A longa espera na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Zona Norte em Caxias do Sul gerou revolta entre os pacientes que buscaram atendimento nesta sexta-feira (03). Além da demora registrada durante todo o dia, um bebê chegou à UPA no final da manhã, em parada cardiorrespiratória. A equipe atendeu o menino de dois meses e 22 dias e tentou reanimar a criança, com as manobras previstas e também entubar o menino, mas a morte foi registrada por volta das 11h50min.
A preocupação no semblante dos pais que aguardavam era visível. Com febre, dor de ouvido, enjoados, chorando e até mesmo vomitando, crianças, como o pequeno Isaías, de 10 anos, estavam há mais de três horas aguardando.
— Ele já vomitou seis vezes e está se sentindo muito mal. A triagem foi rápida, mas até o momento não nos chamaram para a consulta. Cancelei o plano recentemente para buscar um melhor _ lamenta Jacson Ramires, 38, pai do menino.
A reportagem chegou a UPA por volta das14h30min. A recepção estava lotada e pelo menos 26 crianças esperavam por consulta. A dona de casa Cidani Zamboni Rosa, 47, também estava apreensiva. A filha dela Gisele, de 8 anos, estava deitada em seu colo:
— Ela não come, está com febre e vomitou. Até agora não foi atendida.
Situação semelhante a da pequena Ariela, de nove meses. A mãe da menina Ana Paula de Oliveira, 23 anos, esboçava, além de preocupação, cansaço. Ela estava à espera de atendimento desde às 10h30min para consultar a bebê.
— Minha filha está com febre, dor de garganta e enjoadinha. O sistema já caiu três vezes e quando volta pessoas que chegaram bem depois são atendidas. Não consigo entender — desabafa Ana Paula.
Não foram apenas as crianças que tiveram que aguardar por horas até chegar ao consultório. A jovem Karine Araújo, 24, chegou a UPA por volta das 8h. O namorado da jovem, o comerciário Jeferson de Andrade, 35, não escondia a indignação com a demora. Ele questionou os funcionários e depois que o sistema caiu o nome da jovem foi para o final da lista:
— Ela acordou mal e passamos na UBS Vila Ipê e mandaram ela para cá. Eu fui trabalhar e no intervalo liguei para ela e não tinha sido atendida ainda. Vim para cá e nada até agora. Agora é 16h e ainda tem seis pessoas na frente dela. Ninguém vem para a UPA porque gosta.
Sentada no chão, Jhennifer Rodrigues de Lima, 19, também esperava atendimento.
— Estou me sentindo muito mal, com dor de cabeça, nas costas e enjoada.
A idosa Isabel Padilha dos Santos, 62, também demostrava preocupação. Hipertensa, ela aguardava atendimento há mais de três horas.
— Tomo dois remédios para pressão por dia e estou com muita dor de cabeça. Quando entrei para a triagem o sistema caiu e nem me informaram se a pressão está alta.
Contraponto
A Coordenadora de Enfermagem da UPA, Marilda de Andrade, explica que três pediatras estavam atendendo às crianças e seis clínicos gerais os adultos. Ela ressalta que o número de atendimento aumento consideravelmente devido às doenças cardiorrespiratórias.
— Já atendemos 51 crianças, e ainda há 71 para procedimento, sendo que destas 26 aguardam consulta. Até as 16h12min, 350 pacientes passaram pela triagem. As crianças estão no oxigênio porque as doenças respiratórias demandam mais tempo no atendimento. Também estamos atendendo um número maior de pacientes. Na última quinta foram 495 atendimentos, e tem sido assim, diariamente _ justifica Marilda.
O aumento da demanda é reflexo da falta de médicos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e do fechamento do Pronto-Atendimento 24h, fechado para reformas.