Ainda que 19 pessoas tenham perdido a vida em acidentes de trânsito em Caxias do Sul neste ano, estatisticamente esse é o menor número dos últimos 12 anos. Quando comparada a 2010, por exemplo, a diminuição chega a 55%. A combinação de mais fiscalização e ações educativas promovidas pelos órgãos de trânsito nesse período teriam ajudado nessa redução porque influenciam diretamente no comportamento dos motoristas.
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Sabendo que o motorista reduz o excesso de velocidade quando tem noção de que é monitorado, a Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade, por exemplo, tem apostado nas operações com radar móvel nas ruas de Caxias. Se antes eram feitas de uma a duas operações na semana, o número passou para até quatro ações semanais.
— Agimos como um pai na educação dos filhos: se dá certo determinada atitude, vemos que está surtindo efeito, insistimos nela. E é assim com o uso do radar móvel. É o que altera mesmo o comportamento do motorista, é o que tem mudado o trânsito daqui — destaca o titular da secretaria, Cristiano de Abreu Soares.
Os reflexos desse endurecimento na fiscalização também são revelados pelos números: entre agosto do ano passado e julho de 2018, 7.073 motoristas foram flagrados acima do limite de velocidade. De agosto de 2016 a julho de 2017, foram 5.012, um crescimento de 39,9%. Com os radares, os fiscais também comprovaram o mau comportamento motoristas, que colocam a si e aos outros em perigo: nas perimetrais de Caxias, entre dezembro de 2017 e junho deste ano, pelo menos seis pessoas foram flagradas dirigindo acima de 112 km/h (o limite da via é de 60 km/h).
Um dos condutores chegou a 140 km/h, superior ao dobro permitido na Perimetral Norte, no bairro São José.
Outro trecho citado pelas autoridades de trânsito como crítico para a imprudência é a pequena Rua Jacó Brunetta, no bairro Santa Catarina: num trecho onde a velocidade máxima é de 40 km/h, vários motoristas chegam a mais de 70 km/h. Nesses casos, quando a velocidade é superior à máxima em mais de 50%, o motorista comete infração gravíssima, que implica em suspensão imediata do direito de dirigir, sete pontos na carteira de habilitação e multa de quase R$ 900.
Bebida e direção
Criadas para coibir a ingestão de álcool por motoristas — outro comportamento de risco que é causa de muitos acidentes com morte —, as blitze do Balada Segura, que contam com participação da Brigada Militar e Guarda Municipal, também revelam imprudência: 1.016 motoristas bêbados foram flagrados dirigindo neste ano. Só no último fim de semana, mais de 23% dos condutores abordados estavam alcoolizados e no volante.
— Há muita gente que acha que o 13º salário do fiscal de trânsito é pago com dinheiro das multa, que eles têm meta para multar tantos carros por mês... Mas não é assim: esse dinheiro só pode ser investido em educação, sinalização com engenharia e fiscalização de trânsito, que é exatamente o que estamos fazendo — explica o secretário.
Meses sem mortes
Um estatística recente orgulha a Secretaria de Trânsito: desde 2007, quando se iniciou controle de acidentes, foi a primeira vez que não houve mortes durante um mês inteiro, como nos casos de janeiro e maio.
Educação no trânsito é a melhor aposta
A aposta na educação segue nos planos da Secretaria de Trânsito, Transportes e Mobilidade de Caxias. Uma nova campanha será lançada em setembro e trata de um tema que cresce cada vez mais: o uso do celular ao volante. De janeiro a julho deste ano, 1.716 pessoas foram flagradas fazendo uso do aparelho enquanto dirigiam. Esse poderia ter sido, inclusive, o motivo de um acidente que resultou na morte de um idoso, em julho. Conforme o boletim de ocorrência, policiais militares que estavam próximos ao trecho e prestaram o primeiro atendimento informaram que a condutora da caminhonete admitiu ter se distraído com o celular pouco antes de perder o controle da direção.
É para evitar que atitudes como essa se repitam que a Escola de Trânsito forma novos agentes a cada mês. Pelo menos 6 mil alunos de escolas públicas e particulares participaram de palestras, encontros com fiscais de trânsito e outras iniciativas que têm por foco mudar o comportamento.
Além disso, os fiscais de trânsito fazem o diagnóstico da necessidade dos colégios visitados para implantação de ações práticas após um estudo técnico. Exemplo: a Escola Estadual de Ensino Médio São Caetano, no bairro Bom Pastor, está formando cerca de 20 pessoas, entre pais, alunos e professores. Todos participaram de uma qualificação na secretaria e têm a missão de perpetuar o conteúdo. O intuito? Que a cultura da paz do trânsito saia do papel e invada as ruas do bairro.
— Nós vamos trabalhar no âmbito da natureza, das ciências humanas, em diversos pontos o assunto trânsito. E tudo tem mudado: alunos que gostavam mais de briga, confusão, estão mais calmos, mais centrados. E tivemos resultados práticos após a visita dos agentes, como a troca de estacionamento dos ônibus, que era uma demanda nossa — comenta a diretora Roberta Moraes.
Além de crianças e adolescentes, a Escola de Trânsito também atua entre os motoristas. Conforme a fiscal Sandra Santos de Oliveira, o projeto Condutor Cidadão, que existe há cerca de 10 anos, promove encontros nos centros de formação de condutores (CFCs) com motoristas em primeira habilitação como forma de reforçar a importância de observar as normas de trânsito.
— É só por meio da educação que conseguiremos mudar o mau comportamento dos motoristas — afirma.
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Ação combate ultrapassagens
A ultrapassagem é uma das maiores causas de acidentes graves registrados no Estado. Com a intenção de conscientizar os motoristas do risco de ultrapassar em locais proibidos, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) realizou ontem uma ação coordenada de combate às ultrapassagens no RS. Na Serra, as equipes atuaram no km 158 da BR-116, em Caxias do Sul, e no km 127da BR-285, em Vacaria. Durante duas horas de fiscalização, nove motoristas foram autuados por ultrapassagem em local proibido, em pontos considerados críticos nas rodovias.
No trecho caxiense, conforme a PRF, uma motorista ultrapassou em local proibido (faixa contínua), obrigando o condutor que seguia no sentido oposto a desviar para o acostamento para evitar a colisão frontal. Nesse caso, ela recebeu duas autuações: uma por ultrapassar em local proibido e outra por forçar ultrapassagem.
As multas vão de R$ 1.467,35, por ultrapassar em local proibido, até R$ 2.934,70, no caso do veículo que forçar ultrapassagem. A prática pode, inclusive, resultar em suspensão da CNH. A motorista autuada duas vezes ontem à tarde dirigia um Fiat Punto vermelho emplacado em Passo de Torres (SC).