Neste final de semana, a comunidade do distrito de Criúva, em Caxias do Sul, faz uma homenagem a um homem admirado por sua simplicidade e espírito comunitário. No ano em que completaria 100 anos, o padre Pedro Rizzon será eternizado na figura de uma estátua, instalada em frente à Paróquia Nossa Senhora do Carmo e que será entregue no domingo. O ato ocorre no mesmo dia em que o religioso morreu: 19 de agosto.
Rizzon nasceu em São Marcos em 26 de abril de 1918. Frequentou os cursos de Filosofia e Teologia, mas foi no início da década de 1970 que começou a atuar ativamente como pároco no distrito de Criúva. Permaneceu naquela comunidade durante 22 anos, tempo em que passou a ser admirado e querido pelos moradores.
— Ele era uma pessoa muito culta e carismática. Costumava visitar as famílias, almoçar com elas, parava para conversar e abençoava todo mundo. Também fazia pessoas da comunidade se conciliarem, era muito pacificador. Ninguém nunca teve tantas ligações com as pessoas como ele. Foi a grande motivação para termos criado a estátua — comenta o amigo Luiz Guiomar Gonçalves dos Reis.
Quem o conheceu ainda guarda a imagem do padre Pedro caminhando pelas ruas de Criúva usando roupas simples e bombacha remendada.
— Vivíamos dizendo "mas padre Pedro, o senhor fica andando com essas roupas rasgadas" e ele respondia: "mas é só vestido desse jeito que todas as pessoas têm coragem de vir até mim". E realmente, ele conseguia falar desde o empresário até o morador da rua com a mesma atenção — comenta Cassia Margarete Ramos de Castilhos, também a moradora de Criúva.
— Lembro de quando participamos de um encontro em Vacaria. Ele foi com as vestes gastas, aquele traje gaúcho meio atiradão, botas sujas. Tinha gente de vários Estados e todos ficaram desconfiados. Aí, quando ele celebrou a missa, deixou todos de queixo caído. Depois disso, todos ficavam seguindo-o pelo seminário. Onde quer que ele fosse, conquistava a todos — relata o amigo Marcos Lorandi.
Resgate da Festa do Divino
O padre Pedro Rizzon também foi um dos principais responsáveis pela expansão da Festa do Divino Espírito Santo. Quando o religioso chegou a Criúva, o evento durava apenas três dias e já não tinha tanta expressão entre os fiéis. Porém, ao lado do amigo Jorge de Oliveira Rodrigues, o religioso ajudou a engrandecer novamente a festividade.
— Fazia uns 30 anos que não tínhamos mais festas grandes. Aí, eu contei para ele que costumávamos fazer, no passado, louvações com a bandeira. Ele achou lindo e disse que devíamos tentar novamente. Isso foi no início de 1980. Começamos a cantar nas casas, mas eram músicas sertanejas. Todo mundo acabou gostando e isso me motivou a criar uma letra específica para a bandeira do Divino, que até hoje é hino da festa. Foi ali que a festa começou a crescer e continua até hoje — destaca Rodrigues.
Até hoje, a comissão organizadora mantém a tradição de visitar casas, empresas, rodeios e órgãos públicos para divulgar a fé no Espírito Santo e entoar o tradicional hino religioso. Na época da Festa do Divino, um dos eventos religiosos mais tradicionais do interior do Rio Grande do Sul, os cerca de 2,5 mil moradores veem a população do distrito ser multiplicada por 10 durante a festa tamanha a procura dos visitantes.
Também foi do padre Pedro a iniciativa de inserir elementos tradicionalistas no evento, que tem origem na cultura portuguesa.
— Ele foi o primeiro padre a introduzir as missas crioulas. Ele valorizava muito a cultura gaúcha. Trabalhou em Caxias, Torres, São Marcos e São Francisco de Paula e lá se envolveu muito com os costumes gaúchos. E tudo isso que ele trouxe foi incorporado de acordo com o perfil da nossa comunidade. Ele era muito inteligente — ressalta o amigo Luiz Guiomar dos Reis.
Monumento conquistado pela própria comunidade
Após a morte do padre Pedro Rizzon, em 2004, a comunidade começou a debater a ideia de instalar uma estátua dele junto à Igreja Matriz. Foi há cerca de um ano e meio, no entanto, que os moradores criaram uma comissão. Nesse período, o grupo conseguiu arrecadar cerca de R$ 130 mil. Desses, em torno de R$ 50 mil foram investidos na estátua, confeccionada em bronze. O restante foi usado na construção e decoração do entorno do monumento e para a criação de um memorial, dentro da Igreja Matriz, onde serão colocadas fotos do padre.
— Tudo foi custeado com dinheiro de doações, de moradores e de entidades — elogia o presidente da comissão, Marcos Lorandi.
Embora tenha havido acompanhamento efetivo da subprefeitura, a prefeitura de Caxias colaborou apenas com execução de serviços no entorno da estátua. Além do monumento que será inaugurado neste domingo, uma rua do distrito foi batizada com o nome do sacerdote. Agora, conforme Lorandi, a ideia é que a comunidade inicie a mobilização para conseguir a canonização.
— Ele, definitivamente, foi uma pessoa muito especial, um sábio, um ícone para todos os moradores por onde quer que tenha passado. Nossa ideia sempre foi a de tornar ele um santo. Demos o primeiro passo, conseguindo viabilizar a construção da estátua.
Professor sensível e exemplar
Por trás dos hábitos simples, da bombacha remendada e da cordialidade e empatia com o próximo, Pedro Rizzon era um homem admirado pela sua inteligência. Além da atuação como pároco, por muitos anos destacou-se como professor na Universidade de Caxias do Sul (UCS), onde lecionou Sociologia nos cursos de Economia, Administração de Empresas e Ciências Contábeis.
Ex-reitor da UCS, Luiz Antonio Rizzon sempre esteve bastante próximo do padre Pedro. Foi seu aluno no Seminário Nossa Senhora Aparecida, em Caxias e, anos depois, colega de trabalho, quando passou a atuar como professor antes de assumir a reitoria.
— Era um grande professor. Inclusive foi um dos primeiros professores da UCS, pois foi docente da Faculdade de Economia, que foi o primeiro curso da UCS. Além da grande capacidade intelectual, tinha um vasto conhecimento sobre cultura — destaca Luiz Antonio Rizzon.
Além da universidade, o padre criou o primeiro ginásio (modalidade de ensino hoje equivalente aos últimos anos do Ensino Fundamental) em São Francisco de Paula e também foi diretor de escola em Flores da Cunha.
Conforme Luiz Antonio, além da calma e do conhecimento como docente, a característica mais marcante do padre era a sensibilidade com que tratava o conteúdo.
— Ele se emocionava muito, se envolvia de verdade pelo assunto e chorava. Continuava a falar e chorava, mesmo quando era professor na universidade. Todos os alunos gostavam dele, pois tinha muito respeito por qualquer pessoa — destaca.
PROGRAMAÇÃO
# 6h30min: romaria a pé, com saída da Igreja Matriz de São Marcos.
# 10h30min: chegada da romaria e missa. Após a celebração, ocorrerá a inauguração da estátua.
# 12h: almoço com churrasco, galeto, saladas, pão e vinho. Os ingressos custam R$ 30 (adulto) e R$ 15 (crianças acima de sete anos).
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