Vinte e duas pessoas tiraram a própria vida nos primeiros seis meses deste ano em Caxias do Sul, segundo dados da Secretaria Municipal da Saúde (SMS). O número, no entanto, representa um universo menor do que a realidade. Muitos dos casos acabam sendo mascarados em outros índices de morte, como acidentes de trânsito, por exemplo. Isso ocorre normalmente devido ao receio que muitas famílias têm de ser alvo de julgamento ao admitir a morte auto-infligida de alguém próximo.
O fato de o suicídio ainda ser uma questão cercada de preconceitos é um dos fatores que dificultam o alcance dos serviços de apoio emocional e clínico e a exposição da condição de quem sofre, em silêncio, de alguma vulnerabilidade emocional.
– Quando se diz que suicídio e depressão são "frescura", se fortalece o tabu que está por trás desses assuntos. É preciso compreender que o ato de desespero tomado por aquela pessoa não foi uma forma de chamar atenção e sim de dar um fim a uma dor que estava acabando com ela. Falta um olhar sensibilizado, nós perdemos a humanidade – comenta a coordenadora de divulgação do Centro de Valorização da Vida (CVV) de Caxias do Sul, Arminda Bertuzzi.
Os números, no entanto, mostram que é preciso ter uma maior atenção: de acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), mais de 800 mil pessoas morrem por suicídio a cada ano no mundo. Para se ter um parâmetro de comparação, esse índice representa quase o dobro do total de homicídios no planeta, estimado em 470 mil.
Em Caxias do Sul, foram registrados 259 casos de pessoas que morreram por suicídio nos últimos cinco anos e meio (de 2013 até o primeiro semestre de 2018). Com relação às tentativas, foram outras 1.379 no mesmo período.
– Uma vez eu assisti a uma palestra de um especialista em saúde mental norte-americano na qual ele demonstrava como a mortalidade por infarto diminuiu consideravelmente nos últimos 20 anos. Nesse mesmo período, ele apontou que as mortes por suicídio só aumentaram. Assim, é preciso falar sobre o tema para que possamos ampliar o debate sobre prevenção – analisa o psiquiatra João Paulo Brenner Junior.
OS NÚMEROS*
Suicídios
Total: 22 (entre eles, cinco idosos).
Homens: 17
Mulheres: 5
Tentativas
Total: 189
Homens: 51
Mulheres: 138
* 1º semestre de 2018
Fonte: Secretaria Municipal da Saúde
O amarelo do cautela
Justamente com o propósito de reverter o preconceito acerca do tema que em 2015 criou-se no Brasil a campanha Setembro Amarelo. Desde então, os municípios realizam atividades ao longo do mês visando conscientizar sobre a prevenção do suicídio.
A ação foi idealizada e é promovida pelo Centro de Valorização da Vida (CVV). Em Caxias, a campanha foi instituída no ano passado, a partir de lei proposta pela vereadora Paula Ioris (PSDB). Neste segundo ano de atividades, a ação estimulou diferentes setores a se articularem no fortalecimento da rede de atendimento. Entre as iniciativas, em 2017 foi criado o Comitê de Prevenção e Tratamento do Suicídio de Caxias do Sul, composto pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), Secretaria Municipal da Saúde, CVV e Câmara de Vereadores.
– A ideia é tornar as ações mais frequentes e estabelecer um debate mais recorrente sobre o tema. Já realizamos capacitação de profissionais da área da saúde para melhoria da escuta e diminuição do preconceito no próprio atendimento – comenta o psiquiatra João Paulo Brenner Junior, integrante do comitê.
Outra mobilização surgida foi a do Grupo de Trabalho Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio. Instituído pela Secretaria da Saúde, o colegiado é formado por profissionais que integram as Redes de Atenção Básica e Psicossocial de Caxias. Em agosto, o grupo também realizou a capacitação de 100 servidores que integram essas redes.
Neste ano, a principal atividade do Setembro Amarelo em Caxias será a I Jornada de Promoção da Vida e Prevenção do Suicídio, que ocorre no dia 18. O evento é voltado especialmente a profissionais das áreas da saúde, educação e assistência social. A programação se estenderá das 8h30min até as 16h30min e prevê palestras sobre suicídio, propostas de prevenção e apresentações sobre auto-mutilação e comportamento suicida na adolescência. A participação é gratuita, mas é necessário inscrever-se antecipadamente pelo telefone (54) 3290-4494.
Voluntários
Para ser voluntário do CVV, os requisitos são ter mais 18 anos e dispor de quatro horas semanais. O contato é pelo e-mail caxiasdosul@cvv.org.br.