Um barulho estranho interrompeu o tradicional chimarrão da família Kochmann na manhã deste . Era próximo das 9h, e a dona de casa Carmen Maria Kochmann, 50 anos, sorvia o mate na sacada de casa acompanhada do marido e da filha quando percebeu um ruído vindo do alto, em meio à cerração que encobria a Linha Francesa Alta, no interior de Barão, no Vale do Caí. Mesmo sem entender de aeronaves, percebeu que algo não ia bem, o que se confirmou pouco depois com a morte de dois homens na queda de uma pequena aeronave:
— Uma hora eu disse pra minha filha: "Esse troço vai cair!" Ela riu e disse: "Não, mãe". Eu disse: "Sim, o motor está falhando!". Não dava nem pra ver o que era (em razão da neblina), só o barulho.
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Era um trike (lê-se tráik), espécie de triciclo com asas de asa-delta pilotado por Adilson Rauber, 34. Minutos antes, o veículo tinha decolado do Morro Tico-Tico, bairro de Bom Princípio, distante dali aproximadamente 20 quilômetros. No banco do passageiro estava Amauri José Rockenbach, 52, que havia adquirido o passeio por R$ 100.
Em questão de segundos, o momento de lazer dos Kochmann se transformou em tensão quando a aeronave começou a perder altitude.
— Ele conseguiu se reerguer, foi ali por cima do morro (apontando para o terreno ao lado) e meu marido falou: "Agora ele conseguiu, ele foi embora". Naquilo, ele deu a volta, veio por cima do mato de eucalipto e meu esposo correu para ver o que era o barulho. Naquilo ali já deu aquele estouro e meu marido correu para o outro lado da casa e nós corremos de volta. Daí minha filha começou a gritar achando que tivesse batido na casa pelo estouro que deu. Nisso nós voltamos e vimos que tinha batido ali e já pegou fogo na hora. Deu para ouvir que ele ia cair. Veio voando pedaços, terra por cima de mim e da minha filha — relata Carmen, ao narrar os momentos que precederam ao acidente.
O pedreiro José Vanderlei Direngs, 41, e a costureira Laci Maria Assmann, 36, que também saboreavam um chimarrão na casa vizinha à de Carmen correram para ver o que era. Com baldes e mangueira, as famílias ajudaram a apagar as chamas que tomaram conta da aeronave e dos corpos.
— Quando chegamos, só vimos que tinha um deles (Amauri) com o rosto pegando fogo e começamos a apagar. Daí vimos que tinha mais um corpo (do piloto, em meio às ferragens) — lembra Direngs.
_ Quando ele saiu da cerração, vi ele vindo com as asas fechadas para cima. Eu disse: "vai cair!" — conta Laci.
O autônomo Nelton Paulo Rockenbach, 45, diz que o irmão Amauri tinha os passeios aéreos como hobby nas manhãs de domingo. Cunhado de Rockenbach, o agricultor Luiz Antônio Scherer, 46, diz que ele teria voado no lugar de outro passageiro que não compareceu para a decolagem no horário reservado. Morador do Morro Tico-Tico, Scherer diz que Rauber já havia decolado pelo menos outras três vezes na manhã de ontem com outros passageiros.
Motorista de uma fábrica de cerâmicas em Bom Princípio, Amauri era natural de Curitiba (PR) e deixa mulher e dois filhos adultos. A reportagem não conseguiu contato com familiares de Rauber, nascido em Cândido Godoi.
As causas do acidente serão investigadas pelo 5º Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos, órgão da Força Aérea Brasileira (FAB) com sede em Canoas, na Região Metropolitana.