Radioterapia, quimioterapia, medicamentos agressivos e outros tratamentos inovadores não são os únicos aliados para quem deseja vencer o câncer. Manter-se de bom humor e alto astral são comportamentos simples, porém importantes para que a imunidade permaneça alta. Por entender o tamanho da dificuldade que é manter-se feliz mesmo quando o corpo é trapaceado pela doença, a Associação de Apoio a Pessoas com Câncer, a Aapecan de Caxias do Sul, organizou na tarde desta quarta-feira a primeira edição do Baile Azul. Ao remeter para o mês em que o combate ao câncer de próstata é divulgado, o Novembro Azul, a entidade reuniu pessoas com os mais variados tipos de câncer para um momento que em nada lembra sofrimento.
— Hoje a regra é não falar de doença aqui. Nós só queremos celebrar a vida — ensinava Odali Maria Pistore, 65 anos, vitoriosa de cinco tipos de câncer.
Era pouco mais de 13h quando dona Odali sentou na recepção da Aapecan e já batia ansiosa o solado da bota de salto baixo. O baile só começaria às 14h, e ela já cantarolava baixinho músicas como 'Moreninha Linda' ou "Beijinho Doce" . No mês passado, dona Odali também foi entusiasta da primeira edição do Baile Rosa, que celebrou o Outubro Rosa, também na Aapecan. Descreve como a "melhor coisa que eles inventaram". Se no mês anterior a decoração era rosada, na tarde de ontem, o azul tomou conta do salão. Os balões, faixas e outros enfeites foram pendurados pelo carpinteiro Amadeo Cardoso, 65 anos. Ele passou a frequentar a entidade após ter câncer na laringe, o que obrigou o aposentado a retirar as cordas vocais. Ele se comunica por meio de um aparelho eletrônico usado em casos de perda total da voz - mas nem isso impediu que ele convidasse mulheres para dançar.
— Fico bem feliz quando tem esses bailes, e me sinto útil por ajudar aqui. Hoje vou arrumar alguém para dançar — confessa.
As cores azuis que ornamentavam o salão tinham como papel transmitir o alerta para os cuidados da saúde masculina, dentro da proposta do Novembro Azul. O aposentado Henrique Mario Lopes, 60 anos, sabe bem que visitar o médico com frequência é fundamental, ainda mais depois dos 50 anos. Esta foi a idade em que o morador de Farroupilha descobriu o câncer de próstata após sentir dificuldade para urinar. O diagnóstico assusta, concorda Lopes, mas é necessário para manter a qualidade de vida:
_ O quanto antes você procurar o médico, melhor. Tem gente que tem preconceito e machismo com os exames, mas é bobagem. Todos nós precisamos fazer para ficar bem.
O baile teve música ao vivo, sorteio de brindes, café da tarde e sorrisos contagiantes. A assistente social Carmen Bernardo diz que ações como esta melhoram a qualidade de vida de pacientes com câncer, e ocorrem com bastante frequência no calendário da entidade.
_ Tem muita vida onde a gente pensa que não existe. Tem paciente que passa a semana tomando morfina, e quando chega no baile, a dor some. Se ele se sentir feliz e bem, o corpo responderá melhor_opina.