Dos cinco módulos da Brigada Militar que funcionavam em Caxias do Sul até 2016, apenas dois ainda estão ativos. Localizados nos parques dos Macaquinhos e no Cinquentenário, ambos são utilizados atualmente como unidades administrativas.
Quanto às demais estruturas, a do bairro Cruzeiro foi cedida para a Associação de Moradores e a que ficava no bairro Fátima, demolida para a instalação de um parquinho. O maior problema, no entanto, é com relação ao antigo posto da BM no bairro Santa Fé. Em desuso há dois anos, o imóvel está em situação de abandono, é alvo frequente de depredação e abrigo para usuários de drogas.
Em agosto deste ano, após cobranças da comunidade, o presidente da Associação de Moradores do Bairro (Amob) Santa Fé, Joevil Reis da Silva, encaminhou ofício solicitando providências do poder público em relação ao espaço, que fica na Avenida Santa Fé, ao lado da unidade básica de saúde (UBS) e próximo à Escola Municipal Angelina Sassi Comandulli. Na última semana, Joevil se reuniu com o titular da Coordenadoria de Relações Comunitárias, Claudir de Bittencourt. Conforme o líder comunitário, a prefeitura não deu perspectiva sobre o que será feito com a área.
— Só disseram que não há dinheiro para fazer nada. Sugeriram demolir. Talvez seja até melhor, para depois quem sabe construir um parquinho para as crianças. É ruim ter um espaço assim, sem uso, perto de crianças e de tanta gente que utiliza a UBS — comenta Reis.
Um dos dificultadores para reutilização seria a própria arquitetura do módulo. Com arco de concreto que remete à identificação visual do órgão de segurança, a estrutura precisaria ser descaracterizada, com boa parte demolida. Outra proposta sugerida pelo presidente da Amob seria a utilização do espaço para a Visate, alternativa também descartada pela prefeitura.
— O ônibus para a poucos metros daqui e os motoristas e cobradores usam os banheiros da UBS. Talvez fosse interessante haver uma parceria com a Visate para que os funcionários usassem essa estrutura. O importante é não deixar ela vulnerável do jeito que está — complementa.
Invasões
Apesar de a Amob ter fechado o acesso ao antigo módulo com cadeado e cercado o terreno, as medidas não impedem as invasões. Vidros da fachada estão quebrados e no interior há resquícios de invasões. Em uma das paredes há marcas de algo queimado.
— Além de tudo, há perigo de incendiar o lugar. Já encontramos colchão ali dentro e marcas de fogo — relata o presidente da Amob.
Ao Pioneiro, o coordenador de Relações Comunitárias, Claudir de Bittencourt, assegurou que há um processo em andamento para definir o uso futuro do antigo módulo. Uma das propostas analisadas seria justamente a ampliação de uma área de lazer.
— Existe um processo administrativo em andamento e estamos analisando alternativas para uso do local — ressalta Bittencourt.
Apesar disso, não há previsão de quando haverá definição sobre a área.
Projeto
Os módulos da BM faziam parte de um projeto iniciado no começo da década de 1990, que buscava descentralizar o policiamento ostensivo. Com a crescente contingência de efetivo e a ineficiência das unidades, gradativamente, o programa perdeu força, até ser extinto.
Funcionou no Cruzeiro; no Fátima, nem tanto
No bairro Fátima, onde antes existia a estrutura de um módulo da Brigada Militar, hoje não há nem sinal. A primeira impressão é positiva: o antigo imóvel foi demolido e no lugar foram instalados brinquedos para ampliação de um parquinho para as crianças. A localização não poderia ser mais propícia. A praça, onde está localizada a estrutura fica próximo de duas escolinhas, uma unidade básica de saúde (UBS) e duas igrejas.
Basta se aproximar, no entanto, que a percepção muda. Sem manutenção, os brinquedos estão danificados ou próximos de quebrar. O gramado ao redor também não recebe a devida capina e há lixo espalhado pela área.
— A ideia era até boa, mas os brinquedos estão todos quebrados, não tem água para as crianças e nem segurança. Tem sempre gente usando drogas, raramente dá para trazer as crianças pra brincar — comenta Fabiana Marques, moradora do bairro.
Outro morador da região, o operador de prensa Roberto da Silva, reforça as críticas sobre a falta de segurança do local. Apesar de levar as filhas na área de lazer, ele comenta que a comunidade preferia que o módulo tivesse continuado:
— É muito inseguro por aqui. O ideal seria ter uma guarita da Guarda ou da Brigada, principalmente porque aqui ao redor tem escolas, igrejas, UBS. Não adianta ter parquinho, se não temos segurança para trazer nossos filhos.
Já no bairro Cruzeiro, o antigo módulo hoje é usado pela Associação de Moradores. Conforme o presidente da entidade, Nelson Acioly, a comunidade faz pleno uso da estrutura.
— Cedemos o espaço para eventos, festas, chás de fralda, brechós. E ainda oferecemos aulas de kickboxer três vezes por semana — comenta.
Ainda assim, segundo ele, o desejo da comunidade também seria pelo retorno da BM.
— O ideal seria que o policiamento fosse retomado. Queríamos voltar a utilizar o imóvel que tínhamos antes, com as devidas reformas, e poder devolver esse espaço para uso da Brigada — ressalta Acioly.
A estrutura hoje está conservada. A pintura foi renovada recentemente e há equipamentos no interior do espaço para uso dos moradores.