Passado mais de um mês do incêndio que destruiu um antigo casarão onde funcionava uma estofaria e uma pensão na divisa entre os bairros Rio Branco e São Pelegrino, em Caxias do Sul, a pessoa encontrada carbonizada no local ainda não foi identificada. Apesar de todos os relatos de moradores indicarem que a vítima seria Antônio Sérgio Borges da Silva, o Cabreira, 75 anos, o resultado do exame de DNA que deve atestar a identidade não ficou pronto. A análise do material genético é feita no Setor de Genética Forense, no Departamento de Perícias Laboratoriais do Instituto-Geral de Perícias (IGP), em Porto Alegre. Segundo o coordenador regional do IGP da Serra, Airton Carlos Kraemer, o prazo para emissão do laudo costuma ser de até três meses.
O método genético foi escolhido diante da impossibilidade de reconhecimento pela arcada dentária, já que não há histórico dentário disponível. Enquanto isso, o cadáver da vítima permanece no posto médico-legal de Caxias, à disposição da polícia.
Mesmo acreditando que o corpo seja de seu pai, Joelma Ribeiro da Silva, a filha única do idoso que continua desaparecido, lamenta não poder fazer o sepultamento. Sobre isso, Kraemer, pede compreensão à família.
— Temos falta de pessoal e o exame é feito em Porto Alegre. Então, demanda certo tempo. Especialmente, em um caso como este, onde havia uma pensão com fluxo grande de pessoas e não se sabe se é aquela pessoa que está sumida ou se pode ser algum outro hóspede. Por prevenção, aguardamos o resultado do DNA para liberar (o corpo). Ele está disponível para novas análises — complementa.
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Outro laudo considerado importantíssimo pela Polícia Civil para dar andamento à investigação sobre o caso, e que ainda não foi entregue pelo IGP, é o que descreve o local do incêndio e as possíveis causas da origem do fogo. Este relatório é feito pela equipe do Setor de Criminalística do IGP em Caxias. Segundo Kraemer, este laudo também leva até 90 dias para ser remetido à polícia.
No incêndio do final de semana, foi possível identificação
No caso do incêndio que resultou na morte de Léia Therezinha Zambiazi, 85 anos, na tarde do último domingo, as queimaduras mais graves ficaram concentradas na parte inferior do corpo, tornando possível a identificação da vítima. O laudo sobre as circunstâncias do incêndio também deve levar os mesmos 90 dias para ficar pronto.
Segundo o Corpo de Bombeiros de Caxias, que atendeu à ocorrência, o incêndio foi ocasionado por algum equipamento eletrônico. Léia estava sozinha no apartamento no momento em que o fogo começou.
Polícia Civil investiga os incêndios
A investigação sobre os dois incêndios está sob responsabilidade do delegado Vitor Carnaúba, da 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP). O caso do final de semana está em fase inicial. Já no inquérito sobre o casarão, hóspedes da pensão que estavam no local naquela noite, vizinhos e comerciantes do entorno já prestaram depoimento.
Segundo Carnaúba, as testemunhas falaram que viram Antônio Sérgio Borges da Silva, o "Cabreira", voltando para o casarão e, depois, na janela do sótão, onde ele dormia.
— Temos de aguardar o laudo para ver como o fogo se iniciou. Nada indica, até o momento, que foi criminoso — resumiu o delegado.
O casarão tinha quatro andares. No térreo da estrutura, o locatário, Renato Rissi, 58 anos, mantinha uma estofaria há mais de duas décadas. Na vizinhança, os relatos indicam que o fogo teria começado ali. O ambiente era repleto de materiais inflamáveis. Além de esponja, havia tinta, tecidos e cola. Nos pisos superiores, havia quartos de aluguel. Os moradores dizem que eram 12 quartos, mas Rissi garante que eram sete. Na época do incêndio, seriam sete inquilinos. Destes, cinco estariam na casa quando ela queimou: o irmão de Rissi, que trabalhava na estofaria e morava no local, outros três que se salvaram pulando janelas e Cabreira, que não foi mais visto.
Os sobreviventes foram resgatados e encaminhados a unidades de saúde, onde foram assistidos e liberados. Depois, receberam ajuda — e até abrigo — de vizinhos e conhecidos que doaram roupas e outros objetos, já que perderam todos os pertences. Eles também receberam alimentos da prefeitura.
Entre as hipóteses sobre o começo das chamas três sobressaem entre os populares: a de que alguém tenha jogado uma bituca de cigarro de fora para dentro da estofaria por baixo da porta; de um descuido de alguém que estivesse dentro da estofaria e a de um curto-circuito. O delegado prefere esperar o laudo do IGP.
Rissi descarta um problema na rede elétrica e diz que fez uma reforma completa nessa área há dois anos.
— Se o laudo disser que foi um acidente, um curto-circuito que pegou fogo, é porque era a hora dele mesmo. Mas se foi negligência, não vai ficar assim — declarou a filha de Cabreira, Joelma Ribeiro da Silva.