Com raras exceções, toda mulher tem plena capacidade de alimentar o filho recém-nascido por meio da amamentação. A partir de hoje, quando se inicia a Semana do Aleitamento Materno, municípios brasileiros centram atenções em iniciativas que lembrem dos benefícios que o ato de dar o peito ao bebê podem trazer a mãe e ao filho.
Estima-se que no país apenas 36% dos bebês se alimentem exclusivamente do leite da mãe até o sexto mês, que é o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Ainda que a Secretaria Municipal de Saúde afirme que 77% dos recém-nascidos de Caxias recebam o leito materno, não é sabido até que mês este hábito segue _ o indicado é que o aleitamento materno seja diário para crianças de até dois anos.
Na cidade, uma programação diversificada desenvolvida em unidades básicas de saúde (UBS), hospitais e até em um shopping lembra da importância deste ato, conforme destaca a pediatra e coordenadora do Núcleo de Atenção à Criança e ao Adolescente da secretaria municipal da Saúde, Cláudia Panno de Oliveira.
— O Brasil avançou muito, mas ainda faltam leis trabalhistas que facilitem a amamentação e a permanência da mãe em casa, com o filho, até o sexto mês. Isto, sim, ajudaria a elevar os índices de aleitamento materno: mais empresas cidadãs. Quando a criança é amamentada, ela adoece menos e, logo, a mãe falta menos. O empresário precisa computar isso também — acredita Cláudia.
A médica se refere ao programa Empresa Cidadã, que incentiva estabelecimentos a conceder a licença-maternidade de 180 dias para suas funcionárias. Em Caxias do Sul, cerca de 20 metalúrgicas integram o programa, além de empreendimentos de diversos setores.
É importante lembrar ainda que a rede pública oferece orientação a mães em todas as UBSs, além de grupos de gestantes ou focados em aleitamento materno. Outro importante serviço é disponibilizado gratuitamente pelo Hospital Geral (HG): o SOS Amamentação, que funciona 24 horas, todos os dias da semana. Qualquer pessoa pode buscar orientações sobre aleitamento materno pelo telefone 0800-642-4141. Do outro lado da linha, profissionais da ala materno-infantil do HG, como a pediatra Maira de Carli, tiram as dúvidas que chegam.
—A maior parte das mulheres que usa este número são pacientes de outros hospitais. Quando internada no HG, nós procuramos sanar todas as dúvidas das mães antes mesmo de terem alta — afirma Maira.
O leite materno é rico em nutrientes importantes para o desenvolvimento da criança, e o processo de mastigação e fala também são trabalhados com o aleitamento. Quando o bebê suga o seio da mãe, estimula estruturas faciais que promovem o crescimento adequado dos dentes, da mandíbula e da língua.
"A amamentação é por livre demanda"
A ala materno-infantil do HG está enfeitada para celebrar o Agosto Dourado, período em que os profissionais do setor trabalharão, ainda mais forte, sobre o tema amamentação. O HG também celebra os 15 anos como Hospital Amigo da Criança com a missão de promover o apoio ao aleitamento materno. Em um dos quartos da ala de internação, Nelvi Rienheimer, 43 anos, amamentava a pequena Amanda, de sete dias. A naturalidade entre mãe e bebê durante a amamentação identificava que Nelvi não é mãe de primeira viagem: tem uma filha de 20 anos, o que fez com que tivesse mais experiência neste assunto. No entanto, ela diz que amamentar ficou ainda mais fácil com Amanda porque contou com suporte importante da equipe do HG.
— É um momento só meu e da Amanda, uma emoção inexplicável. A equipe toda é sensacional, está sempre aqui para ajudar e tirar dúvidas — elogiou.
Nesta primeira semana, Amanda mama a cada 30 minutos, com intervalos de até uma hora. Quem diz a quantidade de vezes que o bebê precisa ser amamentado é ele, lembra a pediatra Maira de Carli.
—É um mito dizer que a criança tem de mamar a cada três horas. É livre demanda, ela é quem mostra a fome que sente. É importante também ficar atento aos sinais de fome. Bebê que fica bastante tempo acordado, que resmunga, está com fome. O choro é um sinal tardio, não é preciso nem é bom esperar por ele — ensina Maira.
O HG também conta com protocolos que facilitam a pega entre mãe e bebê: assim que nasce, a criança é colocada no peito da mãe para que se habitue ao espaço. Um cantinho no hospital também foi criado exclusivamente para que mamães possam se sentir mais confortáveis em amamentar.
