Diversas secretarias municipais de Caxias do Sul se reúnem nesta quarta-feira para debater a reformulação da Feira sem Fronteiras, evento que ocorria no segundo domingo de cada mês na Praça das Feiras, no bairro São Pelegrino.
Recentemente, devido ao crescente desinteresse de expositores e do público, a prefeitura anunciou a suspensão da atividade.
Idealizada com o propósito de desestimular o comércio irregular da área central e movimentar a praça, a Feira Sem Fronteiras foi criada em maio de 2017, mas durou pouco mais de um ano.
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— Foi um somatório de fatores: dias seguidos de chuva, desinteresse maior do público e redução de expositores, que passaram a ir para outras cidades. Vamos tentar pensar em alternativas para recuperarmos o potencial do evento — justifica a secretária municipal de Urbanismo, Mirângela Rossi.
As primeiras edições da feira registravam participação média de 180 expositores. Nas mais recentes, o número caiu para cerca de 30 comerciantes. A queda de público também foi significativa. Em 2017, nos primeiros meses da atividade, em torno de 5 mil pessoas visitavam a praça. Já nos últimos eventos, menos de mil visitantes passavam pelo espaço. Conforme Mirângela, um dos motivos para a redução do interesse da população foi também a dificuldade em viabilizar atividades culturais concomitantes ao comércio.
— A gente não pagava cachê aos artistas. Só participava quem queria divulgar o seu trabalho. Aí, muitos deles acabavam optando por atividades em outros lugares, onde eram pagos — explica.
Participarão da reunião as secretarias de Urbanismo, Cultura, Governo, Desenvolvimento Econômico, Agricultura, Meio Ambiente e o gabinete da primeira-dama. Nenhum representante de expositores ou artesãos deve integrar o encontro. A intenção é apresentar o novo projeto até outubro.
Praça das Feiras... sem feiras
Criada com o propósito de ser referência na realização de eventos, a Praça das Feiras, localizada na antiga linha férrea no bairro São Pelegrino, hoje é praticamente um ponto de passagem entre a Rua Feijó Júnior e a Avenida Rio Branco. O espaço com 7,6 mil metros quadrados recebeu um investimento à época de cerca de R$ 1,3 milhão do poder público.
Mais de dois anos depois, no entanto, o local ainda não caiu no agrado de comerciantes e da própria população. Atualmente, os únicos eventos que conseguem manter fidelidade de público são as feiras do agricultor, que ocorrem às terças-feiras, e a ecológica, aos sábados.
— Não acho que a praça não tenha dado certo. Creio que ela vá se tornar referência ao longo do tempo. Hoje, já temos bons eventos lá, o próprio festival de churros que foi realizado recentemente e o Carnaval, por exemplo, movimentaram bastante aquela área — acredita a secretária de Urbanismo, Mirângela Rossi.
Para a utilização de espaço, é preciso fazer o agendamento na Secretaria da Cultura. Sobre o número reduzido de atividades que são desenvolvidas pelo poder público, Mirângela atribui aos custos gerados para manutenção e disposição da estrutura.
— Precisamos licitar banheiros químicos, locar som. Há também gastos com pessoal da Guarda Municipal e fiscalização de trânsito — justifica.
Expositores preferem outras cidades
A leitura de ambulantes que comercializam artesanato na área central de Caxias sobre a Praça das Feiras é homogênea: o local não tem apelo para atrair público. O desinteresse dos vendedores pelo espaço em São Pelegrino se refletiu na área central, onde o comércio informal fervilha nas calçadas da Avenida Júlio de Castilho após tentativa frustrada da prefeitura em coibir a atividade.
— Nunca participei da Feira Sem Fronteiras. Nos domingos, a cidade (Caxias do Sul) é morta, não tem movimento, imagina num ponto afastado da área central. Em outras cidades, podemos aproveitar outros eventos para expor nossos produtos — comenta a artesã Daiane Silva do Nascimento.
Além de considerarem o local desinteressante para a passagem de público, a falta de atrações alternativas também desestimula a vinda de visitantes.
— Nunca tive interesse em participar. É só no domingo e numa praça onde não tem público. A prefeitura coloca o pessoal para vender, mas não divulga. Tem meses que não faz nada por causa da chuva e também não coloca nenhuma atração cultural. O espaço não é ruim, mas falta estrutura complementar — afirma Fabiano Suliani, artesão há 26 anos e que hoje trabalha no brique da Praça Dante Alighieri.
Outra ideia da Feira Sem Fronteiras era integrar artesãos de outros países, como os senegaleses. Uma das comerciantes da área central, que preferiu não se identificar, afirma que participou de algumas edições do evento, porém, desistiu devido à localização.
— A estrutura é boa, mas é muito longe. Preciso me deslocar até lá com meus filhos, gasto com transporte. Também não tem diversidade de atrações como música. O primeiro dia foi bom, mas nos outros ficava dia inteiro sem vender nada — comenta a artesã, que sugere a Praça Dante como local ideal para uma feira nesses moldes.
NOVO MERCADO
:: Enquanto o destino da Feira sem Fronteiras segue incerto, a Praça das Feiras deve sediar, também aos domingos, um mercado de pulgas, uma feira para exposição e venda de objetos usados, artigos colecionáveis, peças raras, pratarias, artigos decorativos e antiguidades em geral.
:: A lei que criou a atração, de autoria do vereador Alceu Thomé (PTB), foi sancionada no início de agosto pelo prefeito Daniel Guerra (PRB). O município prevê regulamentar o mercado de pulgas até novembro, quando a lei deve entrar em vigor.
:: Conforme o texto, a atividade ocorrerá no último domingo de cada mês, das 9h às 17h30min — estendendo-se até as 20h durante o horário de verão.