A reportagem publicada pelo Pioneiro no final semana sobre a dificuldade para marcar consulta na unidade básica de saúde (UBS) do bairro Bela Vista, em Caxias do Sul no qual os pacientes precisam chegar às 2h para conseguir fichas — repercutiu nas redes sociais e indica que a situação não é exclusiva daquela UBS. Entre os quase 80 comentários até as 17h de terça-feira, pessoas que precisaram de consultas em postinhos de bairros como Santa Lúcia, Forqueta, Cinquentenário, Jardim Eldorado, Madureira, Esplanada, Cristo Operário, Mariani e Fátima relataram a existência da fila das fichas durante a noite.
A necessidade de madrugar para conseguir atendimento no bairro Esplanada foi relatada pela dona de casa Márcia Passer. Ela buscou consulta no dia 8 de março e conseguiu para o dia 12:
— Fui às 5h30min achando que eu ia conseguir consulta para o dia, mas, chegando lá, a fila já estava para cima da parada de ônibus. Então, imagina o horário que as pessoas vão para conseguirem a consulta para o dia — contou a moradora.
Outra internauta contatada pelo jornal, uma moradora do São Victor Cohab que pediu para não ser identificada, conta que precisou de atendimento no postinho em novembro do ano passado por conta de uma crise de sinusite. Na UBS, foi orientada a ir para a fila por volta das 4h para conseguir ficha com o médico clínico geral.
— Eu sempre tive plano de saúde e foi a primeira vez que precisei do atendimento da UBS. Com a crise (econômica), perdi o benefício. Depois que fui informada que teria de ir às 4h, desisti e busquei ajuda em uma farmácia. Como que eu, doente e com uma filha de quatro anos, iria ficar na fila desde a madrugada para conseguir uma consulta? — questiona a mulher.
A dificuldade em garantir atendimento no bairro não é percebida apenas nesta administração. Em fevereiro de 2016, na gestão Alceu Barbosa Velho, o Pioneiro já havia mostrado o caso de pacientes que chegavam antes das 2h para conseguir a ficha para o dia na UBS do São Victor.
Teleagendamento
Houve reclamações também sobre o serviço de teleagendamento, no qual são marcadas as consultas por telefone. A técnica em enfermagem Márcia Caureo de Souza, por exemplo, conta que por diversas vezes tentou agendar consultas pelo telefone na UBS do bairro Esplanada, mas em nenhuma das tentativas obteve sucesso. A unidade chegou a oferecer o serviço por telefone para toda a população, sendo referência em teleagendamento. Atualmente, a marcação não presencial é oferecida apenas a pessoas acima de 65 anos, às quintas-feiras à tarde.
— Várias vezes eu fui até a casa da minha sogra com o meu telefone sem fio, pegávamos o telefone fixo dela e mais um celular. Ou seja, usávamos três aparelhos para tentar agendar a consulta e nada. Às vezes, chamava até cair ou dava sempre ocupado — reclama.
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Márcia precisa do atendimento do postinho para renovar a receita da filha, que faz uso de medicamento contínuo. Sem conseguir por telefone, ela e o marido se revezam na fila, assim como outros pacientes:
— Eu trabalho à noite, em hospital. Quando precisamos, meu marido fica na fila até as 5h, guardando o lugar para mim — revela.
Nas redes sociais, internautas também denunciaram o comércio antiético de reservas de vagas na fila. Nesse caso, pacientes estariam pagando para pessoas passarem a madrugada em frente às unidades, com medo da insegurança da rua e para evitarem a exposição ao tempo.
O QUE DIZ A SECRETARIA DE SAÚDE
Com relação à UBS do bairro Bela Vista, retratada pelo Pioneiro no final de semana, a secretária municipal da Saúde, Deysi Piovesan, informou que um novo profissional iniciou ainda na segunda-feira no postinho, completando o quadro de profissionais da unidade, permitindo que o número de fichas para consulta seja ampliado (atualmente, eram quatro por dia com o clínico geral).
— Não consideramos que é digno para a população ir para a fila de madrugada para conseguir uma consulta. No caso do Bela Vista, especificamente, agravou-se pelo afastamento de um médico por questões de saúde. Mas ele já foi substituído hoje (segunda-feira) — explicou Deysi.
Por outro lado, a secretária atribui o problema da fila por consultas ao déficit de profissionais da rede básica de saúde:
— Eu preciso ter um número suficiente de recursos humanos na secretaria, mas, infelizmente, o quadro de profissionais é insuficiente. Estamos constantemente tentando repor a equipe médica, mas temos dificuldade em conseguir médicos — avalia Deysi.
Teleagendamento
De acordo a secretária da Saúde, por lei, o teleagendamento é disponibilizado apenas a pacientes com mais de 60 anos. Cada UBS decide como é ofertado o serviço, determinando dias, horários e o número de fichas que serão ofertadas.
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