A importância da Campanha do Agasalho é indiscutível. Porém, enquanto a maioria das entidades faz a destinação correta das roupas para famílias pobres, alguns grupos desvirtuam o propósito da ação solidária.
No último final de semana, o Pioneiro flagrou uma feira com roupas doadas pela população no Clube de Mães Esperança, no bairro Santa Fé. No local, era cobrado ingresso de R$ 10 por pessoa que, a partir da taxa, poderia escolher quantas roupas pudesse entre centenas de peças espalhadas pelo espaço.
Sem saber que estava conversando com um repórter, uma mulher que organizava a entrada do público admitiu que os itens foram obtidos por meio da campanha. No entanto, alegou que o valor era requisitado para cobrir os gastos com o transporte das roupas repassadas pela Fundação Caxias até a entidade. A mulher também informou que a feira atrai grande número de pessoas.
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Nesta segunda, o Pioneiro procurou a responsável pelo clube de mães. A mulher, que se identificou apenas como Dalva, admitiu a situação e confirmou que cobrou a entrada para conseguir pagar o frete.
– Eu até procurei freteiros que fizessem de forma gratuita, mas todos queriam cobrar. O clube não tem fundos para isso e também precisamos de ajuda para carregar as sacolas pesadas. Mas os R$ 10 não eram cobrados de todo mundo. Quem eu percebia que não tinha condições entrava de graça – defendeu-se.
Ainda assim, se disse orgulhosa em participar da campanha e reafirmou que são feitas, de fato, doações às famílias da comunidade. Segundo ela, a Fundação Caxias já teria recebido denúncias da venda de roupas no clube e, após investigação, não teria identificado irregularidades.
– Não estou interessada no lucro. E só fiz esse ano porque muitas pessoas me pediram. Faço a obra de Deus com muito prazer e sei que ajudo as pessoas. É caridade que a maioria não faz, tenho certeza de que quase todas as entidades que recebem as roupas vendem ou se aproveitam. Todos põem em brechós, inclusive centros comunitários e outras igrejas – afirma.
"Não incentivamos ou permitimos a venda"
A Fundação Caxias é a responsável por organizar a campanha desde a triagem até a distribuição para entidades cadastradas, que por sua vez, são responsáveis pelos custos de transporte.
Por ser composta de uma equipe pequena e formada por voluntários, a pouca estrutura limita o trabalho de fiscalização do andamento das doações nas comunidades, de acordo com o coordenador da Campanha, Valter Franzosi. Por isso, ele ressalta que a maioria das irregularidades chega por meio de denúncias:
– Não passamos agasalhos para entidades que pensem em vender, inclusive elas assinam termos de compromisso. Não temos como ter o controle de todas, mas caso sejam identificadas irregularidades em alguma, imediatamente ela é desligada da campanha.
Franzosi assegura a seriedade do programa e reitera a importância em manter a credibilidade para obter o sucesso que é registrado anualmente.
– A população sempre contribui enormemente e não podemos pôr em risco uma ação por problemas pontuais, pois pessoas realmente precisam realmente desses agasalhos. Quero respaldar que não incentivamos ou permitimos a venda e que a população denuncie caso presencie isso.
Atualmente, 100 entidades comunitárias estão vinculadas à Campanha do Agasalho. Desse total, 91 já receberam roupas desta edição. Denúncias podem ser feitas por meio do telefone (54) 3223.0528.
Bom exemplo
Um bom exemplo da destinação correta dos agasalhos pode ser conferido no Clube de Mães Jardim Ipê, no Vila Ipê, perto do Clube de Mães Esperança. No último domingo, os voluntários organizaram o repasse de roupas, sem cobrar.
Em reportagem no mês passado, o Pioneiro já havia citado o local como um dos pontos de doação na Zona Norte. Na ocasião, a coordenadora, Maria Clori da Silva, informou que as mulheres do grupo confeccionam roupinhas infantis para destinar à campanha.
– Não é nem gratidão que percebemos no olhar delas, e, sim, a pura necessidade por agasalho. Muitas vezes são famílias bem grandes que precisam – destacou na época.
No final de semana, a filha dela, que acompanhava a ação, Carla Beatriz Silva, ressaltou a importância de ajudar famílias carentes que, segundo ela, são de fato o principal público contemplado. Ainda assim, ela reconheceu que é perceptível que algumas pessoas se aproveitam da campanha, desviando ou comercializando as roupas.
– Algumas infelizmente pegam as roupas para brechó. Conseguimos perceber mas não temos como impedir ou provar, até por ser um local público. Mas ainda assim, a campanha vale a pena por ajudar muita gente necessitada.