Para evitar que a Praça do Trem, em Caxias do Sul, seja atacada por ladrões de cabos elétricos novamente — no dia 21 de fevereiro, criminosos quebraram o piso e furtaram a fiação, deixando o espaço público às escuras por cerca de duas semanas —, a Secretaria de Obras e Serviços Públicos tomou uma medida drástica após recolocar os cabos: concretar os dutos de iluminação, incluindo o espaço onde ficam os trilhos da antiga linha férrea.
A solução, no entanto, não agradou integrantes do coletivo Limpa Caxias, grupo formado por profissionais que defendem a preservação do patrimônio histórico de Caxias do Sul. Eles acreditam que a medida descaracteriza o projeto original da praça.
— A solução seria ocupar o lugar. É a teoria da janela quebrada: quando algo é vandalizado e não se demonstra preocupação, a tendência é que piore. Somos contra essa postura reativa de só arrumar depois que estraga, somos a favor da manutenção através do uso. Quem vai querer estar em uma praça concretada? — reclama Tiago Fiamenghi, fundador do Limpa Caxias.
Ele lembra que em abril do ano passado o Limpa Caxias apresentou um projeto de adoção da Praça do Trem por uma empresa privada à Secretaria de Meio Ambiente, mas afirma que não obteve resposta. Passado mais de um ano, a empresa desistiu da ideia.
Por outro lado, Fiamenghi reconhece que a praça, inaugurada há apenas três anos, precisava de uma solução para voltar a ter iluminação, mas diz que faltou capricho na execução da medida escolhida pela prefeitura:
— Ficou um serviço relaxado.
Na tarde da última quinta-feira, o Pioneiro esteve na praça e conversou com frequentadores. Para Osni Mesquita, que mora próximo ao local e frequenta toda a semana, a concretagem tinha mesmo de ser feito porque a praça precisa de luz. Para ele, a solução não trouxe problemas:
— Se não fazem isso, roubam os fios de novo — avalia.
O secretário municipal de Obras, Leandro Pavan, defende que a solução foi emergencial, em função da falta de luz no espaço.
— Fizemos o que foi preciso e concretamos o menos possível. O objetivo principal de uma praça é ser utilizada e como ela estava, às escuras, não era possível. Os moradores do entorno nos ligavam reclamando, inclusive. Eu verifiquei a obra, mas se houver alguma melhoria no capricho que se possa fazer, vamos fazer — garante.
Prejuízo no setor privado e dificuldade em achar criminosos
Alheios ao debate sobre a preservação do patrimônio histórico e pouco se importante com o bem estar da população, os criminosos seguem agindo livremente. Vizinha à Praça do Trem, a Praça das Feiras é constantemente vandalizada — com pichações, bancos de concreto virados e torneiras quebradas — e teve a rede elétrica roubada durante a Semana Santa. Há uma semana, funcionários da Secretaria de Cultura fizeram medições para orçar o material, permitindo que as tomadas voltem a funcionar e o espaço possa receber eventos.
E não é só o patrimônio público que é penalizado com os furtos. Na última quarta-feira (11), uma matrizaria localizada na Rua Dom José Barea ficou sem luz durante quase todo o dia porque um cabo elétrico que vem da metalúrgica Voges e passa por um pavilhão desocupado (uma antiga boate) antes de chegar à empresa foi cortado. Os fios, inclusive, teriam ficado soltos em via pública e atingido um carro. Bombeiros e a concessionária RGE foram acionados. A rua teve de ficar bloqueada até por volta das 22h e a matrizaria teve de arcar com o custo do reparo.
A proprietária da empresa registrou boletim de ocorrência, mas diz que não testemunhou o furto. A Polícia Civil diz que esbarra na falta de testemunhas e de monitoramento de vídeo para conseguir identificar os criminosos.
— São quadrilhas ou usuários de drogas que roubam o material (cobre contido dentro dos fios) para trocar por entorpecentes, mas a falta de testemunhas dificulta a identificação. Assim, temos de ir atrás de informantes — explica o delegado Luciano Pereira, titular do 3º Distrito Policial.
Segundo o delegado, entre o dia 14 de março, quando assumiu o DP, e o último dia 11 de abril, foram registradas três ocorrências sobre roubo de fios. Nenhum culpado foi identificado.
— As ações estão sendo investigadas, mas faltam provas e testemunhas — concluiu.
Pedido de informações
Na última segunda-feira, o vereador Rafael Bueno (PDT) protocolou um pedido de informações sobre as obras realizadas na praça do Trem, incluindo a concretagem junto aos trilhos. O pedido deve entrar em discussão hoje. Se aprovado, o pedido segue para a prefeitura, quem tem 30 dias para responder as questões.