Cíntia Ferreira Aurélio, 33 anos, tem tradição no samba. Foi rainha do Carnaval de Caxias e madrinha da bateria da XV de Novembro, escola do bairro Euzébio Beltrão de Queiróz por 13 anos. Durante todo esse tempo, a folia de Momo foi sua vida. Eram meses de preparação para fazer bonito e ajudar a escola a ser campeã. Mas Cíntia acabou se afastando nos últimos anos. E sentiu um vazio.
— Quando parei de desfilar, fiquei depressiva. Procurei fazer esportes, academia. Mas notei que faltava algo, que é a dança _ conta.
O vazio, porém, será preenchido quando Cíntia integrar o cortejo do Maracaxias, no dia 18. Ela poderá mostrar que, além de samba no pé, tem os braços inquietos do maracatu.
— As pessoas deveriam fazer uma pausa e se divertir, dar risada, dançar, porque Carnaval é festa e é uma festa linda — diz.
Embora diferente dos festejos celebrados por agremiações, a migração de entusiastas das escolas de samba também é uma realidade.
— Da mesma forma que pessoas que não são da periferia participam do Carnaval nascido das comunidades, o mesmo acontece com os blocos mais elitizados. Não há problema ou impedimento de tornar também a sua festa, e isso valida esse novo formato — comenta o ex-diretor do Carnaval de Caxias, Elvino Santos.
O músico Marcelo Polezi da Silva, integrante do grupo caxiense de Maracatu Baque dos Bugres, também encontrou na representação da cultura pernambucana a festa carnavalesca que nunca conseguiu se encaixar durante todos os anos em que viveu na cidade:
— Estou muito feliz com o que está acontecendo com a cidade. É um movimento novo, as novas gerações vão colher isso. Eu não tive oportunidade de vivenciar isso, pois, na minha época, Carnaval se restringia a festas em clubes. Não tive oportunidade de estar do lado do tambor e sentir essa vibração.
O tambor que atrai, contagia e une
— A gente costuma usar uma expressão: "você fica baqueado a primeira vez que vê o Maracatu". Não tem como não ser seduzido. E essa curiosidade te faz entrar num universo complexo e ancestral _ explica o integrante do Maracatu Baque dos Bugres, Bruno Ortiz Chilanti.
Atualmente com cerca de 40 pessoas, o grupo retorna às ruas para a terceira edição do Maracaxias, com reforços de outros foliões para o encerramento da programação de Carnaval. O Baque dos Bugres, juntamente com o grupo porto-alegrense Maracatu Truvão e integrantes dos projetos Sucata Sonora e Danças de Lá pra Cá, sairão da Praça Dante Alighieri e seguirão pela Avenida Júlio de Castilhos até o Bar Zanuzi, na Rua Alfredo Chaves, que estará fechada para a celebração. No local, haverá ainda apresentações da Orquestra Frevo Ma Non Troppo e de Dan Ferretti e os Homens da Meia Noite.
Para não deixar cair a empolgação de foliões que já estarão exaustos pelas duas semanas de festa, os shows instrumentais pretendem empolgar a multidão com os tambores típicos do Maracatu.
A professora aposentada Ângela Martins é prova do quão contagiante podem ser o som de tambores. Deslumbrada com apresentação do Baque dos Bugres no Maracaxias do ano passado, ela não resistiu e se aproximou do movimento.
— Eles já tinham me chamado a atenção, mas por eu ter uma deficiência (problema neurológico que restringe a locomoção), achei que não pudesse participar. Só que fui surpreendida quando me convidaram para conhecer. Conheci, gostei da proposta e não saí mais — revela.
Participante do grupo há um ano, no qual contribui com a parte criativa e locução, Ângela não se imagina fora do grupo e já convidou amigas para participar:
— Já trouxe três amigas e estou convidando mais. Não tem como resistir. O tambor chama, é uma batida muito forte.
Aos 58 anos, ela se diz orgulhosa com a evolução de Caxias com relação aos festejos carnavalescos.
— Morei há 20 anos no Rio e lá participava do Carnaval. Aqui, nunca tinha me interessado porque acontecia só nos clubes, era restrito e de qualquer forma não me atraía. Hoje está na rua, é para o povão. É bem emocionante o que está acontecendo com Caxias — ressalta a professora.