Nas décadas de 1970 e 1980, havia uma crença de que Caxias do Sul e Farroupilha estariam unidas, em pouco anos, por uma única zona urbana formada por casas e indústrias ao longo da ERS-122, num cenário muito parecido com o da Região Metropolitana. A evidência dessa transformação aparece ao longo da rodovia, mas a mudança maior está por ocorrer.
Mesmo levando em conta a perspectiva que surge com a redução do tamanho do perímetro urbano de Caxias do Sul a partir da revisão do Plano Diretor, cuja última audiência pública está marcada para o dia 8 de maio, a Região Oeste ainda desponta como a mais promissora para a expansão de empresas e habitações.
A área teve um crescimento significativo no entorno do Desvio Rizzo e na região do Shopping Iguatemi desde o final dos anos 1990. Isso não significa, porém, que outras áreas da cidade não terão expansão, mas a tendência é de que esse movimento seguirá num ritmo menor se comparado ao Oeste. Nos últimos dois anos, por exemplo, a prefeitura aprovou a abertura de sete loteamentos na região - no mesmo período, Norte, Sul e Leste tiveram a liberação de três loteamentos, em média, cada um.
As perspectivas em relação ao Oeste ganham força também porque a região é margeada por muitas áreas desabitadas e já há terrenos reservados para futuros investimentos. Perto do viaduto torto, no entroncamento da ERS-122 com a RSC-453, as máquinas já preparam um novo distrito industrial.
Não há levantamento do total de imóveis erguidos naquele trecho de Caxias e do tamanho da população _ o censo de 2010 apontava 70 mil moradores em 13 bairros. Atrás do Oeste, surge o Norte como uma provável área para crescimento, seguido pelo Leste e pelo Sul, respectivamente. Nesta reportagem, confira a projeção de cada região de Caxias e a expectativa de algumas comunidades.
Cidade compacta
Na visão do professor universitário e arquiteto Carlos Eduardo Mesquita Pedone, o crescimento de Caxias do Sul não será num ritmo acelerado. Para ele, a expansão é influenciada por fatores variados, entre eles, a redução do tamanho das famílias no Brasil e a economia.
— As famílias estão diminuindo e também há a questão econômica. Por outro lado, precisamos lembrar que temos muitos espaços subaproveitados dentro da área central e em outros bairros. A tendência é valorizar a compactação da cidade para dar mais qualidade de vida e não expandi-la — pondera Pedone, que preside o Conselho Municipal de Planejamento e Gestão Territorial (Conseplan).
O pensamento do especialista vai de encontro à proposta de revisão do Plano Diretor de Caxias, que sugere a redução do perímetro urbano, em tese, para facilitar o acesso da população aos serviços públicos e baratear a infraestrutura da cidade. A Coordenadoria de Planejamento e Gestão Territorial (Coplan) da Secretaria Municipal de Planejamento (Seplan) garante que estudos técnicos embasam a nova formatação para Caxias, que será debatida na audiência pública na Câmara de Vereadores.
Pela proposta da Seplan, a cidade perderia 21 quilômetros quadrados de área urbana, equivalente a 9% da delimitação atual. A mudança também incluirá alguns loteamentos irregulares erguidos em áreas rurais, mas que já estão consolidados, a exemplo de Santa Bárbara (ver ao lado). A Região Oeste, em direção a Farroupilha, não será afetada pela mudança.
— Verificou-se que não houve consolidação da ocupação em todo o perímetro atual, e que o resultado foi o espalhamento da urbanização de forma desordenada em função do excesso de área urbana disponível. Também gerou como resultado muitos loteamentos irregulares fora do perímetro. Uma zona urbana espalhada e com muitos vazios é uma cidade cara, já que os serviços públicos visam o atendimento a todo o território urbano — salienta Fernando Mondadori, titular da Seplan, em entrevista por e-mail.
A mudança no Plano Diretor seria também uma tentativa de conter a especulação imobiliária. Em 2007, o tamanho da zona urbana foi ampliada com a expectativa de diminuir o valor dos lotes nos bairros e permitir que famílias de baixa renda tivessem acesso à moradia própria, mas o efeito foi contrário.
— O preço de terrenos sempre foi proibitivo em Caxias e se pretendia ter lotes mais baratos, o que não ocorreu. Entendo que é importante ampliar as zonas de interesse social dentro do perímetro, pois não temos nem como explorar o nicho de loteamentos populares — avalia o vereador Edio Elói Frizzo, presidente da Comissão de Desenvolvimento Urbano, Transporte e Habitação (CDUTH) da Câmara de Vereadores.
Ádrio Gelatti, promotor de Justiça que atua no combate aos loteamentos irregulares, entende que os gestores e a sociedade precisam pensar como Caxias do Sul quer e deve crescer.
— O crescimento vai ocorrer nas franjas da cidade, onde estão os parcelamentos ilegais, que agora surgem em menor ritmo com a ação do MP, do município e de outros setores. Acredito fortemente que temos de manter o interior com características rurais, pois se não mantém assim, atrai a aglomeração desordenada. Isso só se consegue com fiscalização forte — opina Gelatti, referindo-se às mudanças que virão com a alteração no Plano Diretor.