Os médicos do Sistema Único de Saúde (SUS) em Caxias do Sul aprovaram na noite desta segunda-feira a terceira greve em 2017. A mobilização terá início no dia 17 de abril e, ao contrários das primeiras, será por tempo indeterminado. A paralisação é reflexo do acirramento do mal estar entre o sindicato que representa a categoria e a prefeitura, e ameaça o andamento da saúde pública no município.
Desde que assumiu a gestão, Daniel Guerra (PRB) entrou em rota de colisão com o presidente da entidade, Marlonei dos Santos, e não aceita sentar à mesa diretamente com ele. O prefeito exigiu a nomeação de uma comissão de servidores para tratar do reajuste salarial e da carga horária dos profissionais. Santos, por outro lado, acusa o Executivo de fugir das tratativas.
– É mais fácil negociar com os outros do que com o sindicato (dos médicos). Essa discussão, na verdade, é para fugir da negociação. Ele (Guerra) está ganhando tempo, não sei para que – afirma.
No início de março, prefeitura de Caxias do Sul colocou nas redes sociais um vídeo com a atuação do prefeito como gestor na UBS Esplanada. Ele telefonou para um médico, cobrando-lhe por que não estava trabalhando. A iniciativa buscou colocar em evidência a atitude de Guerra, mas Marlonei disse, na época, que Guerra "foi irresponsável".
O prefeito apresentou no dia 27 de março uma proposta de aumento salarial para os médicos do SUS atrelada a produtividade e qualidade nos atendimentos. Quem a recebeu foi uma comissão de servidores, que levou a sugestão para Marlonei dos Santos, que debateu os pontos com os membros do sindicato. A entidade elaborou uma contraproposta e enviou à prefeitura.
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Ela propôs o sistema de R$ 79,91 por hora trabalhada e rechaçou ter o atendimento avaliado exclusivamente pela população. O Executivo se negou a analisar o documento porque ele estava timbrado com o logotipo do sindicato. O impasse permaneceu até a tarde desta segunda-feira, quando finalmente o secretário da Saúde, Fernando Vivian, recebeu uma comissão de representantes dos médicos e se propôs a levar a contraproposta ao prefeito.
Não houve tempo hábil para exame. Em entrevista concedida ao Pioneiro, Guerra acusou a classe de desrespeitar os caxienses:
– Chegamos ao limite de todos os limites no quesito de proposta que venha a ser feita. Todas (categorias) são importantes, não existe a mais importante. É uma falta de respeito com a cidade o fato dessa comissão não ter dado sequer um retorno (à proposta). Isso demonstra desrespeito não com o prefeito, mas com o povo de Caxias do Sul.
Queda de braço deve seguir na Justiça
A prefeitura chegou a entrar na Justiça para legitimar o Sindicato dos Servidores Municipais de Caxias do Sul (Sindiserv) como única entidade credenciada a negociar pelos médicos. Fernando Vivian explica que um acórdão do Tribunal do Trabalho confirmou o pedido do Executivo:
– Ele (Guerra) não reconhece o Sindicato dos Médicos como representante. Eu apenas não gostaria que na formalização da entrega da documentação (da contraproposta) – o que vejo como algo positivo –, haja um atropelo com a deflagração da greve. Precisamos de tempo para analisar, é um trabalho que envolve diversas secretarias e nem cabe a mim discutir valores.
Marlonei dos Santos, porém, confirma a terceira paralisação e contrapõe que ocorreu uma situação semelhante em 2011. Na época, segundo ele, a Justiça comum acabou sendo o foro adequado para tratar da questão. A queda de braço pode terminar nos tribunais. Enquanto isso, as farpas trocadas entre o sindicato e o Executivo se intensificam e afetam a população.
– Nunca vi esse tipo de greve, que emenda Carnaval e é próxima a feriadões. Para mim, tem outro nome. O povo está vendo e tem dado (os nomes) nas redes sociais. Eu endosso todos – disparou o prefeito.