A triste sequência de saques contra o prédio onde funcionava a antiga Robertshaw, no bairro Exposição, expôs não só a insegurança, mas também a dificuldade para reutilizar os pavilhões da indústria caxiense. Não há números precisos, mas a Associação das Imobiliárias (Assimob) de Caxias do Sul estima que 30% dos grandes imóveis estão ociosos na cidade — parte exposta a ladrões e ao vandalismo.
Embora nem todos os prédios tenham função histórica ou cultural, chama a atenção esse vazio provocado principalmente pela crise econômica. Há pavilhões que remetem a ciclos do passado, portanto, não estariam adequados às exigências atuais da legislação e exigem muito investimento para implantar novas fábricas. Outros fecharam com a recessão e alguns estão vazios por questões de mudança de endereço das empresas ou porque envolvem disputas judiciais. Geralmente, quando não há vigilância, atraem vândalos e consumidores de drogas, ampliando a sensação de abandono.
Oliver Viezzer, empresário e presidente Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon) de Caxias, conhece bem a dificuldade para manter um pavilhão fechado. A empresa dele arrematou há 10 anos, em leilão, a estrutura da antiga Madezorzi, ao lado do CTG Rincão da Lealdade, na BR-116. O espaço já abrigou inquilinos e pegou fogo em 2014. Posteriormente, foi invadido e a empresa teve de retirar cerca de 50 caminhões de entulho e lixo do interior do imóvel. A antiga construção já foi colocada abaixo e a empresa reservou o terreno para futuros investimentos imobiliários.
— Se tornou um problema, tivemos muito prejuízo, a vizinhança reclamou. Se não tiver utilidade logo, a tendência é que o local vá ser invadido _ alerta Viezzer.
A sede da antiga Pena Branca, na entrada do bairro São Luiz da 6ª Légua, é outro exemplo. Fechado desde 2013, quando pertencia à Seara, o extinto frigorífico já foi sinônimo de acolhimento para todo migrante que buscava uma chance de trabalho em Caxias do Sul. Hoje, o complexo é um labirinto de concreto sem vida. Mesmo com vigilantes, os furtos de material ocorrem com frequência. Como não houve interessados na locação ou compra do complexo, o dono optou pela demolição dos prédios, o que deve ocorrer nos próximos meses.
"Vai acontecer lentamente"
Omar dos Santos Borges, presidente da Assimob, relaciona a ociosidade dos imóveis ao cenário econômico retraído dos últimos anos e que só agora começa a dar sinais de retomada. O mercado imobiliário demonstra reação nas locações e vendas.
— A recuperação está começando pelas salas comerciais, mas a reocupação dos pavilhões, que têm mais valor agregado, vai acontecer mais lentamente — projeta Borges.
Outra constatação do mercado imobiliário refere-se à conservação dos imóveis, que exigem muitos recursos para adaptação a novos modelos de negócios. Os empreendedores procuram pavilhões menores ou preferem expandir no terreno onde já operam.
Dados do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico de Caxias do Sul (Simecs), setores que mais dependem dos grandes pavilhões para operar na cidade, mostram que 37 empresas fecharam em 2018. Em contrapartida, outras 144 novas abriram negócios. Embora em maior número, as novas empresas realmente são menores, pois empregam 121 funcionários, o que corresponde a pouco mais de um terço das 340 vagas mantidas pelos outros 37 empreendimentos que encerraram atividades.
— Está difícil de alugar esses pavilhões, são muito grandes e a conservação, em alguns casos, não está muito adequada. São espaços que exigem empresas grandes e não temos grandes empresas chegando — confirma Fernando Gonçalves dos Reis, presidente da Associação Brasileira do Mercado Imobiliário (ABMI).
Leia também
Caxias do Sul está entre as 10 cidades brasileiras que mais geraram empregos em 2018
Mutirão diminui lista de espera por atendimentos em especialidades em Caxias
Preço médio da gasolina atinge R$ 4,99 em Caxias