Há exatamente um ano São Francisco de Paula vivia uma das maiores catástrofes naturais da história do município. Naquela manhã de domingo, 12 de março, um tornado varreu seis bairros da cidade matando uma pessoa, destruindo 110 casas e danificando outras 700.
Ao todo, três mil pessoas foram, de alguma forma, atingidas pelo fenômeno. Diante do estrago, a cidade decretou estado de emergência em tempo recorde, mas resposta do governo federal não veio com a mesma agilidade. Ainda são esperados R$ 849 mil para a reconstrução de prédios públicos.
De acordo com o secretário do Planejamento, Urbanismo, Habitação e Gestão, Roberto Monaco Lopes, o decreto de emergência era dividido em três etapas.
A primeira, o Plano de Resposta, previa a retirada de entulhos e o reparo da infraestrutura básica, como a iluminação pública e as salas de aula da Escola Castelo Branco. A instituição fica no bairro Santa Isabel, o mais destruído pelo tornado.
Esta etapa teve R$ 178 mil liberados pela União em 12 de julho, exatos quatro meses após o fenômeno. Os recursos foram usados para instalar luminárias públicas e reparar a escola, mas o recolhimento de entulhos já havia sido concluído pelo município.
Os repasses ainda pendentes são da segunda etapa da ajuda prevista, chamada de Plano de Reconstrução. O dinheiro é destinado à reconstrução de um ginásio municipal, também no Santa Isabel, do prédio administrativo da Escola Castelo Branco e da cobertura da quadra de esportes da instituição.
Após o Ministério da Integração Nacional orientar o município a licitar as obras, o valor ficou orçado em R$ 1,089 milhão. O prefeito do município, Marcos Aguzzoli, informou que esse valor já foi liberado. Agora, inicia o processo de licitação, segundo o chefe do Executivo.
A ajuda da União para os moradores que perderam as casas, a terceira etapa prevista, foi ainda menor. Conforme o secretário, das 110 famílias, apenas 35 foram autorizadas pelo Ministério da Integração Nacional para receber recursos do Minha Casa, Minha Vida.
O dinheiro, no entanto, não foi enviado até agora. Para não ficar sem moradia, os selecionados reconstruíram as casas por meios próprios ou com doações. Por causa disso, devem ficar sem a ajuda federal, já que a União não reembolsa as famílias.
— Somente duas famílias não recomeçaram a construção e outras duas venderam o terreno e foram embora da cidade — revela o secretário de Desenvolvimento Social Arquimedes Aguiar.
O município agora trabalha com cidades vizinhas na elaboração de um plano regional para reagir a fenômenos futuros, preparação que não existia há um ano.
— Não podemos deixar a comunidade em pânico, mas estamos em região propensa a tornados. Temos que nos preparar — alerta Aguiar.
Doações
Se o tornado teve proporções inéditas para o município, a solidariedade foi diretamente proporcional. O ginásio municipal ficou repleto de alimentos e roupas doadas, enquanto móveis foram depositados em uma sala de um campo de futebol nas proximidades.
De acordo com Roberto Monaco Lopes, o material de construção e os móveis doados foram insuficientes para atender a todas as famílias, mas permitiram que algumas começassem a reconstrução das casas.
— Montamos o Comitê da Transparência com pessoas da comunidade para organizar a distribuição das doações. Os alimentos e roupas que sobraram doamos para outras pessoas, como a comunidade de Vila Oliva, em Caxias (atingida por um tornado em junho do ano passado) — explica o secretário.
A maioria das famílias reconstruiu as casas com doações ou com o próprio dinheiro. O município também tem distribuído kits de material de construção para ajudar as famílias a começarem as obras nas casas, embora ainda seja insuficiente para a reconstrução total.
Data marcada pela perda
Para Soeli Gomes Pereira, 57 anos, o dia 12 de março ficou marcado não somente pelo tornado que destruiu a casa da família, no bairro Vila Gaúcha, mas também pela morte do filho, Claudemir Gomes de Freitas, 24 anos. O jovem ia para culto quando foi atingido por escombros lançados pelo vento.
No dia do temporal, Claudemir faria uma festa para comemorar o aniversário, completado seis dias antes. Ele também tinha casamento marcado para abril e moraria com a esposa em uma casa em frente à da mãe, onde o jovem já vivia.
Na hora do tornado, Soeli só teve tempo de colocar os netos e a filha embaixo de uma cama para se proteger. O marido estava na rua e conseguiu se abrigar. A casa da família também ficou quase totalmente destruída. A notícia de que Claudemir havia morrido chegou somente uma hora e meia depois do fenômeno.
— Penso muito naquele dia. Parece que a todo momento ele vai chegar e não vem. Parece que vejo ele toda hora — afirma Soeli.
Por pelo menos quatro meses a família morou em um cômodo, até reconstruir a casa com o próprio dinheiro.