Aos poucos, o novo prédio da Escola Estadual de Ensino Médio Paulo Freire, que atende o Centro de Atendimento Socioeducativo (Case) de Caxias do Sul, vai surgindo no terreno ao lado da atual estrutura. Ainda há pouco o que se ver. A empreiteira de Encantado, vencedora da licitação, atualmente trabalha nas fundações. Porém, para professores, alunos e direção, o mais importante é o que a obra representa: uma aposta na qualidade de ensino, por meio do investimento na melhoria do ambiente escolar como agente de ressocialização dos adolescentes e jovens infratores que cumprem medida socioeducativas no local. A escolarização faz parte da medida deles.
– Teremos salas mais arejadas, com estrutura para dar uma qualificação maior para os meninos e para os professores também. A Fase tem investido muito em socioeducação – elogia o diretor do Case, José Luiz Plein Filho.
A nova escola terá cinco salas de aula, a mesma quantidade que tem hoje. Mas será um prédio onde ficarão concentrados todos os departamentos, como biblioteca, laboratório de informática, banheiros, copa e sala para materiais pedagógicos, além da área administrativa. O valor da obra é de R$ 742,4 mil. O recurso é proveniente de um convênio com a Secretaria Estadual de Educação. A previsão é de conclusão em abril do ano que vem. Quando o novo módulo escolar ficar pronto, as salas atuais serão utilizadas para cursos de profissionalização.
– Passaremos a ter um espaço todo dedicado à escola. Hoje ela é fragmentada. A expectativa é de um lugar melhor. Os professores estão empolgados – comenta a diretora da escola, Thais Enara Velho.
O número de professores (10) e de funcionários (uma secretária e uma pessoa que faz a limpeza e a merenda) – servidores da Secretaria da Educação do Estado – também não deve mudar. Além de Ensino Médio e Educação para Jovens e Adultos (EJA), é ofertado o Ensino Fundamental àqueles que não têm a idade mínima para ingressar no EJA. A maioria dos alunos está no 8º ano do Ensino Fundamental aos 16 e 17 anos de idade, o que caracteriza um alto índice de distorção idade/série.
– O adolescente não consegue se enquadrar nas rotinas (escolares) lá de fora. Aqui, o ambiente é todo organizado para isso. Então, ele consegue, ele cria uma disciplina – pondera a diretora.
Um dos jovens que cumpre medida na unidade diz que as atividades proporcionadas pela escola ajudam a manter os internos ocupados.
– Sendo excluso da sociedade, a gente acaba achando que vai perder esse tempo aqui dentro. E não. A gente aproveita para estudar e sair com uma formação no currículo. Se torna mais fácil arrumar um emprego lá fora. Hoje em dia, se não se tem um currículo bom, pelo menos com o Ensino Médio concluído, não se consegue praticamente nenhuma vaga de trabalho. Pretendo colocar em prática tudo que aprendi até aqui. Vim para este lugar para me socioeducar, cumprir uma medida e aprender a conviver novamente na sociedade. Então, vou procurar colocar isso em prática e mostrar que o trabalho do pessoal aqui dentro, dos professores e agentes, não será em vão – disse o jovem.
Parcerias propiciam profissionalização de internos
Além de aprender coisas básicas, como lavar e dobrar as próprias roupas, os internos do Case têm a oportunidade de participar de cursos profissionalizantes ofertados pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE). As vagas de aprendizagem são viabilizadas por meio de um convênio com a Fundação de Atendimento Socioeducativo (Fase) no modelo do programa Jovem Aprendiz.
Os adolescentes e jovens participam no turno inverso ao escolar. Em Caxias, são 30 vagas no curso de ocupações administrativas, com duração de 24 meses. Nele, os internos aprendem sobre controle de estoque e almoxarifado, educação financeira e a elaborar currículos. Além da qualificação, quem participa da iniciativa recebe meio salário mínimo por mês e sai com carteira de trabalho assinada e os direitos trabalhistas garantidos. Do total de vagas, atualmente, 25 estão ocupadas.
– A ideia é que eles saiam mais preparados para o mercado de trabalho. É o início, a profissionalização – explica a pedagoga do Case, Tanisa Fernanda Benati.
Uma outra modalidade é desenvolvida com os adolescentes que estão em internação com possibilidade de atividade externa (ICPAE), ou seja, podem sair aos finais de semana e para atividades fora do Case. Nesses casos, eles recebem a parte teórica do CIEE e são encaixados em serviços em empresas na comunidade. Além da escolarização exigida, são critérios para seleção dos internos o bom comportamento e o tempo em que ele vai permanecer no Case. Têm preferência aqueles que conseguirão fazer todo ou boa parte curso na instituição.
Também em parceria com o CIEE, a Fase mantém o Programa de Oportunidades e Direitos (POD), destinado a adolescentes que vão para a semiliberdade ou liberdade assistida (quando devem ser acompanhados pelas rede de assistência) ou desligados do sistema. O programa oferece vagas em cursos profissionalizantes e meio salário por mês para quem participar. O requisito é estar frequentando a escola regular. Mas, a participação é espontânea, ou seja, é preciso que o egresso se candidate a uma vaga.
Depois da qualificação, é preciso enfrentar a resistência do mercado. Nesse sentido, a equipe do Case desenvolve o Fórum de Aprendizagem, em que as empresas e entidades são convidadas a visitar a unidade e conhecer o trabalho desenvolvido. O objetivo é, além de oferecer oportunidades de trabalho para quem sai, conseguir voluntários para promover oficinas na instituição.