A longa espera para fazer exames pelo Sistema Único de Saúde (SUS) é uma realidade para 4.665 pessoas em Caxias do Sul. São pacientes que convivem diariamente com a incerteza sobre o estado de saúde e precisam do diagnóstico para iniciar o tratamento da doença. A fila mais demorada é a da tomografia, que mostra imagens mais precisas do que as do raio X: um ano e cinco meses.
O exame é usado para detectar pequenas alterações em ossos, tecidos e órgãos, além de investigar nódulos ou tumores e também o funcionamento de vasos pulmonares e cerebrais. Segundo levantamento da Secretaria Municipal de Saúde, 959 pacientes aguardam na fila de espera. O paciente mais antigo na lista aguarda pelo exame desde dezembro de 2016.
Por mês, o município disponibiliza aos pacientes 279 tomografias eletivas, que são as agendadas. Mas o número não é suficiente para atender a demanda. Além disso, os casos urgentes têm prioridade e não entram na lista de espera.
Outro exame bem demorado via SUS é a endoscopia, cuja espera é de cerca de nove meses. São realizados 127 exames mensalmente e a lista de espera conta com 1,2 mil pacientes, sendo que o primeiro na fila aguarda desde agosto do ano passado. A endoscopia é usada para verificar o interior do esôfago, estômago e duodeno e também para a realização de biópsias e tratamento de doenças como gastrite e úlceras.
A ecografia é a que tem mais pacientes na fila de espera: 2506, sendo que o mais antigo espera há dois meses pelo procedimento. A prefeitura realiza 2.860 exames por mês e a maior demanda é para ecografias do aparelho urinário e transvaginal. Para estas, a média é de três a quatro meses de espera.
Exames como ressonância magnética, ecocardiografia, densitometria óssea, cintilografia, colonoscopia, audiometria e radiografias não têm lista de espera. O que leva menos tempo são os exames laboratoriais, que costumam não ter demanda reprimida no município. A retirada dos exames não demora tanto, se comparada ao tempo que leva para fazer o procedimento. As imagens ficam prontas em dois a sete dias, e o laudo demora em torno de 15.
Faltam recursos para ampliar oferta
Para a secretária de Saúde de Caxias do Sul, Deysi Piovesan, quatro pontos são essenciais para reduzir a fila de espera por exames especializados. A primeira medida é a regulação, que já está em prática no município. Por meio dela, a necessidade do paciente é analisada pela Central de Regulação de Consultas e Exames, que dá prioridade a casos urgentes.
Em segundo lugar, Deysi reconhece que é preciso ampliar o número de exames realizados mensalmente pelo município, o que depende da questão financeira. A secretária adianta que há negociações para aumentar essa oferta, mas admite que não há recursos para investir:
_ Ampliar o número de exames no momento é bem complicado visto que os recursos do município estão praticamente esgotados, uma vez que aplicamos 25% do orçamento total em saúde, quando a prefeitura deveria aplicar 15%. Existe junto aos prestadores de serviço uma negociação para ver o que podemos aumentar em relação a esse número de exames.
Um terceiro caminho seria o fortalecimento do vínculo médico-paciente, com a atenção de toda a equipe de Estratégia Saúde da Família (ESF) para reduzir não apenas o número de exames, mas também cuidar melhor da saúde da comunidade. Das 48 UBSs de Caxias, 28 contam com equipes de ESF. No total, são 44 médicos.
_ Já é demonstrado em vários locais onde temos equipes de Estratégia de Saúde da Família ou Medicina Geral e Comunitária implantada que 80 a 90% das situações de saúde são resolvidas com medidas, que muitas vezes, dispensam exames mais especializados. Não estou afirmando que eles são desnecessários, mas reduz a necessidade quando a equipe passa a conhecer os problemas de saúde das comunidades, das famílias e das pessoas _ destaca.
A secretária acrescenta que está em andamento a criação de um novo cargo de médico para 40 horas. O projeto será encaminhado para a Câmara de Vereadores e se aprovado será realizado concurso público para selecionar os profissionais. Atualmente, os profissionais trabalham 12 horas no município.
O quarto ponto é o prontuário eletrônico, cuja implantação começou em fevereiro e deve ser concluída em dois anos. As duas últimas etapas de instalação compreendem a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Zona Norte, que já está operando, e o Pronto-Atendimento 24 Horas, cuja expectativa é começar a funcionar até o final do mês.
Para Deysi, o prontuário eletrônico é essencial para evitar, por exemplo, a solicitação de exames duplicados. Os profissionais da rede saberão quais exames o usuário já fez, se o paciente agendou e não compareceu, se o resultado foi apresentado ao médico e o tratamento recomendado, para que os médicos possam acompanhar melhor as condições de saúde do paciente e os tratamentos adequados.
NÚMEROS
Os exames oferecidos pelo município via SUS e o tempo de espera:
Tomografia
:: 959 pacientes na fila
:: Média de 14 meses de espera
Endoscopia
:: 1,2 mil pacientes na fila
:: Média de nove meses de espera
Ecografia
:: 2.506 pessoas na fila
:: A maior demanda é por ecografias do aparelho urinário e transvaginal, cuja média de espera é de três a quatro meses. Para os demais tipos, os pacientes aguardam, em média, dois meses.
Ressonância magnética, ecocardiografia, densitometria óssea, cintilografia, colonoscopia, audiometria, radiografias e exames laboratoriais
:: Não têm demanda reprimida nem lista de espera.
Faltas
:: Dos 189.610 exames agendados em 2017 na rede pública de Caxias do Sul, 20.351 (10.7%) deixaram de ser realizados porque os pacientes não compareceram. Este levantamento se refere a 21 tipos de exames, como tomografias, ressonâncias magnéticas, eletroencefalogramas, endoscopias e ecografias.
:: Em torno de 25% dos usuários não retiram resultado de exames realizados na Central de Exames. Este balanço considera nove tipos de exames, como os de análises clínicas (sangue, urina...), raio X, ecografia e teste do pezinho.