Nesta sexta-feira (25), completam 30 dias da explosão que destruiu um apartamento no edifício Vêneto e deixou Maria Ana Zanetti Mützenberg gravemente ferida no centro de Farroupilha. A investigação sobre as causas da explosão seguida de incêndio avançou, mas os resultados estão sendo mantidos em sigilo. Confira cinco questões em aberto do caso ocorrido na manhã de 26 de dezembro.
Aniversário na UTI
Com 88% do corpo queimado e sedada, Maria Ana Zanetti Mützenberg completou 69 anos no dia 17 de janeiro na UTI do Hospital da Unimed, em Caxias do Sul. A família considera que o presente de aniversário é o fato de ela estar viva e em recuperação. Por isso, a comemoração ocorrerá quando Maria receber alta. Com sinais estáveis e para evitar risco de infecções, a paciente só recebe a visita do marido, Romeu Mützenberg, 72, e dos dois filhos
— Estamos muito esperançosos. Quando ela entrou com 88% do corpo queimado, nos disseram que não era para criar esperança. Mas minha mãe sempre foi saudável, não fuma, não tomava medicação e isso ajudou bastante — diz Andreia Mützenberg Cenci, filha de Maria.
Sedada desde que ingressou no hospital no dia 26 de dezembro, a paciente tem passado por procedimentos de raspagem da pele queimada em dias intercalados. A previsão é de que o enxerto de tecido comece a partir de fevereiro. Por enquanto, a paciente respira por meio de uma traqueostomia (pequeno orifício feito na garganta para facilitar a respiração). Segundo Andreia, a aplicação de sedativos começou a ser reduzida nesta semana e não foi mais necessária a realização de hemodiálise (procedimento que durou 10 dias). A equipe médica vai monitorar como será a evolução da paciente e avaliar a possibilidade de mantê-la acordada.
Romeu está morando com a filha e continua muito abalado com a situação da esposa. Segundo Andreia, o pai imaginava que a recuperação seria mais rápida.
— Os sinais estão estabilizados. A parte clínica está boa. Todos os dias estamos dizendo coisas boas para ela. Nossa fé é grande — conta Andreia.
Irregularidades em instalações de gás
Para o Instituto Geral de Perícias (IGP) não há dúvidas que um vazamento de gás causou a explosão no apartamento 302 do edifício Vêneto, onde residia Maria e o marido dela. Conforme o diretor do IGP em Caxias do Sul, Airton Kraemer, foram identificadas irregularidades em instalações de gás dentro do imóvel, mas a origem do vazamento ainda depende do trabalho que está sob a responsabilidade da Polícia Civil. Dois botijões dentro do apartamento estavam vazios, segundo análise pericial.
Antes de ser levada para um hospital, Maria relatou a familiares que acordou sozinha em casa. Nesse momento, ao sair do quarto e ligar a luz, aconteceu a explosão. Naquele horário, o marido dela estava trabalhando. Tanto ela quanto Romeu não sentiram cheiro de gás.
Câmeras de segurança de Farroupilha registraram o momento da explosão. A gravação de apenas cinco segundos mostra o momento em que janelas do apartamento 302 estouram. Em seguida, surgem labaredas e as paredes desabam.
A perícia acredita que o gás estava acumulado na cozinha do apartamento e a explosão foi desencadeada pelo acionamento de um interruptor de luz. A onda de choque avançou para todos os lados, causando a destruição da peça onde havia um dormitório, do banheiro e da sacada, além de derrubar o piso e as paredes laterais do terceiro e quarto andares. Internamente, os danos foram grandes em outros imóveis do terceiro andar.
As irregularidades inicialmente constatadas estão relacionadas ao fogão e à instalação do gás encanado no apartamento do casal, mas Kraemer não revela detalhes para não atrapalhar o trabalho da polícia. O laudo com as conclusões do IGP deve ser encaminhado em até 15 dias para a delegacia de Farroupilha.
Muitos depoimentos
O titular da Delegacia de Polícia da cidade, Rodrigo Morale, diz apenas que várias testemunhas foram ouvidas, incluindo moradores do edifício e vizinhos. Os agentes tentam estabelecer se o vazamento pode ser sido falha de válvulas, reguladores e mangueiras ou se alguém acionou acidentalmente o queimador de um fogão e o gás vazou, por exemplo. O inquérito aguarda a remessa de perícias.
Apartamentos interditados
Três moradias estão interditadas. Uma delas é apartamento 302, imóvel onde reside Maria e o marido dela, que vai precisar de reconstrução. Os apartamentos 202 e 402 (acima e abaixo do 302) também estão isolados. A medida é necessária para uma avaliação estrutural de engenheiros. A ideia é fazer teste de resistência na área interditada para concluir se aquela área do prédio não tem risco de desabamento. O levantamento vai avaliar a deformação nas lajes e o tipo de fissuras, permitindo que se estabeleça qual é o reforço necessário. Para esse serviço, é necessária a remoção de escombros. O trabalho deve ser realizado possivelmente na próxima segunda-feira (28) ou terça-feira (29). Embora os bombeiros e o IGP não tenham mais restrições para a limpeza dos entulhos, o síndico do condomínio, Nivaldo de Bortoli, busca uma autorização por escrito para evitar futuras complicações.
— Não vamos mexer ali e depois alguém afirmar que não podíamos ter feito isso. Queremos um papel que autorize isso. Esperamos começar a limpeza na próxima semana — explica Bortoli.
Cinco famílias fora de casa
No total, dos 16 apartamentos do edifício Vêneto, cinco seguem desocupados. Além das três moradias interditadas, duas famílias optaram por ficar fora do condomínio temporariamente. São apartamentos vizinhos ao do imóvel onde ocorreu a explosão. As famílias estão abrigadas na casa de familiares. O edifício Vêneto, no centro da cidade, abriga diversas atividades, como lancheria, lojas, salão de beleza, imobiliária, corretora de seguro, entre outros. A maioria das salas já foi reaberta.