A última segunda-feira, 10 de setembro, mal havia amanhecido quando Marilene Carvalho, 61 anos, despertou com um pedido de ajuda. O barulho de palmas de dois caxienses ecoou em frente à casa da aposentada, que mora com a família na localidade de Aratinga, em Itati, às margens da Rota do Sol. Motorista e passageiro pediam ajuda porque foram castigados pelas más condições da rodovia naquele trecho: além do pneu do carro ter furado ao cair em um buraco, o impacto provocou danos no tanque de combustível. O carcaca do pneu, na frente da casa da aposentada, ficou como lembrança de mais um socorro que prestou a motoristas que rumam ao Litoral.
_ Os buracos sempre foram nossos vizinhos aqui. Então, não é novidade quando alguém vem pedir socorro. Para o pessoal que chegou aqui na segunda, emprestei um tonel para colocar a gasolina, o telefone, uma mangueira. O que preocupa é que para desviar dos buracos, os carros têm que invadir a pista contrária _ comenta a aposentada.
Para se ter ideia do quanto os buracos impactam na rotina dos motoristas, no último fim de semana _ durante o feriadão de Sete de Setembro _ o borracheiro Paulo Angelo Pereira, 33, atendeu a dezenas de motoristas. A borracharia que Pereira administra também fica em Aratinga, no km 1 da ERS-486, e é a única da localidade.
_ O outro borracheiro que também atende aqui Rota do Sol me contou que foram 80 chamados em um só dia do feriadão. Faz tempo que a estrada está ruim. Para mim, chegaram uns 50 motoristas pedindo ajuda _ calcula Pereira.
Além do trecho da Rota em direção à praia, o Pioneiro percorreu as principais rodovias que ligam Caxias do Sul a Porto Alegre (ERS-122) e Bento Gonçalves (RSC-453) na última quarta-feira. Ainda que operações tapa-buracos tenham, de forma paliativa, amenizado problemas crônicos no asfalto, a qualidade do remendo acaba tornando a pista instável e com falhas. Enquanto parte da ERS-122 recebe investimentos do governo do Estado, o trecho da RSC-453 entre Bento Gonçalves e Farroupilha amarga buracos, rótulas perigosas, falta de acostamento e remendos malfeitos.
_ Nota-se que os buracos são tapados de forma rápida. Quando abre, logo é tapado. Mas também não dura muito tempo fechado. O asfalto não tem uma estrutura forte, consolidada, e acaba abrindo com facilidade _ opina o diretor de marketing do Farina Park Hotel, Eduardo Vasselai Farina.
O QUE O PIONEIRO VIU
Rota do Sol (RSC-453 e ERS-846)
A rodovia mais usada pelos moradores da Serra para ir ao Litoral é cenário frequente de buracos e falhas na pista. Ao contrário de anos anteriores, no entanto, a maior parte da pavimentação asfáltica está em bom estado.
PAVIMENTAÇÃO: até a localidade de Lajeado Grande, em São Francisco de Paula, a rodovia está em boas condições. Não foram encontradas crateras e a sinalização horizontal era boa. A partir de Lajeado Grande, os problemas que começam a aparecer _ principalmente buracos _ castigam moradores e turistas, já que em feriadões, cerca de 10 mil carros chegam a usar a rodovia em um único dia. A situação fica mais arriscada a partir do km 240 da RSC-453, em Tainhas, localidade que pertence a São Chico. Há buracos no meio das duas faixas, obrigando o motorista a recorrer ao acostamento para evitar prejuízos. Segundo os moradores, eles existem desde o início do ano.
_ Nós ajudamos o pessoal, principalmente, a pedir ajuda, porque o sinal de celular é ruim aqui. A maior parte dos motoristas é prejudicado com pneu furado _ revela Rafael Veiga, proprietário de uma tenda na ERS-486.
SINALIZAÇÃO E PODA: segundo vizinhos, a poda e manutenção dos acostamentos são feitas com alguma regularidade. Há poucas placas, no entanto, que identifiquem os quilômetros e situem o motorista sobre sua localização. A situação pode dificultar quando é necessário pedir socorro, por exemplo, já que não é fácil identificar com precisão em que ponto da rodovia se está.
