O cenário era de guerra em Vila Oliva na manhã desta quinta-feira. O distrito caxiense foi uma das regiões da Serra que mais sofreu com o temporal da madrugada. Até as 10h, os bombeiros confirmavam a morte de Claudina Rech, 78 anos. Ela estava em casa com o marido, na Rua Aquiles Lorandi, quando a residência desabou em função da ventania. Claudina teria sido atingida pelo teto e paredes e morrido na hora. O marido dela estaria em estado grave, já que foi arremessado para fora da casa com a força do vento.
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Até o fim desta manhã, cinco feridos haviam sido confirmados. Três estão no Hospital Pompéia, em Caxias do Sul, em estado grave. Desses, dois estavam soterrados por escombros e um foi arremessado pelo vento. Outros dois pacientes foram atendidos no Pronto-Atendimento 24 horas (Postão). Eles foram socorridos pelo Samu.
Em uma primeira avaliação, os bombeiros acreditam que ao menos 150 casas tenham sido destruídas ou parcialmente danificadas.
– O estrago foi grande, mas ainda não dá para afirmar o que aconteceu. O trabalho agora é de socorro, de auxiliar quem se machucou e perdeu seus bens – diz o major Luiz Carlos Neves, comandante da 1ª Companhia de Bombeiros de Caxias.
Emocionada, a nora de Claudina, Fabiana Ebertz, 39 anos, lamentou pela morte da sogra, mas agradecia por estar viva. A casa onde ela mora com o marido Marcos e os filhos Yuri, 4, e Vagner, 13, ficou destelhada e a família perdeu tudo.
– Eu só rezava. Nunca vi nada parecido. Quando o telhado voou, pensei que íamos morrer. Me agarrei nos meus filhos e rezei – conta.
O casal Waldomiro Rech, 67, e Lurdes Francischetti, 59, afirma que só se salvou por um milagre. A casa que eles moram, na Avenida Gavioli, ficou totalmente destruída com o temporal. Ele conta que era pouco mais de 1h quando começou a ouvir o vento forte. Levantou da cama para olhar para fora quando parte do teto da residência se desprendeu e voou. A mulher acordou neste momento e os dois se trancaram no banheiro.
– Aí eu só rezei. Pensei "chegou a nossa hora". Tinha visto que isso acontecia, mas só pela televisão. Nunca pensei em passar por algo desse porte – lamenta Rech.
Eles moravam há sete anos na casa que foi destruída. Conseguiram salvar algumas peças de roupa, mas só isso. Rech, com os olhos cheios de lágrimas, lamentava a tragédia:
– A gente trabalha uma vida inteira para ter nossas coisinhas que, em segundos, são destruídas. Sei que poderíamos ter morrido é algo muito pior poderia ter acontecido, mas estou muito triste.
O secretário de Obras de Caxias do Sul, Leandro Pavan, e o secretário de Segurança, José Francisco Mallmann, estiveram em Vila Oliva nesta manhã. Com equipes e máquinas da prefeitura, eles auxiliam bombeiros e defesa civil a calcular e ajudar no prejuízo das famílias.
Bombeiros de Caxias, Bento Gonçalves e Farroupilha ajudam as famílias a retirar os entulhos das casas e a colocar lonas nas residências. A maioria dos postes de luz caíram e estão no meio das ruas. Não há energia no distrito desde a madrugada e não há previsão de retorno.
Ainda no início da manhã, André Todeacatto, 34, e Iago Menegotto, 25, ajudaram a retirar os feridos de dentro das casas. Com o auxílio de uma porta, eles transportaram uma senhora que feriu a bacia e não conseguia caminhar. Eles a colocaram em um carro da prefeitura de Caxias, que encontrou uma ambulância no meio do caminho.
– Não íamos conseguir transportar porque ela não conseguia dobrar as pernas. Então pegamos a porta, colocamos a senhora em cima e a tiramos do perigo. Parecia guerra, sabe? – diz Menegotto.
A casa que eles moram com a família quase não sofreu com o temporal. Ainda não se sabe ao certo o que aconteceu em Vila Oliva nesta madrugada, mas moradores acreditam que o distrito tenha sido atingido por um tornado, assim como São Francisco de Paula em março deste ano.
– Só isso explicaria o fato de que algumas casas, que ficam muito próximas das que foram destruídas, nem se mexeram. E se olharmos os pinheiros, eles estão destruídos na parte de cima. Parece que uma roçadeira passou nos galhos – acredita Luiz Francisco Zanchin, 62, que mora em Fazenda Souza, mas foi para Vila Oliva ainda pela manhã para auxiliar.
No meio da manhã, Leandro Portolan ainda contabilizava o prejuízo que terá com a destruição da mecânica que tinha em Vila Oliva. A estrutura foi destruída, mas o pior são os carros dos clientes que foram totalmente danificados com as telhas e materiais que voaram durante o temporal.
– Tem o seguro que vai ajudar, mas não vai pagar tudo. Ainda não acredito do que aconteceu. A estrutura aqui era de ferro e voou. Era ferro, mas pareceu papel – lamentou.
Prefeitura de Caxias recolhe donativos
A prefeitura montou um ponto de arrecadação de donativos no Centro Administrativo (Rua Alfredo Chaves, 1.323, bairro Exposição). Podem ser doados roupas, colchões, alimentos e materiais de construção até as 16h desta sexta. Mais informações pelos telefones (54) 99993.1222, 99145.9884 e 3066.3932.