As centenas de toneladas diárias de lixo orgânico geradas pela população de Bento Gonçalves devem ter, até o final deste ano, um destino tecnológico capaz de eliminar, aos poucos, a necessidade de aterros sanitários para o descarte dos resíduos. O projeto, que ocorre via parceira público-privada, pretende construir a primeira usina do Rio Grande do Sul que irá transformar o lixo doméstico em energia. Sem a necessidade de passarem pelo aterro, os resíduos serão direcionados diretamente para uma estrutura modular, evitando que a longa decomposição do lixo gere resíduos e prejudique o meio ambiente. Além disso, o processo permitirá a comercialização da energia gerada, com a transformação do material em gás, combustível e outras substâncias industrializadas.
A viabilidade do empreendimento já está adiantada: nesta semana, terminou a primeira etapa do chamamento público. Sete empresas — quatro gaúchas, além uma de Minas Gerais e outras de São Paulo e Santa Catarina — foram credenciadas pela prefeitura para montar e administrar a estrutura. Na próxima segunda-feira, o comitê gestor do município deve se reunir para validar quais são as propostas que seguem para a próxima etapa. No passo seguinte, então, as empresas selecionadas terão 90 dias para apresentar o modelo de usina que pretendem construir. Conforme o projeto, o município cederá o terreno e destinará os resíduos. Caberá à empresa construir e administrar a usina, que dará destino energético a 1,3 milhões de toneladas de resíduos produzidos no município anualmente. O contrato será de 25 anos.
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Seis empresas já se credenciaram para construir usina de resíduos sólidos em Bento Gonçalves
Quando a usina entrar em funcionamento, os resíduos orgânicos não serão mais levados para o aterro sanitário no município de Minas do Leão, distante cerca de 210 quilômetros de Bento Gonçalves, o que representará uma economia de aproximadamente R$ 300 mil mensais aos cofres públicos.
Outros municípios podem participar
De acordo com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Silvio Pasin, a previsão é de que o edital para a construção da usina seja lançado em abril, e a usina inicie o funcionamento em dezembro.
— Faltam estas questões burocráticas, de escolha da empresa responsável. Mas tivemos apoio da administração atual, do Legislativo e de toda a comunidade. Então, se tudo der certo, vamos encerrar o ano dando um grande passo para a transformação do meio ambiente e oferecendo mais qualidade de vida para nossa população — comemora Pasin, que há dois anos viabiliza o projeto.
O modelo de estrutura é orçado em R$ 100 milhões. Porém, o valor pode mudar de acordo com o projeto que for escolhido.
O secretário também explica que, inicialmente, o projeto é de Bento porque a usina será instalada no município. Mas, outras cidades poderão encaminhar os seus resíduos para o local futuramente.
COMO FUNCIONA A USINA
:: O lixo é descarregado pelo caminhão da coleta e colocado em uma esteira que separa os resíduos.
:: A esteira possui sensores que conseguem identificar plástico, papel, metal, vidro e lixo orgânico.
:: Na usina, após este processo de separação, todo o lixo orgânico cai em plataformas onde passará pelo processo da quebra de moléculas. Posteriormente, o material será transformado em energia.
:: O lixo reciclável será destinado aos recicladores do município para ter a destinação correta.
TIPOS DE USINAS
:: Plasma pirólise: utiliza a técnica de queima do lixo, porém insere uma quantidade menor de ar, o que dispensa menos fumaça ao meio ambiente desde o processo inicial. Os resíduos são transformados em um material cristalizado que pode ser utilizado para fazer gás, combustível e vapor.
:: Pirólise: também faz a incineração do lixo orgânico, mas com um aquecimento menor que o modelo de plasma. A fumaça que é liberada no ar é em maior quantidade, só que é inodora e não possui fuligem. Os resíduos são transformados em carvão, que pode ser utilizado para fazer calor e gerar energia.
:: Liquefação: através da água quente, as moléculas de lixo são quebradas. Neste momento, existe uma transição do estado sólido dos resíduos em uma substância líquida. Este processo também não agride o meio ambiente, mas acaba eliminando menos lixo. O conteúdo gerado pela transformação do material também pode ser utilizado para gerar energia.
A usina de biogás em Minas do Leão
Minas do Leão foi a primeira cidade gaúcha a construir uma usina que transforma lixo em energia. Porém, no formato adotado, o lixo permanece sendo dispensado num aterro onde, posteriormente, tubulações instaladas abaixo da terra retiram o gás metano gerado pela decomposição.
O processo, apesar de menos complexo, também reduz a emissão de gás carbônico no ambiente e contribui para a redução de gases do efeito estufa. A termelétrica utiliza o metano existente no biogás que, ao invés de queimá-lo e lançá-lo na atmosfera, é aproveitado para produção de energia.
O aterro sanitário de Minas do Leão foi projetado para uma capacidade total de 23 milhões de toneladas. Ele possui uma área de 500 hectares e recebe diariamente cerca de 3,5 mil toneladas de resíduos de Porto Alegre e de outros 130 municípios.