Os devotos do padre João Schiavo que seguem todo dia 27 de cada mês, de ônibus, até o distrito de Fazenda Souza, para visitar a capela onde o religioso está sepultado e participar de uma missa, viviam um momento de euforia ontem à tarde. Era a última vez que eles percorriam os pouco mais de 20 quilômetros entre o centro de Caxias do Sul e o distrito rezando pelo religioso antes de ele ser beatificado. A exatamente um mês da cerimônia que tornará padre Schiavo beato, a comunidade católica do município e, principalmente, de Fazenda Souza, experimenta uma sensação inédita, uma vez que nunca houve uma beatificação na Serra. Relatos de milagres e graças alcançadas estão na ponta da língua de homens e mulheres que dedicam um dia do mês para homenagear a vida e história do padre italiano.
— Essa mobilização e expectativa nos surpreende também. De um ano para cá, depois que se mobilizou esse processo de beatificação, o povo sente fortemente a presença dele. É uma celebração com entusiasmo e alegria, não é clima de fanatismo — explica o padre Geraldo Boniatti, religioso que celebrou a missa de ontem.
Os 30 dias que antecedem a cerimônia de beatificação, agendada para 28 de outubro nos Pavilhões da Festa da Uva, terá programação intensa. Moradores organizam até uma tortelada (jantar com destaque para o tortéi) para cerca de 500 pessoas. A ideia é arrecadar recursos para ajudar a custear a celebração, que será transmitida ao vivo para todo país pela Rede Vida.
— Todos os dias chegam novos fiéis para conhecer a capela, e nós estamos ajudando na venda dos objetos religiosos, camisetas e na cantina. A tortelada é uma iniciativa que une três equipes de fabricantes — revela o aposentado Élio Bleio, que presidente a Associação Leigos Amigos de Murialdo.
O jantar é só uma das iniciativas da comunidade para marcar o mês de outubro. Haverá também cavalgada, pedalada, lançamento de livro e uma festa organizada pelos moradores de Fazenda Souza para o dia após a beatificação. Foi na pequena comunidade que, em 1941, Schiavo fundou o Seminário Josefino, sendo o seu primeiro diretor. Em Fazenda Souza, também criou o primeiro grupo das Irmãs Murialdinas de São José no Brasil.
O clima de orgulho e pertencimento dos moradores que acreditam nos milagres do padre Schiavo é característico de um povo religioso que valoriza a história e convivência com o religioso, acredita o bispo da Diocese de Caxias do Sul, dom Alessandro Ruffinoni. Ainda que a programação completa para o dia da beatificação ainda não esteja definida, sabe-se que dom Alessandro fará papel de cicerone ao representante do Papa Francisco, o cardeal Angelo Amato.
— Além de participar da celebração, queremos que ele conheça o túmulo do padre, em Fazenda Souza, e se der tempo, nosso Santuário de Caravaggio — antecipa o bispo.
A bordo, histórias de fé
O ônibus que leva fiéis até Fazenda Souza mensalmente é organizado há 10 anos pela devota Ana Maria Bernardi. Desde que visitou pela primeira vez o túmulo do padre, ela sentiu que poderia mobilizar mais pessoas que, como ela, sentiam uma energia positiva naquele espaço. Ana Maria também é uma das voluntárias que ajudou na construção da capela em homenagem a Schiavo, inaugurada em 2015. A cada viagem, o ônibus reúne gente com histórias intensas e unidas pelo mesmo protagonista.
— Meu filho e o pai dele sofreram um acidente. O pai morreu, mas meu filho ficou na UTI. Eu coloquei um santinho do padre Schiavo na maca dele, e ele não saiu de perto do meu filho até sair do hospital. Ele está bem, consegue até dirigir, e foi o meu padre que me ajudou. Tenho certeza — conta a aposentada Cleusa Vieira.
Estes devotos trabalham intensamente para divulgar a cerimônia de beatificação. A quantidade de pessoas que assistirá é uma incógnita, conforma a irmã Regina Manica, uma das encarregadas da divulgação.
— Imaginamos que entre 10 mil e 15 mil pessoas participem. Mas temos muito trabalho pela frente. Nós queremos levar o nome dele para que as pessoas o conheçam, participem desta vivência — explica a irmã.
Livro será lançado na segunda-feira
A publicação Rezemos com o Bem-Aventurado Pe. João Schiavo será lançada na 33ª Feira do Livro de Caxias. O organizador da obra, padre Geraldo Boniatti, autografará a obra na próxima segunda-feira, dia 2 de outubro, às 17h.