O QUE DIZ O DAER: na ERS-486 e na RSC-453, na localidade de Tainhas, por enquanto, serão realizados apenas serviços de manutenção asfáltica. Eles devem ocorrer a partir da próxima semana, se o tempo colaborar. O Daer não informou, especificamente, quais trechos receberiam o tapa-buracos.
ERS-122 (Farroupilha)
Rodovia tem fluxo intenso de carros e caminhões por ligar Caxias do Sul a Porto Alegre. Os buracos começam a se espalhar a partir do km 250, logo após o trevo da Tramontina, no entroncamento com a RSC-453.
PAVIMENTAÇÃO: justamente por acolher tráfego intenso diário, operações tapa-buraco são mais frequentes no trecho. As crateras que incomodavam motoristas nos últimos dias, especialmente no feriadão, deram espaço a remendos em diversos pontos. O remendo torna a camada asfáltica bastante irregular, especialmente entre os kms 238 e 240, na descida da Serra.
_ Nós já tivemos problemas bem graves nas condições desta rodovia, mas algumas medidas amenizaram _ observa o comandante do GRV de Farroupilha, Marcelo Stassak.
Outro trecho, entre o viaduto torto e a saída para Flores da Cunha também tem pontos esburacados, como nas proximidades do viaduto da ETE Tega.
SINALIZAÇÃO E PODA: a falta de acostamento ao longo da ERS-122 é um dificultador ao motorista. A reportagem também verificou diversos pontos em que a vegetação está crescida e se sobrepõe a placas de sinalização.
O QUE DIZ O DAER: para o trecho, conforme o departamento, está prevista a reconstrução do pavimento, com fresagem, que é o corte de uma ou mais camadas de um pavimento asfáltico, além do recapeamento dos pontos críticos. O trecho a partir do Viaduto Torto não está incluído nesses reparos.
RSC-453 (Farroupilha a Bento Gonçalves)
É também chamado de Rota do Sol o trecho da RSC-453 que liga os municípios de Farroupilha e Bento Gonçalves e segue até Garibaldi, no entroncamento com a BR-470. A estrada com intensa movimentação de motocicletas, automóveis e caminhões se mostra ainda mais perigosa no km 107, próximo ao acesso à localidade de Barracão, em Bento Gonçalves. O acesso secundário ao município também é o caminho mais curto para o roteiro Caminhos de Pedra. Pelo alto fluxo, já esteve no topo do ranking de acidentes fatais em rodovias gaúchas. No último levantamento divulgado no ano passado pela Brigada Militar, a estrada ficou em quarta colocação entre as que mais matam.
PAVIMENTAÇÃO: além de diversos buracos distribuídos ao longo da rodovia (que são tapados com certa frequência, segundo o GRV de Farroupilha), há o mesmo problema verificado na ERS-122: os remendos são de má qualidade. E estão espalhados por toda a rodovia. O problema é histórico e afeta toda a comunidade, especialmente moradores e trabalhadores da região da Linha Sertorina, que é dividida pela RSC-453.
_ Há o projeto de um trevo próximo ao hotel há pelo menos 20 anos. E isso estaria atrelado à duplicação da rodovia, mas poderia ser executado também sem que fosse prolongada. A comunidade de Sertorina usa muito a estrada, e ajudaria muito a todos nós, comunidade e empresários _ pontua Eduardo Farina, coordenador de marketing do Farina Park Hotel.
A própria equipe do Farina Park reformou o acesso ao hotel, inserindo paralelepípedos que acabaram facilitando o acesso aos hóspedes, mas também facilitando os que usam o espaço como retorno.
SINALIZAÇÃO E PODA: ao contrário de outras ocasiões, em que o mato predominava ao longo da rodovia e encobria até mesmo placas, o serviço de poda tem sido feito com frequência, conforme apurou o Pioneiro. Há placas que indicam limites de velocidade, ainda que em número não tão expressivo.
O QUE DIZ O DAER: serão realizados serviços de reconstrução do pavimento, com fresagem e recapeamento dos pontos críticos. As obras devem iniciar, se houver tempo bom, na próxima semana.