Pelo menos 100 poços artesianos em Caxias do Sul deverão receber hidrômetros neste ano, conforme o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Samae), que está notificando os proprietários a permitir que os funcionários da autarquia tenham acesso aos locais. Apesar de o processo não ser novo — a instalação dos equipamentos começou no ano passado —, mudanças estão gerando questionamentos entre donos e moradores que costumam pegar água gratuitamente em poços artesianos conhecidos, como o Tronco Água, instalado junto a uma empresa no bairro Pio X, e os das Igrejas de São Pelegrino e Imaculada Conceição (Capuchinhos). A dúvida é se a instalação do hidrômetro irá provocar aumento da cobrança da tarifa mínima nesses pontos, onde centenas de pessoas vão encher galões diariamente.
O cabelereiro Volmir Kirchoft, 37 anos, conta que vai até o poço na Rua João Dalfovo, no Pio X, há 15 anos, pelo menos duas vezes por semana. Ele questiona o porquê da cobrança, já que é o proprietário do Tronco Água que paga a manutenção do poço e da bomba.
— Essa água é mais pura do que a que chega nas residências. Acho um absurdo cobrarem mais, porque quem paga a manutenção são dos donos. Além disso, já pagamos taxa de esgoto pelo serviço nas nossas residências — afirma.
O aposentado Verildo Teodoro, 76, vai até o poço há 10 anos, desde que foi diagnosticado com gastrite. Para ele, caso ocorra a cobrança de taxa de esgoto, é justo efetuar pagamento ao proprietário, dividindo os custos, para continuar usando a água do poço.
— Eu sentia dor de estômago e comecei a vir pegar água para beber e cozinhar. Agora, só uso a água daqui. Se precisar pagar uma taxa, acho adequado porque usamos a água do poço — destaca.
No poço da Igreja de São Pelegrino, os hidrômetros já foram instalados em dois pontos, um deles na saída da torneiras em que os moradores enchem os galões de água. O aposentado Izolino Zilli, 85, também concorda em contribuir com a paróquia de São Pelegrino caso o Samae passe a cobrar pelo taxa de esgoto.
Efluentes na rede pública
A situação, porém, não deve envolver gastos extras na tarifa de abastecimento desses locais. Segundo o diretor da Divisão Comercial do Samae, Marcio Gasparetto, a colocação dos hidrômetros não impactará na taxa de água mas, sim, determinar quanto da água consumida dentro das residências ou estabelecimetos gera efluentes e é lançado na rede de esgoto, este sim, tratado pelo município.
— Não estamos cobrando a água do poço, mas o esgoto gerado nesse pontos. Para deixar bem claro, a cobrança é somente caso essa água do poço de captação seja usada e gere efluentes. O cálculo da cobrança de esgoto está baseado no consumo de água, que nada mais é do que o registro da passagem da água pelo hidrômetro. Quando o abastecimento não é pela rede pública, este volume de esgoto gerado pela fonte alternativa não é contabilizado, não há hidrômetro, consequente não é cobrado. No caso de São Pelegrino, por exemplo, o hidrômetro foi colocado em dois lugares (um para o consumo da própria igreja e outro na torneira que serve à população) para que possamos abater da eventual cobrança de esgoto a água retirada do local pelos moradores e consumida em outro lugar.
DECRETO MUNICIPAL
A instalação dos hidrômetros e a cobrança pelo uso da rede de esgoto aos donos de poços artesianos estão amparadas em Decreto Municipal de 2016, que reforça a necessidade do pagamento da taxa quando os efluentes sejam lançados na rede pública. Atualmente, cerca de 400 poços artesianos já estão cadastrados. De 2017 até março deste ano, dos estabelecimentos notificados, 77 tiveram hidrômetros instalados e 47 já estão aptos a recolher a tarifa de esgoto, o que equivale a quase 20% do total previsto para regularização.
O valor arrecadado nesses locais será destinado a cobrir custos de operação e manutenção do sistema, além de subsidiar investimentos na área de esgotamento sanitário de Caxias do Sul.