O início dos anos 1990 foi marcado por dois episódios dramáticos na vida de Caxias: os incêndios da Câmara de Vereadores e do Cine Ópera. O primeiro, em 1992, e o outro, dois anos depois. No caso do Legislativo, foi uma surpresa. Instalada há quatro anos no terceiro piso do Centro Administrativo, a sede foi consumida pelas chamas um dia antes da abertura do ano legislativo, em 17 de fevereiro.
— Até hoje a gente se pergunta o que aconteceu — diz Adir Rech, vereador naquela legislatura.
No caso do Ópera, a tragédia era anunciada. O teatro, que viveu momentos de glória entre as décadas de 1950 e 1970, passava por um período de decadência nos últimos anos. A má conservação do prédio e a exibição de filmes pornográficos eram exemplos do fim da era de ouro. Antes do incêndio, em 24 de dezembro de 1994, o Ópera já vinha sendo demolido internamente, às escondidas.
— Foi uma perda lamentável para Caxias — expressa Juventino Dal Bó, historiador.
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Nos dois acidentes, as “consequências” foram diferentes. Com o incêndio da Câmara, se retomou a construção do prédio próprio, parada em 1986. Até a conclusão da obra, três locais serviram de sede provisória: prédio da Codeca, que ficava em frente à prefeitura; CTG Rincão da Lealdade; e Galeria Comercial Jotacê. A nova sede, onde funciona até hoje o Poder Legislativo, foi inaugurada em 1996.
Já o Ópera, na esquina das ruas Pinheiro Machado e Dr. Montaury, que ainda serve de ponto de referência para os caxienses “mais antigos”, acabou virando uma garagem de carros. O prédio também abriga algumas lojas e lanchonetes.
Destino traçado, história perdida
Para quem acompanhou o descaso com o Ópera, o destino já estava traçado. Quando o fogo consumiu o teatro, ele estava abandonado. O prédio foi declarado de utilidade pública em 1985, mas nunca chegou a ser tombado. A proprietária Gilse Muratore não se opunha ao funcionamento do cinema, desde que o poder público o assumisse.
— O poder público ficou indiferente. Nem prefeitura nem universidade se envolveram. A família não tinha como arcar (com os custos) — destaca Juventino Dal Bó, um dos ativistas pela manutenção do Ópera.
A sala encerrou as atividades antes do incêndio, em 1993. Naquele ano, a jornalista Ivanete Marzzaro descobriu que a área interna já estava sendo demolida.
— Infelizmente, se optou por uma garagem. Se derrubou um teatro. É bem simbólico — lamenta Juventino.
Ano perdido
O ex-vereador Luiz Carlos dos Santos estava chegando de Porto Alegre quando avistou o fogo. Correu para ver o que era e deparou com o prédio da Câmara, junto à prefeitura, em chamas. Não sobrou nada. Nenhum documento, inclusive os registros das discussões da elaboração da Lei Orgânica, da qual Santos foi relator. De recordação, restaram apenas algumas cópias de trechos que o vereador guardou em casa.
— Se perdeu um ano, foi uma legislatura de três anos. Poderia ter sido uma legislatura mais produtiva — lamenta.
Colega de Santos, Adir Rech lembra que foi um dos últimos a deixar o prédio da Câmara de Vereadores naquele dia, por volta de 19h. Como o gabinete dele era o último do corredor, passou por todos os outros e não viu nada de anormal. Quando chegou em casa, recebeu uma ligação avisando do incêndio.
A sessão do dia seguinte, a primeira do ano legislativo, foi realizada de forma improvisada, em um quiosque perto do galpão da Codeca, próximo à prefeitura.
Curiosidades
:: O Ópera foi inaugurado em 1º de janeiro de 1921 como Cine Theatro Apollo.
:: Todo em madeira, sofreu o primeiro incêndio em 28 de maio de 1927. Foi reinaugurado um ano depois. Eram três pavimentos e 1,2 mil lugares. O Apollo funcionou até o início dos anos 1950.
:: Em 1952, sob a direção de Julio Ribeiro Mendes, foi inaugurado o novo Cine Teatro Ópera.