posto de saúde.
— Preciso madrugar pra chegar no postinho às 5h, fazer a consulta só pra pegar a receita e depois vir até aqui.
:: O QUE DIZ O CES
A espera, que antes acontecia na Rua Sinimbu, foi recentemente acolhida no interior do prédio. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), as portas do prédio abrem às 7h, porém, conforme verificado pela reportagem, pelo menos 20 minutos antes, um espaço de espera já encontrava-se aberto para que os pacientes não aguardassem no frio.
A pasta informou ainda que o horário de atendimento da Farmácia Básica foi ampliado em duas horas, a partir deste mês, também visando minimizar os impactos da fila. Segundo a secretaria, a aglomeração maior ocorre até que inicie o atendimento ao público, depois o movimento se dispersa entre os diferentes serviços dentro do prédio. Na manhã de quarta-feira, cerca de 50 pessoas se concentravam no local antes do início da distribuição das fichas, que variam de acordo com o atendimento procurado.
SERVIÇO
CES: das 7h às 18h30min com diferentes horários de atendimento ao público.
Farmácia Básica: das 7h às 17h30min. A distribuição de senhas ocorre até às 16h30min, podendo ser estendido até as 18h caso não sejam atendidos todos os pacientes.
Onde: Rua Sinimbu, 2231, no Centro, próximo à Praça da Bandeira
No frio pela carteira de identidade
Outro local verificado foi o Posto de Identificação do Instituto Geral de Perícias (IGP), localizado na Júlio em São Pelegrino. O serviço de confecção de primeira e segunda via da carteira de identidade, além de atestado de antecedentes criminais para imigrantes, também conta com a formação de filas antes do início do atendimento, que ocorre às 8h. E o pior, as pessoas ficam na calçada e acabam atrapalhando o trânsito dos pedestres.
— Acho uma falta de respeito — declarou a moradora do bairro Cruzeiro, Ivani de Souza, 46 anos, que ocupava uma das primeiras posições na fila de espera. Ela aguardava para atualizar a carteira de identidade exigida pela empresa de seguros na qual acaba de ser admitida. Para garantir o atendimento rápido, ela saiu de casa às 5h30min, chegando ao local antes das 6h.
Lúcia Nunes, 37, e seu filho João Henrique Santos, 16, foram os primeiros do dia. Desde às 5h25min eles estavam posicionados em frente à porta do Posto de Identificação. Eles estavam no local para atualização do nome de solteira para casada dela e correção no documento dele.
— Tem uma letra errada no nome do pai dele e vamos ter que pagar de novo pra corrigir — conta Lúcia. Sobre a declaração, a assessoria do posto de identificação esclarece que, em caso de erro de grafia em um nome na emissão da Carteira de Identidade, a segunda via é gratuita, desde que solicitada em até 90 dias depois do recebimento — o que a assessoria acredita ter sido o caso.
Lúcia relata que por conta do erro na impressão, o documento não foi aceito no Sine, onde o filho buscava a confecção da carteira de trabalho.
— Aguardamos de 9 de março até 23 de abril para sermos atendidos no Sine e ele não conseguiu a carteira. Agora temos que esperar aqui pra resolver isso.
Quando a reportagem esteve no local, faltando ainda 30 minutos pra abertura do serviço, 48 pessoas já estavam do lado de fora, aguardando. Algumas pessoas reclamaram da espera no frio de 13°C que era registrado.
:: O QUE DIZ O ÓRGÃO
A chefe da seção de identificação do posto de Caxias do Sul, Ana Júlia Poletto destaca a possibilidade de agendamento pela internet que exige uma certa organização, mas não gera reclamações.
— As pessoas normalmente procuram para ontem, é uma questão cultural — comenta a responsável.
Ela informa que as senhas para atendimento presencial demoram para esgotar e geralmente ainda encontram-se disponíveis até o início da tarde. O ideal, segundo ela, é não deixar para a última hora.
Ana Júlia relata que, por serem estagiários, os atendentes possuem horário reduzido e antecipação do horário pela manhã, acabaria prejudicando o atendimento à tarde, que ficaria menor. Ainda segundo ela, o ideal é que as seis cabines funcionem juntas, e não em escalas, para eficiência do atendimento ao público. Por dia, o posto atende entre 100 e 200 pessoas. O número aumenta para 300 em meses como dezembro, janeiro, fevereiro e julho.
SERVIÇO
Posto de Identificação: segunda à sexta, das 8h às 17h, com distribuição diária de 100 fichas para atendimento. Paralelamente, em uma das seis cabines, ocorre o atendimento do público agendado previamente pela internet. Com contrato de seis horas, os estagiários atendem até às 14h, podendo ainda ser realizado agendamento de forma presencial até às 16h30min.
