As 165 crianças e adolescentes, de cinco bairros, que frequentam o Centro de Cuidados Nossa Senhora da Paz, no bairro Marechal Floriano, em Caxias do Sul, se despedem do prédio atual na Rua Carlos Bianchini, nesta terça-feira (30). As atividades serão retomadas no dia 6 de maio em um prédio localizado na Rua Eloy Fritsch, 160, no bairro Charqueadas.
Em novembro, a então mantenedora Associação Educadora São Carlos (Aesc) decidiu não atender mais os jovens para se dedicar a atividades na área da educação e saúde, que têm filantropia, e tirar o foco da assistência social. Para evitar que a gurizada perdesse as atividades de lazer no turno inverso da escola e, principalmente, o encaminhamento para cursos profissionalizantes, menor aprendiz e primeiro emprego, que são a esperança de diversas famílias, o município realizou uma dispensa de chamamento público ainda no ano passado, e a entidade Mão Amiga assumiu o atendimento. O edital foi lançado neste ano, e a entidade venceu a disputa para assumir o Centro, agora em novo local.
A prefeitura então abriu negociação com a Aesc para manter o serviço no prédio atual, próximo ao Hospital da Unimed, que é das irmãs, mas um impasse referente ao valor do aluguel inviabilizou as negociações. A presidente da FAS, Rosana Menegotto, explica que os valores precisam respeitar um teto estipulado pelo município para que a prefeitura não corra o risco de ser apontada pelo Ministério Público.
— Nós tínhamos o interesse de locar o imóvel para manter as atividades no prédio atual, a negociação estava em andamento, e tivemos a surpresa de que os valores que tratamos acabaram não fechando, porque a quantia solicitada era R$ 8.500 e nós tínhamos um valor inferior do que estava sendo negociado, liberado para o pagamento — destaca.
Ela acrescenta que a mudança não irá prejudicar o atendimento das crianças e adolescentes de nenhum dos bairros atendidos:
— Quando tivemos esse impasse partimos para encontrar um novo local, inclusive, que estivesse mais no território onde estão os jovens atendidos pelo Nossa Senhora da Paz. Temos esse diagnóstico, tanto pelas informações do CRAS, quanto da Atenção Básica, de que o maior número de crianças atendidas hoje pelo Centro estão próximas do novo local. O que pode acontecer é que a criança vá para um serviço mais próximo de casa e isso está previsto em qualquer situação. Se tem um serviço mais próximo, terá uma logística melhor, mas a mãe será consultada. A maior parte das crianças é da região para onde o Centro vai mudar.
"Não vamos mais estar juntos", lamenta adolescente
Em reunião na última semana no salão da Igreja Maria Mãe do Imigrante, na Vila Amélia, os pais foram comunicados da mudança. O local é significativo porque foi lá que as atividades se iniciaram há 45 anos como alternativa para tirar as crianças das ruas. A preocupação dos pais é referente a garantia do transporte para que os filhos possam seguir no serviço. Outros temem a transferência dos jovens para outro centro e os próprios adolescentes temem a separação já que era no Nossa Senhora da Paz que dividiam experiências e compartilhavam momentos:
— Desde o começo nos falaram: não importa o bairro ou a região de onde vocês são, o que importa é que sejam unidos. E agora como será? Não vamos mais estar juntos, vão nos separar, e estamos preocupados com a situação — desabafa a adolescente Érica Munhoz, 15 anos, moradora do Euzébio Beltrão de Queiroz.
Já os pais estão angustiados com a mudança, tanto pelo transporte, quanto pela continuidade do atendimento no serviço para onde os filhos podem ser transferidos. Uma mãe que preferiu ter o nome preservado chorava muito ao questionar qual será o futuro de seus dois filhos agora.
— Há cinco anos eles vão para o Nossa Senhora da Paz. Tenho um guri de 15 anos e uma menina de 12. Moramos no Floresta e eu faço tudo sozinha por eles. O mais velho está pronto para ser menor aprendiz e se sair do Centro ou for para outro acaba tudo. Agora acabou tudo porque nem temos a garantia do transporte — disse, desolada.
Para Tatiana Vargas dos Santos, 33 anos, a maior preocupação é o transporte.
— Hoje o transporte é garantido e o responsável é de confiança porque acompanha nossos filhos. Eu tenho um de oito e outro de seis e mesmo morando no Vila Amélia é longe para duas crianças irem sozinhas tanto a pé quanto de ônibus para o novo espaço e sequer teria como pagar esse transporte — afirma.
O vigilante Hugo Trindade, 50, é pai de um adolescente de 14, e pediu paciência a todos para encontrar um solução.
— Vamos ter que nos ajudar e nos esforçar porque o mais importante é que o serviço continue atendendo os jovens e enquanto buscamos uma alternativa — disse.
Leia também:
Exposição em Caxias registra aventura na patagônia
Trânsito sofrerá alterações para retomada das obras na rótula de Fazenda Souza, em Caxias
Apresentado Anteprojeto do Aeroporto regional da Serra Gaúcha