O Conselho Tutelar defende que o vício em crack em crianças pequenas não é comum em Bento Gonçalves, e que a situação do menino revelada pelo Pioneiro foi causada principalmente pela proximidade da moradia da criança com a dos traficantes. A conselheira Sonia Maria Padilha é a responsável pelo caso desde o ano passado. Candidatou-se ao cargo com o desejo de mudar a realidade da drogadição em Bento a pedido de amigos com filhos envolvidos na droga. Debate-se agora com a situação do pequeno infrator, que já dormiu por vezes no sofá do Conselho Tutelar. Infelizmente, Sônia não acredita que a criança tenha abandonado o vício.
– Sinto que a situação fica pior a cada dia, porque chegam boletins de ocorrência da escola sobre a agressividade e os furtos que ele comete. Nós não temos para onde encaminhá-lo, e a família vive com medo porque há tráfico nas proximidades. Já ouvi a mãe dizer que não confia em nós porque não resolvemos o problema – frustra-se a conselheira.
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O uso de drogas banalizado entre jovens de Bento Gonçalves leva a um cenário jamais imaginável. Uma das escolas com mais relatos de violência fica em um bairro com muitas famílias pobres. Professores relatam que menores de idade costumam se debruçar sobre carros importados que estacionam na vila, em um sinal claro de que há comércio de entorpecentes. Também desconfiam que crianças com idades entre seis e 12 anos escondem cigarros e drogas nas mochilas durante a aula em troca de dinheiro. Sem imaginar o que estão guardando, ao fim da aula, os pequenos entregariam a encomenda a adolescentes, que fariam a venda da droga na saída da escola. Também há suspeita de que pais aliciam os filhos para que vendam o produto dentro de sala de aula. A situação ficou insustentável a ponto da direção contratar um vigilante armado para marcar presença 24 horas por dia. Ainda é insuficiente, porque mesmo com a presença do guarda, há furtos e assaltos no estacionamento do colégio.
– Alguns professores sentem medo até na hora de pegar ônibus para voltar para casa. A gente perde, por ano, uns cinco alunos por causa das drogas. Eles não voltam mais – desabafa um dos membros da direção.