Agendamento: o agendamento eletrônico tem disponibilidade somente para o mês de julho e pode ser feito no site.
Onde: Avenida Júlio de Castilhos, 2555, no bairro São Pelegrino.
No Sine, fila para conseguir uma vaga
Dependendo das vagas oferecidas, o Sine de Caxias do Sul registra diferentes tamanhos de filas de espera do lado de fora, desde a madrugada, na sede que fica na Avenida Júlio de Castilhos, no Centro da cidade. Os usuários justificam que chegam cedo para garantirem as fichas. A espera na calçada é tão comum, que tem atraído até ambulantes que passam para vender bolo e café.
No dia da verificação feita pela reportagem, quarta-feira, 58 pessoas aguardavam do lado de fora antes da distribuição de senhas para as vagas de emprego, que inicia às 8h. Quinze minutos antes, cerca de 50 outras pessoas já encontravam-se dentro do estabelecimento, recebidas para confecção de carteiras de trabalho.
Juarez Hermann, 52 anos, morador do loteamento Parque Oasis, o primeiro da fila que aguardava na calçada, chegou às 5h10min. De acordo com ele, uma jovem que foi confeccionar a carteira chegou ainda antes que ele e teria saído de casa às 3h.
— Eles podiam colocar na parte da tarde, ou distribuir as fichas de um dia para o outro, se a pessoa tá desempregada ela consegue vir nesse horário, não precisa ser tão cedo. Fica ruim pra vir, não tem ônibus, e pras mulheres fica ainda pior porque é perigoso andar no escuro de madrugada — afirma Hermann, que procura uma vaga para trabalhar como motorista.
Desempregada há mais de seis meses, Joice Silveira Tavares, 39, era a terceira da fila de espera para o encaminhamento de vagas de emprego. Ela conta que acabou esperando o seguro acabar para voltar ao Sine, justificando sua urgência em conseguir um emprego.
— Eu cheguei a vir antes, mas a moça disse que meu seguro seria bloqueado caso ela me encaminhasse para alguma vaga, então resolvi esperar — comenta a moradora do bairro Ana Rech, que perderia o benefício antes de saber se realmente seria contratada.
:: O QUE DIZ O ÓRGÃO
O coordenador da unidade do Sine, Valmir Funari, disse que dispõe de seis atendentes e que normalmente todas as pessoas que vão ao local conseguem o atendimento na emissão de carteiras de trabalho, encaminhamento a vagas de emprego e de seguro-desemprego.
— Essas filas são históricas aqui, o que conseguimos fazer é organizar quando iniciamos a distribuição de senhas. A gente está conseguindo atender todas pessoas que estão na fila — afirma Funari, que conseguiu negociar com dois funcionários e com a vigilância a antecipação de meia hora no início dos trabalhos.
— Iniciamos às 7h30min, adiantando as pessoas que precisam confeccionar, depois focamos na intermediação de mão de obra. Não é o horário do Sine, mas fiz isso em respeito às pessoas que chegam cedo e vêm de longe, pessoas que vêm a pé muitas vezes. Como prestador de serviço, nossa ideia é botar o maior numero de pessoas no mercado de trabalho — garante.
Sobre a sugestão dos usuários, em distribuir senhas de um dia para o outro, Funari explica que a medida desrespeitaria as pessoas que buscariam o serviço no dia seguinte.
Ele destaca que a ordem de chegada não influencia nas chances de empregabilidade dos candidatos e lembra que o encaminhamento do seguro-desemprego pode ser agendados pela internet. Em caso de desistência ou de comparecimento antes da data marcada, por meio da fila presencial, ele reforça que a pessoa deve desmarcar no site para que o horário seja liberado para outra pessoa.
No local são atendidas mais de 200 pessoas por dia, em uma média de 4,2 mil por mês. Em abril, 4.241 pessoas procuraram os serviços da unidade caxiense.
SERVIÇO
Sine: de segunda à sexta-feira, oficialmente das 8h às 17h30min. A partir das 7h30min ocorre o atendimento de confecção de carteiras de trabalho. Das 8h às 11h, o efetivo foca na intermediação de mão de obra e, a partir das 11h, a agência realiza os encaminhamentos de seguro-desemprego. A distribuição de senhas presenciais ocorre conforme o número de agendamentos eletrônicos, variando entre 60 e 70 por dia.
Pela internet: o agendamento online para seguro-desemprego tem data disponível a partir de junho e pode ser feito pelo site.
Onde: Avenida Júlio de Castilhos, 1478, Centro.
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