Em Guaporé, o número de habitantes mulheres supera em 1% a quantidade de homens. Essa vantagem feminina populacional, porém, é quase inexpressiva. O que se destaca mesmo por lá é a força do empreendedorismo feminino. Estima-se que mais de 70% dos negócios ligados ao comércio e à indústria na cidade são comandados por empresárias que empregam, comandam fábricas e alavancam a economia do município de uma forma bastante empoderada.
— A maior parte dessas mulheres começou como costureira ou vendendo roupas, tornando-se depois líder de diversos setores da sociedade. Aqui já está no DNA esta questão de ser mulher independente — avalia a secretária de Turismo, Cultura, Esportes e Desenvolvimento Econômico, Cristiane Maisa Viel.
Há quem acredite que as mais de 150 marcas de joias, moda íntima, praia e fitness são comandadas por mulheres apenas porque o público-alvo é, por óbvio, feminino. É claro que entender as preferências da compradora é importante, mas as empresárias garantem que o que as diferencia são a coragem e a postura em saber gerenciar. Desde crianças, inspiram-se em vizinhas, amigas e familiares à frente de fábricas têxtis que empregam centenas de funcionários. Para se ter ideia da representatividade, dos 13 cargos da diretoria da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), nove são ocupados por mulheres. A presidente é a inquieta empresária Neura Trevisol Gomes. A história dela se inicia no interior de Guaporé, quando trabalhava como costureira e passou a desenhar lingeries para incrementar a renda mensal. Sua grife, a Essencial Moda Íntima, uma das marcas mais conhecidas do ramo, está presente em todos os Estados do país e segue também para o Exterior. A empresa de Neura foi a primeira de Guaporé a ter sede própria. Aos 51 anos, a empreendedora volta à sala de aula para concluir os estudos e vislumbrar ainda mais desafios.
— Hoje, eu conquistei meu espaço e sou acreditada, mas nem sempre foi assim. Parece que temos de provar o tempo inteiro que temos capacidade. A sorte é que nós, empresárias daqui, somos muito unidas. Trocamos informações, nos visitamos, colocamos os funcionários para conhecer a fábrica da outra — confidencia.
Apesar de ser comum que linhas de produção das fábricas tenham homens cortando tecidos de calcinhas e sutiãs ou inseridos na elaboração e confecção de joias, na fábrica comandada por Ivanir Gládis Lazzaretti, 55, a Qualitá Joias, 70% da equipe é composta por mulheres. E não é só por comandar mais de uma centena de funcionários que ela é respeitada. É seu poder de gestão, que já reergueu as finanças do hospital, mediando conflitos e contas de uma instituição público-privada, que a fez ser assediada para concorrer a cargos políticos _ área que ainda não se arriscou a entrar.
Gládis também é a responsável pela construção do Centro Comercial de Guaporé, uma espécie de shopping em que mais de 30 comerciantes adquiriram espaço para expor sua produção própria.
— O segredo da mulher empreendedora daqui é que, quando todos dormem, a gente trabalha — define.