— Sabemos que o uso de mamadeira e bico podem prejudicar a amamentação. Isto porque a criança faz confusão na hora de mamar, e contribui para machucar a mama da mãe. Ele vai tentar abocanhar só o mamilo porque está acostumado com o bico. É importante que a mãe não desista do ato de amamentar — reforça a médica.
Esforços para derrubar os constrangimentos
Além dos serviços oferecidos na rede pública, há profissionais que se especializaram na oferta de serviços de aconselhamento e suporte para amamentar. São fisioterapeutas, nutricionistas e doulas como a fonoaudióloga Larissa Simon, 36 anos. Ela já ajudou dezenas de mulheres a superarem dúvidas e dificuldades na hora de amamentar. A maior parte do público que busca ajuda são mulheres que estão na segunda gestação e que não tiveram uma experiência positiva na primeira tentativa.
— As dificuldades se relacionam a não conseguir acertar o bebê no peito ou o pouco ganho de peso deles. E aí, a mãe começa a colocar em cheque a qualidade do seu leite. Não existe leite fraco nem pouca produção de leite. Quanto mais o bebê for amamentado, mais quantidade será produzida — esclarece Larissa.
Mãe de duas meninas, Larissa lembra outro desafio entre mulheres que defendem o aleitamento materno: amamentar em público. Há ambientes que ainda são difíceis para se amamentar, como praças de alimentação ou restaurantes.
— O que percebemos é que mães de bebês bem pequenos recebem menos olhares maldosos que mães que amamentam crianças com um ano, dois. Ainda assim, no Brasil, as coisas têm melhorado. Na Europa, as pessoas falam que é nojento, que não pode amamentar em público — compara.
Ao amamentar uma das filhas, Larissa já recebeu olhares indiscretos de homens que a julgaram por mostrar parte do seio em ambiente público. Um constrangimento que ela defende que precisa acabar e que as próprias mulheres podem ajudar a eliminar.
Por isso, a doula é uma das organizadoras de um mamaço que ocorre neste domingo, em meio à Feira Sem Fronteiras, na Praça das Feiras. A ideia é naturalizar a amamentação em lugares abertos e com intensa circulação de pessoas. Se chover, o mamaço será realizado na biblioteca da Estação. A iniciativa é do Nascer Sorrindo, grupo caxiense de apoio ao parto humanizado e à amamentação.
PROGRAMAÇÃO
Quarta-feira
:: 8h30min: às 8h30min, no Hospital Geral, haverá celebração pelos 15 anos do título Hospital Amigo da Criança. Em seguida, haverá uma mesa-redonda sobre amamentação com a pediatra Cláudia Panno de Oliveira, Fernanda Grossi, ginecologista do HG; Fernanda Gava, enfermeira do Hospital Saúde; e Barbara Lorencet, nutricionista do Hospital do Círculo.
Domingo
:: Roda de conversa sobre amamentação, às 14h, na Biblioteca Parque da Estação Férrea. Encontro é aberto ao público. Após, haverá um mamaço em meio à Feira Sem Fronteiras, na Praça das Feiras. Se chover, o mamaço será realizado na própria biblioteca.
Terça-feira (dia 7)
:: II Seminário Municipal do Aleitamento Materno que ocorre às 13h30min, no auditório do Bloco H, na UCS. Claudia Panno de Oliveira e Maira de Carli, pediatras; e Celina Valderez Feijó Khöler, representante da Rede Internacional em Defesa do Direito de Amamentar (IBFAN), serão as palestrantes. A participação no Seminário é gratuita, mas, para fins de organização e fornecimento posterior de certificado, é necessário se inscrever pelo link http://www.hgcs.com.br/capacitacoes.php.
:: De 1 a 31 de agosto, o Prataviera Shopping, juntamente com a Maternité _ Assistência Materno Infantil, oferece a programação Agosto Dourado: amamentar é um ato de amor. Hoje, às 18h, há abertura da Exposição Amor do Peito. No dia 15, uma capacitação de profissionais da área da saúde sobre aleitamento materno. A inscrição é leite, fraldas, bicos ou mamadeiras que serão doados para a Pastoral da Criança. No dia 18, ocorre um bate-papo com os Desafios da Amamentação com Maternité e profissionais convidados. Durante o evento, o público poderá tirar dúvidas no ambulatório de amamentação com profissionais de saúde. As orientações são gratuitas e ocorrem no terceiro andar do shopping.