A trajetória do professor Mário Gardelin, que morreu nesta quinta-feira (4), é marcante por vários motivos. Ele nasceu em Ana Rech em 14 de janeiro de 1928, mas só foi registrado em 8 de fevereiro no cartório de Vila Seca, quando a localidade pertencia a São Francisco de Paula. Começou os estudos na Escola São Caetano, na localidade de Nova Trento. Desde jovem mostrava que estava em busca de conhecimento e como o colégio não tinha estrutura para que seguisse o aprendizado pediu a família para estudar para padre. Ele foi internado no Colégio Murialdo, em Ana Rech, em 1938.
No internato, ouviu a primeira transmissão internacional de rádio, uma partida entre Itália e Brasil pela Copa do Mundo. Foi então que despertou em Gardelin o talento para a redação e o interesse pela poesia. Ele foi aluno do padre João Schiavo, proclamado beato em 2017. Gardelin atuou como professor em Fazenda Souza e em Ana Rech e em 1962, foi admitido como professor na Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde atuou por mais de 40 anos, inclusive como vice-reitor.
Passou também pelos colégios do Carmo, São Carlos e Cristóvão de Mendoza, entre outros. Ele também trabalhou no Senai, foi bancário, funcionário de uma empresa petrolífera e dirigiu a sucursal da Caldas Júnior em Caxias. Além disso, elegeu-se vereador nas legislaturas de 1973/76 e1977/82, integrou o Conselho Estadual de Cultura e o grupo de fundadores da Academia Caxiense de Letras, em 1962.
Na imprensa integrou a equipe de radialistas da Rádio Caxias e atuou no Jornal Pioneiro desde sua fundação. O ingresso na empresa ocorreu em 4 de novembro de 1948 e, manteve uma coluna semanal até 2008. Além de reconhecimento como repórter e editor do jornal seu trabalho como pesquisador da saga da imigração italiana aproximou-o de empresários, agricultores, religiosos, educadores e políticos caxienses.
Pesquisar era uma de suas paixões e entre os trabalhos de maior destaque estão dois compêndios publicados primeiro no Pioneiro: o Histórico da Câmara de Vereadores de Caxias do Sul e da Câmara de Indústria, Comércio (CIC) e Serviços de Caxias do Sul. As pesquisas relatavam atos registrados em atas das duas instituições e, posteriormente, foram editadas em livros.
Depois do incêndio no prédio da Câmara de Vereadores, em 17 de fevereiro de 1992, os registros no Pioneiro e no livro é o que restaram da história escrita por Gardelin. No livro da Rádio Caxias, fatos essenciais da emissora foram relatados, todos assistidos ou vivenciados pessoalmente pelo próprio historiador.
Gardelin recebeu distinções variadas pelo trabalho, entre elas, o Troféu Associação Riograndense de Imprensa (ARI-Serra Gaúcha) na categoria Homenagem Especial, o título de Acadêmico Emérito da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e o título de Cidadão Caxiense.
Atuação no Pioneiro
Mário Gardelin presenciou o crescimento e a consolidação do jornal Pioneiro. No início da implantação do jornal, o jornalista aceitou o desafio e a responsabilidade de ser o editor da redação. Sua linha editorial priorizou o resgate de personagens históricos da imigração italiana com a coluna Galeria dos Pioneiros. Na retomada da Festa da Uva, em 1950, eram publicados materiais para veicular diariamente, sendo que na época o jornal era impresso semanalmente. Apaixonado pela reportagem a redação do Pioneiro era a segunda casa do jornalista. Em 4 de novembro de 1988, quando o jornal completou 40 anos, Gardelin se emocionou ao afirmar que era um dos poucos colaboradores de 1948 ainda em atividade:
— Vejo hoje que o Pioneiro merece uma história. E que talvez a pessoa que ainda recorda os primeiros momentos seja eu. São 40 anos, em que registramos, com fidelidade, a nossa história. Caxias tem 113 anos, pois 40 desses foram testemunhados por Pioneiro. Para o jornal foram fatos. Os interesses e jogos de bastidores ficaram com a memória daqueles que o viveram. Dos colaboradores de 4 de novembro de 1948.... infelizmente, em atividade, sou o derradeiro. Privilégio, sem dúvida alguma — disse o professor.