Uma década depois de implantar de forma pioneira o sistema de contêineres de lixo, a prefeitura de Caxias do Sul planeja a expansão da coleta mecanizada, mas esbarra na falta de recursos. Hoje, 4 mil contêineres estão instalados em 1.340 quadras da área central e de bairros próximos, o que alterou paradigmas na cidade. A ideia é estender o serviço para ruas do Colina Sorriso, Bela Vista, Sagrada Família e 1° de Maio, uma ampliação ainda em estudo.
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Desde que a coleta mecanizada foi inaugurada, há exatos 10 anos, houve uma mudança significativa na limpeza das ruas que possuem os equipamentos, já que, por muitos anos, quem andava pela área central da cidade se deparava com lixo no chão e cestos entulhados de resíduos. Com a instalação dos contêineres, a população pode descartar material seletivo e orgânico em qualquer momento do dia ou da noite. Além disso, o sistema também trouxe um avanço: de lá para cá, a quantidade coletada de resíduos recicláveis aumentou em mais de 100% na região central, que podem ser reaproveitados pelas cooperativas de reciclagem.
– A coleta seletiva existe desde a década de 90 em Caxias, mas é nítido o quanto a implantação dos contêineres mudou a estética da cidade. Nos tornamos exemplo de cidade limpa, fazendo com que muitos municípios nos procurem para conhecer a coleta mecanizada. É esse avanço que nos faz querer ampliar. Mas o sistema não é barato e possui especificidades – explica a diretora-presidente da Companhia de Desenvolvimento de Caxias do Sul (Codeca), Amarilda Bortolotto.
Conscientização
Mesmo Caxias ocupando o quinto lugar no ranking dos municípios mais limpos do Brasil, segundo o Índice de Sustentabilidade de Limpeza Urbana de agosto de 2016, ainda há muito que se fazer. Para a diretora do Instituto de Saneamento Ambiental da Universidade de Caxias do Sul, Vania Schneider, qualquer sistema de coleta de lixo passa pela conscientização da população.
– A peça principal quando se fala numa cidade limpa é a pessoa. Então, é preciso que, cada vez mais, a comunidade abrace o meio ambiente, separe o lixo adequadamente e contribua para a limpeza das ruas. Temos um sistema de extrema qualidade, mas o desafio ainda é grande para fazer com que todos entendam a dimensão da coleta seletiva – acredita.
Prejuízo com contêineres queimados já é de R$ 105 mil
Mesmo com um número expressivo de contêineres queimados em Caxias, a Codeca comemora a redução de 44% nos casos registrados no segundo trimestre deste ano. Após a campanha "Preserve os Contêineres – Proteja nosso Patrimônio", direcionada às redes sociais, foram 14 ocorrências entre os meses de abril, maio e junho, contra 25 entre janeiro e março. No total, de 6 de janeiro a 26 de julho deste ano, 48 contêineres de resíduos seletivos foram queimados. Todos os equipamentos tiveram perda total.
Segundo o gerente operacional da instituição, Igor Rossi, a iniciativa serviu para alertar a população de que as perdas não se restringem a valores financeiros, mas também patrimoniais.
– Mesmo com a diminuição de casos, o vandalismo ainda persiste, o que reforça a necessidade de retomarmos, periodicamente, campanhas do gênero. A limpeza urbana é um direito do cidadão, que paga seus impostos. Portanto, ele também é lesado – argumenta.
Somente com os atos de vandalismo contra contêineres de lixo seletivo, a Companhia teve um prejuízo de R$ 105 mil em 2017. A quantia é referente ao um custo unitário de cada equipamento: R$ 2,7 mil.
Lixo ainda se espalha pelas ruas de bairros
Enquanto a área central de Caxias e bairros próximos se mantêm esteticamente limpos, regiões mais distantes ainda permanecem com lixo espalhado pelas ruas. A situação esbarra em dois pontos: a estrutura geográfica de algumas ruas, que não permitem a passagem dos caminhões de coleta mecanizada e nem mesmo a instalação dos contêineres, e a conscientização dos moradores. É fácil encontrar lixões em vários bairros mais afastados, a exemplo da Zona Norte.
– Este é um problema recorrente em várias cidades, porque ainda existe um pensamento individualista. Todo processo de avanço no quesito ambiental passa pela educação das pessoas. Só o caminhão passar recolher o lixo não garante que a cidade fique limpa, o que garante é cada um cumprindo seu papel – acredita a coordenadora dos cursos de Gestão e Engenharia Ambiental do Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), Raquel Finkler.
Moradores dos bairros Vila Ipê, Santa Fé, Belo Horizonte e arredores contestam a forma de coleta na região: o caminhão recolhe os sacos de lixo orgânico três vezes por semana, sempre pela manhã. Já coleta seletiva ocorre nas quartas-feiras e aos sábados, no turno da tarde.
– Quando se fala em lixo nas ruas, é preciso mais investimento. Numa região que concentra um número enorme de habitantes, não ter uma coleta diária é um problema mesmo que eu coloque minha sacola de lixo na rua só no dia que o caminhão vai passar – afirma o morador do bairro Vila Ipê, Eduardo Padilha.
Segundo ele, a falta de contêineres faz com que os sacos de resíduos orgânicos e seletivos se misturem pelas ruas da comunidade. Além disso, o lixo acaba se espalhando porque animais ou até pessoas rasgam as embalagens em busca de comida.
– A periferia sofre com a falta de recursos e estruturas de todo o tipo. A justificativa é sempre que não tem dinheiro ou, como no caso da coleta do lixo, que as ruas são ruins. Considero um descaso não ter apoio do governo em situações como esta – lamenta Padilha.