Duas educadoras de uma escola infantil da zona norte de Caxias do Sul foram afastadas após denúncias de supostos maus-tratos contra crianças atendidas na instituição. Na primeira semana de março, pelo menos duas famílias registraram boletim de ocorrência na Polícia Civil e acionaram o Conselho Tutelar para denunciar a situação.
Por ser sócia-proprietária da escola — que é particular —, uma das denunciadas optou por entregar o cargo. Já a outra acusada, uma professora que estava em período de experiência e trabalhava há menos de 30 dias na instituição, foi afastada pela direção da escola.
Familiares das crianças relataram ao Pioneiro que os filhos vinham apresentando comportamento estranho, o que motivou as famílias a buscarem esclarecimentos com a escolinha.
— Uma das proprietárias permitiu que eu assistisse às gravações das câmeras da escola. Nos registros de apenas um dos dias, já consegui constatar a maneira inadequada que o meu filho era tratado — comenta uma das mães, que preferiu não se identificar.
As imagens mostram a diretora do estabelecimento com um chinelo na mão em um dos vídeos, enquanto a professora empurra uma das crianças em direção a um dos colchonetes da sala de repouso. Um segundo registro mostra a mesma professora puxando bruscamente o braço da criança em gesto de advertência. Para a mãe, o tratamento dado às crianças flagrado pelo vídeo é inadmissível:
— Sabemos que há pessoas boas na escolinha, mas não posso admitir que continuem a fazer isso com as crianças — ressalta.
Conforme outra mãe, que também preferiu não se identificar, as reclamações da filha de três anos foram inicialmente recebidas com dúvida pela família. Porém, a situação mudou quando ela decidiu levar a criança para a escolinha.
— Minha filha comentava que uma das donas da escolinha batia na cabeça dela. No começo, pensei que não fosse verdade, criança, sabe como é. Mas aí, um dia fui levá-la para a escolinha e quando minha filha viu essa pessoa (diretora do estabelecimento), desatou a chorar e se agarrou em mim. Nesse momento, percebi que havia algo de errado — comenta.
A mãe relata que após expor a situação, outros pais estariam surgindo com denúncias e reclamações semelhantes.
— O pior é que cobramos providências da outra proprietária (da escolinha) e ela disse não podia afastar uma das agressoras por ela ser proprietária também — acrescenta.
As duas crianças foram retiradas da instituição após o ocorrido. O Conselho Tutelar notificou a Secretaria Municipal da Educação e o Conselho Municipal da Educação exigindo o afastamento das duas profissionais citadas na denúncia ou interdição da instituição. Também foi requerido o remanejo das crianças — que eram atendidas no local por meio de bolsas pagas no município — a outra escolinha até que a situação seja resolvida.
A assessoria da Secretaria Municipal da Educação informou que por se tratar de uma instituição particular — embora o município compre vagas da escola —, as medidas administrativas não poderiam ser encaminhadas pela pasta e já foram tomadas pela própria direção da escolinha.
A Polícia Civil também deverá investigar o caso.
"Nunca imaginei que isso pudesse estar acontecendo"
Emocionada, uma das proprietárias da escola, que deve assumir integralmente a direção da instituição, lamenta o que aconteceu.
— Foram casos isolados. Nunca tínhamos percebido nada desse tipo. Temos câmeras em todas as salas. A reputação (da escola) era ótima, tanto que tínhamos fila de espera — comenta a educadora, que preferiu não se identificar.
Segundo ela, desde as denúncias de supostos maus-tratos, pelo menos seis crianças teriam sido tiradas da instituição, que oferta cerca de 80 vagas. Apesar da imagem negativa que o caso gerou, ela comenta que está colaborando para esclarecer o ocorrido.
— Não tenho nada a ver com essa situação. Nunca passou pela minha cabeça que isso pudesse estar acontecendo. Não estou me omitindo. Estou apoiando de todas as formas que posso, e encarando tudo de frente. Tanto que disponibilizei todas as imagens que uma das mães pediu e deixei ela à vontade para assistir — ressalta.
Embora lamente os transtornos, a educadora diz que tem recebido suporte da comunidade e de muitas famílias:
— Minha consciência está tranquila. Tem coisa negativa, mas tem muita gente nos apoiando, que conhece a escola. Se duas pessoas erraram, elas terão de responder por isso. Nossa equipe não pode pagar o preço por erros isolados.
DENÚNCIAS
Situações de maus-tratos ou agressões contra crianças devem ser registradas no plantão da Polícia Civil (Rua Irmão Miguel Dário, bairro Jardim America) e denunciadas via Conselho Tutelar (a unidade Macrorregião Norte fica na Rua Visconde de Pelotas, 130, e a Macrorregião Sul, na Rua Os Dezoito do Forte, 998, no Centro).