Quando cada uma das milhões de pessoas que visitarem Gramado nos próximos meses olharem admiradas para a decoração do Natal Luz, verão nela o trabalho da Nerris, do Leandro, do Ismael e de outras centenas de moradores da região das Hortênsias. A produção dos enfeites que começou em agosto foi intensificada nos últimos dias para que tudo estivesse pronto nesta quinta-feira, quando será aberto o evento.
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Em uma sala nos fundos de um dos dois barracões locados para a produção dos enfeites, as peças em fibra de vidro são montadas, ganhando a forma original bruta. Daí, começa um processo de finalização que envolve várias etapas. Uma delas é feita por Ismael Augusto Schimitt Gross, 37 anos. Chapeador de carros, ele foi convidado pela 360º Engenharia e Entretenimento, empresa vencedora da licitação, para dar o acabamento perfeito e preparar os enfeites para a lixação e pintura. Na manhã da última terça-feira, estavam sendo produzidas as ponteiras das árvores natalinas.
– A fibra é um pouquinho mais complicada, mas o sistema é praticamente o mesmo (dos veículos), é retirar as imperfeições. Nem fazia ideia do trabalho que dava. É emocionante participar – diz Ismael.
Para Nerris Raiane Albuquerque Chaves, 21, o Natal foi a oportunidade de voltar ao mercado de trabalho, mesmo que de forma temporária, e de aprender uma nova atividade. Desempregada há cinco meses, desde que a empresa em que atuava na fabricação de bolachas fechou, ela ficou sabendo que a 360º estava contratando por meio de um morador do bairro Canelinha, onde mora, em Canela.
– Um morador do meu bairro veio e conseguiu emprego. Foi falando para os outros, a gente foi vindo, e eles pegaram uma quantidade grande de pessoas para trabalhar. Isso contribui bastante, principalmente, para quem não conseguiu trabalhar ao longo do ano por causa dessa crise. Fez diferença para mim – relata a jovem, que dá o retoque final com a lixa antes das peças seguirem para a pintura e recebe R$ 80 por dia, em contrato que se encerra hoje.
Depois de passar pelas mãos da jovem, a peça chega a Leandro Santos, 48, e ganha as cores vibrantes – o dourado, o vermelho, o verde, entre outras. São 10 camadas de base e de verniz até a última demão no tom final do enfeite. Assim como Nerris, é a primeira vez de Leandro no Natal Luz. A diferença é que ele é funcionário da empresa há cerca de dois anos e já tinha experiência de outros eventos, só que de menor proporção.
– É forte esse evento. Quando cheguei aqui, não pensei que era tanto assim – comenta o pintor.
É que nesta edição, a maioria dos enfeites são novos. Pouca coisa foi reaproveitada do ano passado.
– Por mais que esteja sentado na praça vendo as pessoas dizerem: "que lindo", sem saber que foi eu, ali sentado, quem fez, é gratificante. Cada um aqui tem a sua parte e está ficando lindo – declara.
Na sala que ocupa no barracão, ele finaliza em torno de 15 peças a cada oito horas. Aí, entra o trabalho da equipe que instala os adereços nos postes, nas praças, nos canteiros. Assim, a cidade se transforma e mergulha na magia natalina que encanta cidadãos e turistas vindos de todas as partes do país e do mundo.
– É um trabalho artesanal, mas sofisticado. E tem toda uma responsabilidade econômico social por trás. Em função do momento pelo qual o país está passando, eles vêem aqui uma oportunidade _ avalia Leodir Augusto Handow, dono da 360º Engenharia.
A fabricação dos enfeites começou no início de agosto com 30 funcionários da 360º Engenharia e Entretenimento, passou para os atuais 60, mas ultrapassa os 100 se considerados os terceirizados que atuam nos fretes e outros serviços.