Além de uma pequena biografia do padre, a publicação traz orações que foram escritas a próprio punho por Schiavo, outras produzidas a partir da inspiração dos escritos deixados por ele e aquelas que ele mais gostava de rezar. Traz ainda pensamentos e breves celebrações em memória ao padre, ressaltando as virtudes e características do religioso como ser próximo de todos, a paixão missionária, sua humildade, ternura e delicadeza, entre outras. O livro será vendido por R$ 5 na banca da Livraria Arco da Velha durante todo o período da feira _ de 29 de setembro a 15 de outubro.
QUEM É
:: João Schiavo nasceu em 8 de julho de 1903, em Vicenza, Itália. Era filho de Luiz e Rosa e tinha oito irmãos. Desde criança desejava ser padre.
:: Em 1917, entrou na Congregação dos Josefinos de Murialdo.
:: Fez noviciado em Volvera e, em 1919, começou a estudar filosofia e teologia. Em 10 de julho de 1927, foi ordenado padre.
:: Em 1931, realizando seu desejo de ser missionário, partiu para o Brasil, chegando em Jaguarão no dia 5 de setembro. Em 25 de novembro, transferiu-se para a comunidade de Ana Rech, em Caxias do Sul, e começou a trabalhar no Colégio Murialdo, onde se dedicada à formação de candidatos para a Congregação dos Josefinos, além de ser professor e diretor da Escola Normal.
:: Em 1935, ele se mudou para Galópolis, onde dirigiu uma escola e uma paróquia.
:: Dois anos depois, voltou a Ana Rech, onde assumiu a direção do Colégio Murialdo e a coordenação dos padres josefinos.
:: Em 1941, fundou o Seminário Josefino de Fazenda Souza, sendo o primeiro diretor. Ainda em Fazenda Souza, em 1954, iniciou o primeiro grupo das Irmãs Murialdinas de São José no Brasil.
:: A partir de 1956, Schiavo passou a morar no Seminário Josefino de Fazenda Souza e a se dedicar à formação das Irmãs Murialdinas de São José. Na comunidade, também fundou a Escola Santa Maria Goretti das Irmãs Murialdinas, onde atuou como diretor e professor.
:: Em 20 de novembro de 1966, foi internado com complicações no fígado causadas por uma hepatite.
:: Morreu às 9h30min de 27 de janeiro de 1967, aos 63 anos, já com fama de santo.
:: Desde sua morte, a sepultura de Schiavo, atualmente no interior de uma capela que leva o seu nome, é local de orações e peregrinações. Ali, todo o dia 27, às 16 horas, é celebrada missa em sua memória.
PROGRAMAÇÃO DE OUTUBRO
Dia 2: lançamento do livro Rezemos com o Bem-Aventurado Pe. João Schiavo, às 17h, no espaço de sessão de autógrafos 1, na Feira do Livro de Caxias do Sul.
Dia 6: jantar com tortelada no salão paroquial de Fazenda Souza. Ingressos a R$ 30 (crianças pagam R$ 15). Informações e ingressos pelo telefone (54) 3267.1188.
Dia 7: Pedalada da Beatificação, com concentração às 12h30min na Marcopolo, unidade Ana Rech. A saída será do estacionamento da Marcopolo com destino à capela, em Fazenda Souza. O percurso terá 13 quilômetros. Na chegada, haverá acolhida, oração e distribuição de frutas.
Dia 21: Cavalgada do Milagre. Horário e local à definir.
Dia 22: início dos encontros de oração com missa às 9h e às 10h30min na capela em Fazenda Souza.
Dias 23, 24, 25, 26 e 27: celebrações na Capela Padre João Schiavo (Fazenda Souza), às 20h.
Dia 28: cerimônia de beatificação nos Pavilhões da Festa da Uva, às 10h. A abertura dos portões será às 8h. Haverá lanches e água no local. O estacionamento será pago e custará R$ 25 (ônibus) e R$ 10 (carro).
Dia 29: Missa de Ação de Graças na capela em Fazenda Souza, às 10h. Após, haverá almoço no salão paroquial de Fazenda Souza. Os ingressos custarão R$ 20 e R$ 10 (crianças). Reservas pelos telefones 99632.4152 (Eliza), 98128.6584 (Mari) e 981484515 (Catarina).