Seis escolas na área da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE) não receberão recursos do programa Mais Educação, do governo federal, em 2018. Com isso, cerca de 600 alunos deixarão de ter atividades de reforço e oficinas no turno inverso ao das aula na região. A redução no número de instituições se deve ao fato de o Ministério da Educação (MEC) ter mudado os critérios para adesão ao programa.
São prioridades as escolas com os piores indicadores educacionais, os alunos e as escolas de regiões mais vulneráveis e estudantes com mais dificuldades de aprendizagem. As diretrizes foram estipuladas na reformulação do programa Novo Mais Educação, por meio de portaria publicada no Diário Oficial da União de 10 de outubro de 2016. Porém, foi em 2017 que o MEC voltou o olhar mais atentamente às notas das escolas no Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb) para determinar quais poderiam integrar o programa: as com notas abaixo de 4,4 nos anos iniciais e 3 nos anos finais. Outro critério estabelecido é que 50% dos alunos estejam inscritos no Bolsa Família.
Com base nesses parâmetros, as escolas João Pilati, de Caxias, Pedro Oscar Selbach, de Canela, Santana, de Antônio Prado, Professora Deotilia Cardoso Lopes, de Jaquirana, São José e Padre Amstad, de Nova Petrópolis, ficaram fora do programa neste ano porque têm índices elevados no Ideb.
– O programa estava sendo muito bem trabalhado nas escolas beneficiadas. É uma lástima. Por outro lado, isso caracteriza o bom desempenho das escolas – destaca a coordenadora da 4ª CRE, Janice Moraes.
A comunidade escolar da Escola Estadual de Ensino Médio João Pilati, no distrito de Criúva, no interior de Caxias, recebeu, com tristeza, a notícia da sua saída do programa no final do ano passado. A diretora Juliana Castilhos Vacchi considera o critério de maior nota do Ideb incoerente já que foi, justamente, em consequência da implementação do programa que as notas da escola melhoraram:
– Quando a coisa está dando certo, tem de continuar. É aí que colhemos os resultados. Não sei como vou chegar para os pais, agora, e dizer que não haverá o projeto – diz, resignada, a diretora.
A coordenadora pedagógica Greici Brochetto Lorandi também questiona a nota considerada, já que a última avaliação da escola é de 2011, com 5,69. No site do Ideb não constam as notas de 2013 e de 2015 porque o número de participantes na Prova Brasil teria sido insuficiente para a divulgação das notas.
Pais, monitores e alunos lamentam
Para desenvolver as atividades do Mais Educação, a escola João Pilati recebia em torno de R$ 20 mil por ano, depositados pelo governo federal em uma conta da escola. A verba servia para pagar os monitores, para a alimentação dos alunos (três refeições nas sete horas diárias que permaneciam na instituição) e para comprar os materiais. Sem o recurso, a direção pretende manter as oficinas com a ajuda de voluntários. O esforço está baseado no bem que as oficinas faziam para toda a comunidade escolar.
Iole Eloiza dos Reis, 13 anos, do 9º ano do Ensino Fundamental, e Larissa Fidelis da Rosa, 13, do 7º, estão entre os cerca de 100 estudantes da escola que aproveitavam o artesanato, a dança, o taekwondo, a arte, o teatro, a música e reforço escolar em português e matemática, entre outras ações desenvolvidas de forma alternada de um ano para outro.
– Eu tinha muita dificuldade em matemática. Não era focada no estudo. Aí, vim no reforço e me ajudou muito. Também fazia crochê. Aprendi a costurar e muitas outras coisas – afirma Iole.
– Quando tinha temas que não conseguia fazer, pedia ajuda da monitora e assim fui aprendendo mais – conta Larissa que fazia, ainda, dança, artesanato e taekwondo.
Conforme a vice-diretora Mara Vanaz Vachi, ter as crianças e adolescentes o dia todo nas dependências enchia de vida e trazia movimento à escola. Além disso, dava oportunidade aos alunos que, na maioria, não têm acesso à internet em casa nem possibilidade de pagar por aulas particulares de música ou informática, por exemplo. As oficinas funcionavam, ainda, como geração de renda para os monitores contratados e poderiam se tornar um incremento para as famílias, já que os alunos aprendiam a confeccionar produtos nas aulas de artesanato que poderiam ser fruto de trabalho e fonte de renda depois.
– Uma aluna que sabia fazer crochê, aperfeiçoou nas aulas e, agora, faz os panos (de prato) e vende – conta a diretora, Juliana Castilhos Vacchi.
Na casa da merendeira Didiane Fidelis da Rosa, 50, o programa beneficiou três pessoas – a ela, que trabalhava fazendo os lanches e comida para os alunos, e a duas filhas, uma monitora e outra aluna. Didiane é mãe de Larissa.
– Estando no programa, ela (Larissa) não ficava em casa sozinha. A gente trabalhava tranquilo, sabendo que a filha estava estudando, participando da escola. A gente torce muito para que volte a ter o Mais Educação – revela a merendeira.