A Polícia Civil investigará se é criminosa a sequência de incêndios que ocorreu em menos de um mês e destruiu dois imóveis públicos no distrito de Vila Seca, em Caxias do Sul. O caso mais recente ocorreu na madrugada do último domingo. Desta vez, foi um galpão de madeira dentro da área de conservação Parque dos Pinhais, ponto onde ficam as nascentes do Arroio Marrecas. O prédio, que estava em bom estado de conservação, ficava ao lado de um casarão que já havia sido consumido pelas chamas no amanhecer de 3 de outubro. Os dois imóveis pertenciam à área de preservação. No caso do galpão, além do prejuízo ao patrimônio público, a comunidade de Vila Seca tem ainda mais motivos para lamentar a perda: era dentro deste espaço que ficava boa parte do material usado nos desfiles e para a decoração da Festa do Pinhão, um dos eventos mais importantes do distrito.
— Nós guardávamos ali todo o acervo do desfile, enfeites de praça, charrete, carretas de boi e outras coisas. Usávamos esse material para os desfiles, de abertura e encerramento, da nossa festa. Íamos tirar as coisas de lá esta semana, porque depois que a casa pegou fogo, desconfiávamos que o galpão também corria risco —descreve Raul Gomes da Fonseca, presidente da festa e morador de Vila Seca.
O vereador Ricardo Daneluz (PDT) encaminhou ontem, na Câmara de Vereadores, um pedido de informações ao Samae, responsável pelo monitoramento do espaço. O requerimento reúne sete questionamentos sobre os fatos que envolvem o incêndio. Dentre eles, quem eram os servidores que faziam a ronda no momento do fato; a data da última manutenção das estruturas e qual o uso atual dado ao casarão e galpão. A propriedade tem 498 hectares e foi adquirida pela prefeitura para a criação da Reserva Natural Parque dos Pinhais, oficializada em um decreto assinado em 30 de março de 2016. A família Martini, que ainda mora em Vila Seca, ergueu a casa há mais de 50 anos. Após a aquisição pela prefeitura, servidores do Samae passaram a morar no espaço e atuar como caseiros para impedir vandalismo e mau uso do lugar. No entanto, nos últimos meses, os servidores desocuparam o local e o parque passou a ser monitorado por rondas diárias da Guarda Municipal.
— Eu nasci neste lugar, e enxergar o que aconteceu me deixou muito sentido. Não havia mais energia elétrica, e queimou de madrugada nas duas vezes... faz a gente pensar que foi criminoso. Se é patrimônio público, precisa ser preservado — lamenta o agropecuarista Oscar Martini, que já foi subprefeito de Vila Seca.
A propriedade é cortada pela Rota do Sol, no km 171, cinco quilômetros depois de Vila Seca, em direção ao Litoral. O casarão e o galpão ficavam à esquerda, no sentido Caxias/Litoral. A última atividade que a casa recebeu foi um encontro nacional de bandeirantes, em janeiro de 2017. Desde então, não eram realizadas atividades na reserva. Ninguém presenciou o início do incêndio.
Escola ambiental não saiu do papel
Por volta das 15h de ontem, quando o Pioneiro visitou o Parque dos Pinhais, servidores da Guarda Municipal faziam a patrulha diária. A equipe é responsável ainda pelo monitoramento das cinco represas do município, além de outros pontos públicos de preservação ambiental.
Quando adquiriu o espaço, a prefeitura pretendia instalar uma escola de educação ambiental no casarão da propriedade. Esta ideia ainda existe, mas não há previsão para sair do papel, segundo o diretor da Divisão de Planejamento Integrado do Samae, Gerson Panarotto.
— Nunca houve posto de vigilância fixa ali, a segurança sempre foi feita através de rondas. Nós, de fato, chegamos a ir com a Secretaria do Meio Ambiente conhecer o lugar antes do incêndio e estudar projetos para utilização da área. Só que estava sendo verificada a questão de verbas —detalha.
Para o galpão incendiado, havia planos de criar um espaço que serviria para ambientação de pássaros silvestres, antes de serem devolvidos ao meio ambiente. A investigação sobre os dois incêndios está a cargo da 3ª Delegacia de Polícia.
— Encaminhei para investigação, e o registro policial não nos dá muita informação. Pelo que vimos, não foram acionados os bombeiros e houve consumação total, o que prejudicou a prova pericial _ afirma o titular da delegacia, Luciano Pereira.