O que poderia ter sido resolvido em algumas horas, virou um suplício para a massoterapeuta Léa da Silva dos Santos, 41 anos, e o bebê dela, Arthur, 9 meses. Os dois vivenciaram a confusão instalada na ala de observação pediátrica no Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão) no final de semana, que enfrenta falta de médicos, aliada à histórica baixa oferta de leitos hospitalares para atender a demanda em Caxias do Sul. A criança havia batido a cabeça em casa e deu entrada no serviço por volta das 12h de sexta-feira. Para confirmar que tudo estava bem com o menino, a equipe médica optou por uma tomografia. Ali, começava o problema.
Para tal exame, o médico plantonista afirmou que seria necessário um leito hospitalar. Só que não havia leitos disponíveis no Hospital Geral (HG) e a família foi submetida a uma longa espera num dos leitos do Postão até a troca do plantão, que ocorreu às 20h de sexta-feira. A partir desse momento, nada mudou. Os telefonemas da equipe para a Central de Regulação de Leitos, setor responsável por fazer os encaminhamentos aos hospitais, não surtiam nenhum efeito. A resposta era sempre de que não havia vagas.
A espera prosseguiu até a manhã de sábado, quando Léa recebeu a informação de que a rede iria tentar dar alta para alguma criança hospitalizada, o que permitiria a ida de Arthur para a tomografia. A esperança foi diminuindo com o passar das horas e piorou com a troca de plantão da equipe pediátrica do Postão, às 20h de sábado.
— Foi um caos. Naquela hora, já havia toda uma correria para levar as crianças para outros locais da cidade, pois a ala pediátrica fecharia o atendimento à meia-noite. Era muito triste — descreve Léa.
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Foi quando Léa decidiu fazer um exame particular. Ela conseguiu o atendimento no Hospital do Círculo, para onde Arthur foi levado de ambulância do município por volta das 22h de sábado. O hospital cobrou R$ 320 e constatou que o menino estava bem.
A família só conseguiu finalizar o atendimento no Postão por volta das 5h deste domingo, quando entregou os laudos do exame. A exemplo da mãe de Teylor Terra da Fonseca, 10 meses, que fez um vídeo para mostrar o sofrimento do filho à espera de UTI pediátrica na semana passada, Léa também fez uma postagem no Facebook mostrando Arthur e outras famílias que estavam no Postão. Diferentemente de Teylor, que acabou morrendo, o desfecho foi mais feliz para Léa.
— Graças a Deus, meu filho está bem. Me pergunto: por que internar para fazer um exame? Por que nos fizeram esperar tanto tempo? Não questiono a equipe médica pelo atendimento, mas sim essa falta de leito, a falta de medicamentos e materiais que vimos lá no Postão. Tinha mãe que saía com a receita para ir buscar na farmácia porque não havia os remédios disponíveis. Tinha criança que era picada porque não havia o medicamento oral — conta Léa.
A Secretaria da Saúde afirma que faltam pediatras nos plantões do SUS em Caxias e enfrenta dificuldade para preencher as escalas do Postão. Na sexta-feira, o prefeito Daniel Guerra anunciou o projeto de um novo plantão pediátrico pelo SUS na cidade, ação que depende da aprovação do Conselho Municipal de Saúde. Sobre leitos hospitalares, a 5ª Coordenadoria Regional da Saúde (5ª CRS) admite que os leitos são insuficientes para dar conta da demanda em Caxias, mas a área mais problemática não seria a da pediatria, mas sim da UTI adulto.