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Num antigo banhado, nos fundos do Estádio Centenário, taxistas de Caxias do Sul construíram um patrimônio que orgulha a classe, gera emprego e tornou-se sinônimo de negócio varejista. É a sede da Cooperativa de Consumo dos Condutores Autônomos de Veículos Rodoviários (Coocaver), forjada com ajuda da prefeitura há 38 anos.
A área pública onde está inserida a cooperativa, no bairro Marechal Floriano, tem 2.241 metros quadrados, equivalente a seis terrenos. Foi cedida pelo município em 1979, mas a permissão de uso vem sendo renovada a cada governo sem que a Coocaver precise pagar o aluguel. O apoio é até hoje considerado providencial.
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Tudo começou com um decreto do prefeito Mansueto de Castro Serafini Filho. Na época, havia um forte racionamento de combustível no país provocado por uma crise no Oriente Médio. Donos de carros tinham direito a poucos litros de gasolina e os postos sequer abriam no final de semana.
Acossados pela escassez, os taxistas procuraram Mansueto e pediram apoio para construir um posto próprio, que evitasse a paralisação da frota em Caxias. Como eles não tinham propriedade, pediram a cedência de área municipal. O prefeito autorizou a ocupação do terreno entre as ruas João Batista Scalabrini, Cristóforo Randon e João Daudt de Oliveira. No decreto, ressalvou que a área deveria atender às necessidades dos taxistas.
Nascia ali a cooperativa que hoje agrega apenas parte da classe: são 431 taxistas associados, ou pouco menos da metade dos cerca de 1 mil motoristas que operam com o transporte individual de passageiros na cidade. De lá para cá, os cooperados ergueram um posto de combustível e lavagem. Há também serviços como borracharia, rádio-táxi e caixa eletrônico. Se antes o atendimento era exclusivo para os taxistas, hoje qualquer pessoa pode abastecer o carro no local. No final de cada ano, o lucro gerado com esses serviços é distribuído entre os cooperados – a média gira em torno de R$ 100 de participação.
Em dezembro passado, o pedido para renovar a cessão do terreno voltou à Câmara de Vereadores. Dos três parlamentares contra a prorrogação, estava Daniel Guerra, já eleito prefeito. Nos primeiros dias após a posse de Guerra, representantes da prefeitura procuraram a Coocaver para entender que contrato é esse que permite a manutenção de um posto sobre área pública.
O presidente da cooperativa, Paulo Alberto Bonetto, apresentou o documento da cessão do imóvel e lembrou que a entidade tenta, há anos, fazer uma proposta para ficar com o terreno.
– Não podemos comprar a terra da prefeitura, a lei não permite. Por isso, oferecemos a permuta por um terreno no loteamento São Lucas (região do Desvio Rizzo). Sabemos que a prefeitura já mencionou a necessidade de construir uma escola por lá. Estamos tentando há anos fazer essa permuta, mas não vai para a frente e não sabemos o porquê.
Bonetto garante que todo o dinheiro obtido no posto é investido na própria cooperativa, o que atenderia a um dos critérios estabelecidos para o uso do bem público.
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