A paralisação dos educadores das 45 escolas de Educação Infantil conveniadas com a prefeitura de Caxias entra no seu oitavo dia com possibilidade de término pela primeira vez desde o início do movimento. Às 18h desta segunda-feira, o prefeito Daniel Guerra (PRB) apresentará a representantes dos professores o projeto de gestão compartilhada das escolas para o ano que vem.
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A greve, que começou na última segunda-feira, foi motivada pelo anúncio de que os profissionais teriam que ser demitidos no fim de dezembro e recontratados até fevereiro, por conta de mudanças nos contratos com as entidades que administram as escolas, em respeito à lei federal 13.019, que regulamenta convênios com a administração pública.
No processo, os cerca de 475 educadores teriam sua remuneração equiparada à praticada pelas escolinhas privadas, conforme já informado pela Secretaria da Educação. Os professores das escolas conveniadas recebem R$ 2.298,80 mensais por uma jornada de 44 horas semanais. A rede privada paga o piso de R$ 1.373,64.
No encontro desta segunda, a prefeitura vai abrir pela primeira vez o valor do salário que deverá ser pago aos professores pelas entidades que concorrem para administrar as escolas em 2018. Devem participar da reunião, além de representantes da categoria e das entidades, o presidente da Câmara de Vereadores, Felipe Gremelmaier (PMDB), e o líder do governo no Legislativo, Chico Guerra (PRB).
O presidente do Sindicato dos Empregados em Entidades Culturais, Recreativas, de Assistência Social, de Orientação e Formação Profissional de Caxias do Sul (Senalba), Alceu Adelar Hoffmann, espera que o prefeito dê garantias aos profissionais.
— Queremos o direito à recontratação e que não mexam no acordo coletivo que temos. Caso contrário, (a reunião) não vai adiantar nada — antecipa.
Após o encontro, a categoria deve se reunir em assembleia para decidir sobre a continuidade do movimento que, conforme Hoffmann, conta com adesão total das escolas. Durante a última semana, o Pioneiro constatou que pelo menos 43 das 45 escolas conveniadas não abriram. Não foi possível entrar em contato com as duas instituições restantes. A prefeitura afirmou, em nota, que só se manifestará sobre o assunto após a reunião.
"Financiei meu apartamento conforme a minha renda"
Após uma semana de mobilização em frente à prefeitura, as professoras dizem estar esgotadas, mas garantem a continuidade do movimento caso um acordo não seja firmado. Rita Aline Gonçalves, que é educadora de uma escolinha na zona sul de Caxias, relata que tem o emprego garantido até setembro de 2018: ela está grávida de quatro meses, por isso não pode ser desligada até o fim da licença-maternidade. Após esse período, porém, não sabe como fará para pagar as contas.
— Eu estarei com filho pequeno e apenas essa renda (de professora) e a do meu marido. O meu salário, se considerarmos os descontos, vai chegar a cerca de R$ 1 mil. Não vamos conseguir nos manter.
A preocupação com o futuro é compartilhada pela educadora Valéria Lima Maciel, que atua há cinco anos em uma escola do Salgado Filho. Ela conta que financiou o apartamento onde mora em julho, e agora está presa à parcelas mensais de R$ 700.
— Me programei conforme a minha renda. Agora, só esse compromisso financeiro vai esgotar mais da metade do meu salário, isso se eu for recontratada. Moro sozinha e não tenho a quem recorrer por ajuda. Estamos nervosas e apreensivas. Nos sentimos desrespeitadas por precisarmos saber de tudo pela mídia — reclama.
Pais mudam rotina e manifestam apoio à greve
Apesar de serem obrigados a moldar a rotina familiar em função da greve, os pais que conversaram com o Pioneiro manifestaram apoio às professoras. Mobilizadas, muitas famílias pretendem se juntar às educadoras na reunião de hoje para pressionar por um acordo.
— Concordo plenamente com a greve. Diminuir o salário das professoras é uma falta de respeito com a educação. Nesse modelo que a prefeitura quer adotar , cada dia meu filho vai ficar com uma profe diferente. Desde que precisei deixar ele lá (na escola), sempre foi a mesma que cuidou dele. Como vou confiar agora? — questiona a metalúrgica Cintya Ribeiro dos Santos, 27 anos, que é mãe de Antonio.
O menino tem um ano, mas, desde os quatro meses, passa o dia na Escola de Educação Infantil Ana Aurora do Amaral Lisboa II, no bairro Cinquentenário.
Cintya lamenta ter perdido uma semana de trabalho. Porém, garante que fará coro junto à mobilização das educadoras.
— No primeiro dia (segunda-feira), eu consegui um atestado. No outro, paguei uma babá, mas não tenho condições para bancar mais esse gasto. Nos outros três, eu fiquei em casa com meu filho. Não tenho o que fazer, mas estou do lado das professoras. É um direito delas. O meu desejo é de que tudo se resolva o mais rápido possível — confia.
A mudança repentina na rotina também trouxe impactos para a família da vendedora Cassiana Rodrigues, 24, que precisou faltar alguns dias no trabalho. Segundo ela, o aprendizado do filho Andrigo, de um ano, preocupa. Ele ficava em turno integral na escolinha Alaíde Monteiro, no bairro Pôr do Sol.
— Aqui em casa, eu não consigo fazer tudo no mesmo tempo, daí ele fica bravo e chora bastante. Ele fica irritado, porque estava adaptado com os horários da escola. Só que entendo as professoras e apoio, sim, a luta delas — afirma a mãe.
Ministério Público acompanha o movimento
Caso a greve continue e ameace o início do próximo ano letivo, o Ministério Público (MP) pode intervir para garantir o atendimento às crianças. Conforme a promotora Simone Martini, a entidade observa a situação e espera por um acordo na reunião de hoje.
— Não temos como interferir na questão trabalhista, mas podemos cobrar da prefeitura o atendimento. Estamos esperando para ver o que vai acontecer — aponta.